Sou colecionadora de trilhas sonoras desde a adolescência (na verdade antes, mas tecnicamente dividia a coleção com meu pai) portanto sigo os compositores com mais interesse do que diretores. A música sempre me transportou para a mágica da imaginação, sem precisar das imagens ou palavras de terceiros. Obviamente, entre os melhores dos melhores está o alemão Hans Zimmer, que há quase 40 anos domina Hollywood com melodias e orquestrações inovadoras e memoráveis.
Um dos compositores mais influentes e prolíficos do cinema, tem 11 indicações ao Oscar (e contando), com duas vitórias, Grammys e longas parcerias com pelo menos dois dos diretores mais importantes dos últimos anos: Ridley Scott e Christopher Nolan. Não é exagero chamá-lo de o compositor mais influente do momento, no mesmo patamar das lendas Ennio Morricone e John Williams.

Zimmer é conhecido por sua habilidade em combinar elementos de música eletrônica com orquestrações tradicionais. Ele frequentemente utiliza sintetizadores e instrumentos eletrônicos para criar texturas sonoras únicas, ao mesmo tempo em que incorpora instrumentos orquestrais para dar profundidade e riqueza à música. Isso pode ser observado em trilhas sonoras como a de A Origem (Inception) e Interestelar (Interstellar).
A trilha sonora – hoje com arranjos datados – que o colocou como referência foi a do filme Rain Man, em 1988, onde mesclou flautas e teclados. A originalidade chamou a atenção de Ridley Scott, na época filmando Chuva Negra (Black Rain), com Michael Douglas. Segundo comentou, ficou tão impressionado com o trabalho do músico alemão no filme estrelado por Tom Cruise e Dustin Hoffman (que ganhou o Oscar), que considerou que a música era maior que a história, provocando sua curiosidade sobre o músico.
Hans Zimmer, que vinha de um universo da música new wave, brinca que ficou nervoso e perguntou ao diretor “como poderia evitar ser demitido”, ao que teve como resposta de Ridley “só não me escreva uma sinfonia e sim uma música que seja apropriada para o filme”. Curiosamente, um alemão buscando melodias japonesas (o filme se passa em Osaka e Nova York), mas não assustou aos dois. A trilha sonora de Black Rain não está disponível no Spotify, mas é espetacular.


O filme, hoje praticamente esquecido, foi um sucesso de bilheteria com personagens masculinos bem estereotipados e uma trama clássica de vingança policial. Portanto a grandiosidade da melodia de Zimmer, fácil de memorizar e emocionante, se encaixou com perfeição. Ele inovou ao estabelecer sua assinatura de orquestra eletrônica com tons líricos e pop. Era rock progressivo com música clássica e instrumentos japoneses. Algo que usou nos filmes seguintes (muitos com o irmão de Ridley, Tony Scott).
A guitarra solitária de Thelma & Louise , em 1991, é para mim, até hoje, emocionante, simples e precisa. A trilha de Crimson Tide, em 1996, hoje tem sido menos citada mas é uma das melhores de sua filmografia e rendeu a Zimmer o Grammy de Melhor Trilha Sonora. Dois anos antes, ele já tinha vencido o Oscar com sua lendária e poderosa melodia de O Rei Leão, em 1994, uma trilha sonora madura e completamente distinta no universo da Disney.
O final da década de 1990 veio, para mim, com a obra-prima de Zimmer: Além da Linha Vermelha, composta em 1999 para o filme de retorno de Terrence Malick e que mudou a assinatura do compositor, influeciando todos seus trabalhos desde então.
Segundo o músico, o recluso Malick inverteu o processo usual e pediu que a trilha fosse composta ANTES de começar a rodar. Sem ter as imagens e apenas o conceito em mãos, Zimmer gravou seis horas e meia de música. A clímax do filme, que é quando os soldados dominam a colina que virou o muro mortal para eles, The Journey to the Line, usa quatro acordes em um tema que se repete, com o relógio marcando o tempo até que a grandiosidade se faça inevitável. Usada em trailers e outros filmes, é a base de Piratas do Caribe, A Origem (Inception) ou até mesmo Interestelar.


Já tendo usado canto na trilha de O Príncipe do Egito, em 1998, quando Hans Zimmer assinou a trilha sonora de Gladiador, em 2000, a voz de Lisa Gerrard criou um dos temas mais icônicos do cinema recente. Apesar de não assinar a continuação, só podemos ansiar o momento no filme que o tema for usado.
A parceria com Christopher Nolan, incluindo a franquia Batman até Oppenheimer criou uma dobradinha infalível. A música de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight) é tão marcante quanto a atuação de Heath Ledger como Coringa. E agora, trabalhando na franquia Duna, com Denis Villeneuve, ganhou seu segundo Oscar.
Outro grande destaque na carreira de Hans Zimmer, sem dúvida, é a fraquia dos Piratas do Caribe onde reúne quase todas suas qualidades melódicas, orquestradas, ritmadas e grandiosas. Tecnicamente, o tema dos piratas é de Klaus Badelt, que já tinha trabalhado com Zimmer, mas quando compositor assume a batuta em Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, em 2003, é quase uma humilhação. O tema de amor, o tema para Davy Jones e como usa a canção tema do parque, o que dizer? Ouço sem parar a qualquer momento possível.
Com seu estilo frequentemente descrito como grandioso e emocional, a música de Hans Zimmer mais do que captura a essência de uma cena ou de um personagem, ele transforma a experiência cinematográfica para o espectador, como um crítico definiu perfeitamente: “fornece aos ouvintes o mesmo tipo de escapismo pipoca que o filme fornece aos espectadores”. Um gênio. Um deus!
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