Kaos: Série da Netflix que Moderniza a Mitologia Grega

Estudar a Mitologia Grega sempre me pareceu um desafio dos mais insanos: tanto drama, tantos nomes e tantas reviravoltas. Um novelão que mescla traições, incesto, paixões, vingança e por aí vai. E se tem uma coisa que as gerações mais recentes parecem ter como característica é uma certa preguiça para decifrar temas velhos e complexos, portanto a série Kaos da Netflix nasceu ousada e nos deixa perguntando e agora?

Um projeto que foi encomendado em 2018, a série que só chegou à plataforma em 2024 é bem antenada com a tendência dos últimos anos: a de modernizar e repensar conteúdos clássicos. E nada mais Clássico do que Mitologia Grega!

Criada por Charlie Covell, Kaos é brilhante em muitos momentos, traz um elenco afiado e costura bem as tramas paralelas, restando apenas a ignorância cultural para perder boa parte das piadas ou antecipar o que está por vir. Porque alguns nomes podem claramente ser “comuns”, mas aposto que não lembra de todos os detalhes portanto não pode exatamente reclamar das liberdades artísticas. Se quiser, claro. A proposta na “atualização” da História é realçar que nada realmente mudou: Poder, Religião, Amor, Ódio e Sexo podem mudar destinos de nações assim como inspirar o melhor e o pior em todos (humanos ou Deuses).

Embora a história se passe em uma Creta moderna, foi toda rodada em Sevilha, na Espanha, trazendo cores e um aspecto interessante à série por justamente evitar ficar no estúdio. Nesse cenário, o vaidoso, vingativo e inseguro Zeus (Jeff Goldblum), rei dos deuses, vive no Monte Olimpo com Hera (Janet McTeer), sua rainha, esposa e irmã. Ele se preocupa em manter a ordem das coisas sob a Fé instigando o Medo nos Humanos e, quando isso passa a ser questionado, ele entra na paranóia de uma profecia que alerta para o caos que assolará a Terra quando os Deuses caírem.

Isso é o motivo para começar o desfile mitológico: Poseidon (Cliff Curtis), Rei dos Mares, sempre de sunga e em um super iate de luxo, Dionísio (Nabhaan Rizwan), o jovem Deus que teme Hera e quer agradar ao pai, Zeus, mas no fundo é um garoto rico e entediado, Hades (David Thewlis), oirmão deprê que reina no submundo, por aí vamos.

Quem narra – e trama tudo – é Prometeu (Stephen Dillane), o amigo que Zeus deixou acorrentado no penhasco por ousar questioná-lo. Ele distrai Zeus e comanda o show que, na Terra, tem super pop star Orfeu (Killian Scott), obcecado por sua musa e esposa, Eurídice (Aurora Perrineau). O dos dois se mantém: ela morre e ele vai procurá-la no submundo, com a ajuda de Dionísio. Há muito mais nomes que vão lembrar e reconhecer mas a chave da excelência de Covell é transformar a história de uma família disfuncional em uma comédia dramática que nos faz rir, emocionar e pensar de forma perfeitamente organizada, nos alertando ao Caos que nos faz sentir e que é, na verdade, Liberdade.

Como curiosidade, embora Jeff Goldblum esteja fascinante como Zeus, o original seria Hugh Grant e aposto que seria ainda mais mordaz no papel. Queria ter visto. E sim, a trilha sonora que une David Bowie, ABBA, Yeah yeah Yeahs e tantos outros é um destaque à parte.

São oito episódios com muita história que são densos o suficiente para não ser possível embarcar de uma vez só. A rede de personagens é complexa e nesse ‘prólogo’ algumas mitologias são significativamente alteradas, mas, o mais preocupante, é que a história mal começou e ficamos sem saber como se dará a instalação do tão temido caos. Será que Zeus terá chance?


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