Vida e Legado de Michaela DePrince: Dança, Empoderamento e Superação

O mundo da dança passou por uma sexta-feira 13 com o coração partido em uma das despedidas mais sentidas dos últimos tempos. Michaela Mabinty DePrince, que fez história em sua curta carreira, faleceu repentinamente, aos 29 anos.

A história de vida de Michaela é nada menos do que incrível e virou livro assim como documentário, com ela não apenas se destacando no universo da dança e virando ícone pop, estrelando campanhas de marcas famosas como a Nike, sendo admirada por Madonna e dançado com Beyoncé. Pioneira, humanitária e engajada, ela nasceu na Serra Leoa, ficou órfã por causa da guerra, foi adotada e levada para os Estados Unidos onde descobriu o ballet clássico e virou uma estrela. Ela credita sua força e desenvolvimento artístico à bailarina Magali Messac (ex-ABT) e foi uma das bailarinas a lutar contra o racismo no universo no ballet, ao lado de Ingrid Silva e Misty Copeland.

Nascida como Mabinty Mangura em Kenema, Serra Leoa, em 1995, Michaela DePrince foi enviada para um orfanato aos três anos de idade depois que seus pai morreu lutando na guerra civil e sua mãe morreu de fome no conflito. Abandonada por um tio, a dureza de estar órfã em um país em conflito tinha ainda mais um desafio para a menina: ela tinha vitiligo, uma condição na qual manchas na pele perdem a pigmentação e por isso era vítima de preconceito entre as crianças, que a chamavam de “filha do diabo”. Para piorar, sofreu abusos também como lembrou anos depois em uma entrevista. “Fomos classificadas como números e o número 27 era o menos favorito e esse era o meu número, então recebi a menor quantidade de comida, a menor quantidade de roupas e tudo mais”, revelou.

Seu destino mudou quando foi adotada aos quatro anos por um casal americano e se mudou para os Estados Unidos, mudando de nome e se estabelecendo em Nova Jersey. Ela trouxe consigo uma paixão pelo balé que, segundo ela, nasceu quando ainda estava no orfanato e viu a imagem de uma bailarina na capa de uma revista. “Tudo que consigo lembrar é que ela parecia muito, muito feliz”, disse anos depois, acrescentando que decidiu “se tornar exatamente essa pessoa”.



Seus pais adotivos acolheram o sonho da menina e matricularam Michaela em uma academia. Nascia ali uma das mais destacadas ballerinas da década que encarou de frente o racismo e o preconceito, contrariando a todos que diziam que ela não tinha o tipo de corpo e a cor de pele certos para ser uma bailarina.

Michaela virou notícia quando se tornou a mais jovem dançarina principal do Dance Theatre of Harlem, tendo acabando de se formar no Ensino Médio. Dali, com apenas 17 anos, foi para a Europa e se juntou ao National Ballet em Amsterdã, onde se tornou segunda solista. Em 2017 fez história ao dançar o papel de Myrtha no ballet Giselle, para o English National Ballet. Em 2021 voltou para os Estados Unidos, como segunda solista Boston Ballet.

Sua dança ficou registrada em videos na sua rede social, na sua participação do álbum Lemonade, de Beyoncé, participações em vídeos de outros artitas e também como Swanilda na gravação do ballet Coppelia, em 2021, em um filme que mescla dança e animação.

As memórias da guerra nunca saíram de sua mente e ela se dedicou a ajudar crianças sobreviventes como ela, virando porta-voz da organização War Child. Ela participou do documentário Primeira Posição, e escreveu uma autobiografia, O Voo da Bailarina (Taking Flight), lançado em 2016. Em 2018, Madonna chegou a anunciar que iria dirigir um filme sobre sua vida, mas o projeto ainda não decolou e está apenas com o roteiro desenvolvido. Será que agora acontece?

O motivo da morte de Michaela ainda não foi divulgado, mas o mundo da dança chora pela perda de um dos seus maiores e mais promissores talentos e agentes de mudança. Descanse em Poder.


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