Se você leu pelo menos O Senhor dos Anéis, ou O Hobbit sentiu falta da forte presença musical que está nas páginas escritas por J.R.R. Tolkien. Fora algumas citações, ou as cenas estendidas na versão do diretor, nas duas trilogias as canções compostas pelo autor estão quase ausentes por completo, mas há vários momentos onde Aragorn canta antigas baladas élficas, Bilbo é citado como um grande compositor, os anões têm canções sobre suas antigas minas, os rohirrim amam épicos de batalha melancólicos e até mesmo goblins cantam. No entanto, silêncio foi o que mais encontramos nas telas.

Essa é uma diferença na série Anéis do Poder, onde o compositor Bear McCreary – desde a primeira temporada – vem presenteando os mais puristas com várias canções importantes. Há alguns anos, J.A. Bayona, produtor e diretor da série da Amazon, disse ao Den of Geek que “há um… senso óbvio de musicalidade quando você lê os livros” e que ele fez questão de resgatar. Isso demanda que muitos dos atores saibam segurar notas e sejam afinados!
Na trilogia de Peter Jackson, ouvimos os Hobbits cantando, mas as canções Elficas ficaram nas vozes de Enya e Elizabeth Fraser na Sociedade do Anel, em Duas Torres a melodia inesquecível na voz de Isabel Bayrakdarian e O Retorno do Rei temos a voz de Renée Flemming sem esquecer a canção vencedora do Oscar, com Annie Lennox. Talvez a cena mais marcante tenha sido justamente no terceiro filme, na voz de Billy Boyd com The Edge of the Night.
Em compensação, na série, já ouvimos várias vezes o elenco cantar, como Sophia Nomvete e Megan Richards. O destaque na segunda temporada é a canção Golden Leaves na voz de Benjamin Walker, que interpreta o Rei Gil-galad. E qual a relevâncias das canções no universo pensado por Tolkien?
Para o autor, as canções são primordiais na narrativa porque trazem a profundidade cultural e histórica no mundo incrível que criou, assim como ajudam a construir as personagens. Ajudam com a emoção e o ambiente do momento também.
Eu confesso que quando li O Senhor dos Anéis pela primeira vez comecei a pular as páginas de canções de Gandalf, até que reconheci que não poderia escapar delas senão perderia a profundidade da história. Queria tanto saber de Frodo destruindo o anel que a ansiedade bateu, mas há sempre uma razão maior para aqueles detalhes naquele momento: valeu voltar e me redimir.
As canções pensadas por Tolkien ajudam a construir a rica tapeçaria cultural da Terra Média porque frequentemente referenciam eventos históricos, lendas e mitologias importantes para a trama, proporcionando uma sensação de profundidade e continuidade. Por exemplo, a canção de Aragorn sobre Beren e Lúthien em A Sociedade do Anel conecta a jornada dos personagens a uma história de amor e sacrifício do passado. Pena que só apareça num relance na versão estendida.
Como mencionei, muitas canções são usadas para desenvolver personagens e revelar aspectos de suas personalidades e histórias. Tom Bombadil, por exemplo, que vai entrar na segunda temporada de Anéis do Poder, é apresentado através de suas canções, que refletem sua natureza alegre e misteriosa. Da mesma forma, as canções dos hobbits revelam muito sobre sua cultura e estilo de vida simples e alegre.

O objetivo mais obvio do uso de música é ajudar a estabelecer o ambiente e a emoção de determinadas cenas. A canção Lamento por Gandalf, do filme A Sociedade do Anel, é uma linda homenagem ao Mago, a despedida dos elfos em Lothlórien evoca um sentimento de melancolia e perda, refletindo a partida iminente dos elfos para Valinor e o fim de uma era. Ao criar essas canções tão detalhadas, Tolkien se espelhou no uso que fazemos de canções e poesias como veículos para manter a tradição oral e a memória coletiva.
Na Terra Média, elas servem a um propósito semelhante, preservando histórias e ensinamentos que são passados de geração em geração. Mas há espaço igualmente para destacar as que têm poder mágico intrínseco, como quando no livro O Silmarilion, Lúthien canta para Morgoth com o objetivo de hipnotizar e encantar. Galadriel, Bilbo e Gandalf, nos livros, também cantam, mas não nos filmes ou na série.
Dessa forma, vale listar quais as canções desempenham um papel importante na construção do mundo e na narrativa do universo de J.R.R. Tolkien. Seguindo os livros:
- Ainulindalë (A Música dos Ainur): Esta é uma das canções mais significativas e está presente no início de O Silmarillion. É a canção da criação do mundo, cantada pelos Ainur sob a direção de Eru Ilúvatar. Através desta música, o mundo de Arda é formado.
- Lament for the Rohirrim: Esta canção é recitada por Aragorn em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres. É um lamento pela glória passada dos Rohirrim e reflete sobre a transitoriedade da vida e da fama.
- The Song of Beren and Lúthien: Esta é uma das histórias mais famosas dentro do legendário de Tolkien e é frequentemente mencionada em O Senhor dos Anéis. Aragorn canta uma parte dela em A Sociedade do Anel. A história de Beren e Lúthien é uma narrativa de amor e sacrifício, e a canção captura a essência desse conto épico.
- The Lay of Leithian: Esta é uma versão mais longa e detalhada da história de Beren e Lúthien. Embora não seja apresentada integralmente em O Senhor dos Anéis, partes dela são mencionadas e têm grande importância no legendário de Tolkien.
- The Song of Durin: Cantada por Gimli em A Sociedade do Anel, esta canção celebra a fundação e a glória do reino anão de Khazad-dûm (Moria). Reflete o orgulho e a saudade dos anões por sua antiga grandeza.
- The Road Goes Ever On: Esta é uma das canções mais recorrentes em O Hobbit e O Senhor dos Anéis. A primeira versão é cantada por Bilbo em O Hobbit, e outras versões aparecem em O Senhor dos Anéis. A canção reflete sobre a jornada contínua e a natureza do caminho que se desdobra diante dos viajantes.
- Lament for Boromir: Esta canção é cantada por Aragorn, Legolas e Gimli em As Duas Torres, após a morte de Boromir. É uma homenagem ao seu valor e sacrifício.
- The Fall of Gil-galad: Cantada por Samwise Gamgee em A Sociedade do Anel, esta canção conta a história do último grande rei dos elfos na Terra Média, que caiu na batalha contra Sauron.

Na série e nos filmes:
1- Aníron: Cantada por Enya, na cena onde é formada A Sociedade do Anel e Aragorn e Arwen lembram de como se apaixonaram, fazendo um pacto de amor.
2- Lament for Gandalf: Cantada por Elizabeth Fraser quando choram por ele em Lórien.
3- Evenstar: O tema de amor de Arwen e Aragorn é inesquecível na voz de Isabel Bayrakdarian e se refere ao colar Evenstar que Arwen presenteia Aragorn nos filmes, como um sinal de que ela abriu mão de sua imortalidade para passar a vida com ele.
4- Edge of the Night ou a Canção de Pippin: um dos momentos mais marcantes da trilogia, graças à magnífica interpretação de Billy Boyd (que volta a cantar na trilogia do Hobbit) que embala o sacrifício de Faramir e a indiferença de seu pai sobre sua morte certa.
5- Golden Leaves: Cantada por Benjamin Walker, já é um dos destaques da saga.
Como ainda estamos começando, é uma lista a ser atualizada.
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