Juro de coração que adoro uma zebra, portanto amo errar nos bolões de premiações. Primeiro, saber o que vem e só confirmar é um tédio. Segundo, me faz repensar minha avaliação se algo que eu não necessariamente considerei incrível ganha. Posso estar errada e mudar de ideia. Adoro.
A terceira coisa que vem atrelada à surpresa é que é sempre bom quando ela acaba sendo justa. No caso do Emmy Awards 2024 isso aconteceu mais de uma vez, deixando a festa levemente menos previsível e uma sugestão de que as choras consumindo conteúdo têm sido válidas.

Efetivamente, O Urso, Bebê Rena e Shogun foram as grandes vitoriosas do ano e mereceram. As surpresas vieram de onde elas não estavam ‘dominando’, onde havia uma centelha de chance para a zebra e bingo! Vieram “surpresas”. A maior delas vem de um julgamento claramente errado da minha parte: Hacks.
A série da HBO foi uma das minhas favoritas e mais elogiadas em 2021 e em 2022, mas, em 2024 não considerei que estivesse mais à altura, embora ainda extremamente bem atuada e afiada. Dito isso, a vitória do trio de showrunners por roteiro foi inesperado para mim, mas ainda válido porque nas temporadas anteriores eles não tinham sido reconhecidos. Premiar Jean Smart para mim é quase obrigatório, algo como com Meryl Streep. Jean não erra no drama ou na comédia e para nos fazer rir ela é ainda melhor.
Assim como todo mundo naquele teatro, a certeza frustrante era de que Ayo Edebiri, que ganhou todos os prêmios esse ano, incluindo o do Sindicato, fosse a vencedora. Afinal TODOS seus colegas de elenco de O Urso que foram indicados, ganharam. Mas o absurdo que é ter O Urso como comédia ia gerar Karma e ele sobrou para Ayo, pelo visto. Jean ganhou seu segundo Emmy como Debora Vance, não deve ser o último. Cheguei a pensar que Hollywood, etarista como é não ia ignorar os talentos mais jovens e se alguém fosse tirar a estatueta de Ayo Edebiri seria Selena Gomez por Only Murders in the Building. Errrrrei!!!!
Hollywood não apenas voltou a premiar a experiência como acabou com a curva vencedora de O Urso, não conseguindo recusar os prêmios de atuação e direção merecidos, mas elegendo Hacks como a melhor série de comédia do ano. Hacks tem mais humor do que O Urso e é sobre uma comediante, mas tampouco é tão divertida como OMIB ou Abbot Elementary. O conceito de comédia está mesmo em tempos dramáticos.


As outras zebras da noite foram as vitórias de Jodie Foster por True Detective e Lamorne Morris por Fargo. Curiosamente dois detetives em meio à tramas complexas. A atuação de Jodie SEMPRE é excepcional, ela não é uma das atrizes mais premiadas e respeitadas de sua geração sem razão. A série derrapou na narrativa, mas foi mais positiva do que outras temporadas da franquia. E parte do acerto está mesmo com o papel e a performance de Jodie.
Há claro, quem defenda que os desempenhos de Naomi Watts em Capote Versus Os Cisnes ou mesmo o de Juno Temple em Fargo fossem mais significativos e eu confesso que fico dividida. O Emmy de Jodie Foster não me incomoda, mas torcia por Juno em uma atuação incrível na temporada de de Fargo onde sua personagem sobrevive à violência doméstica de forma surpreendente. Só que Jodie e Jean estão na categoria de Meryl: não erram.
Já a vitória de Lamorne foi até emocionante. Sua categoria era para mim a mais inconclusiva da noite e em Fargo ele está sensacional. John Hawkes está incrível em True Detective, mas reconhecer o trabalho de Lamorme foi aquela zebra típica da festa, como se o Emmy quisesse confirmar que estávamos acordados.


Os prêmios de Bebê Rena e de Shogun eram esperados e a FX foi malandra em definir que haveria uma segunda tempotada da saga japonesa. Se tivessem que se enfrentar – como parecia que seria o caso – seria uma provável derrota para o conteúdo épico, mas não tivemos que testar. Shogun fez história em número de prêmios, de abrir portas para novos talentos e garantir que grandes produções ainda tenham destaque de público e estatuetas.
E o que podemos concluir? Algumas coisas:
1- A força da HBO, mesmo se chamando MAX (a piada de Jean Smart sobre isso foi hilária) segue para ser respeitada. Suas séries levaram os principais Emmys da noite, numa avassaladora superioridade que reforça a marca e a qualidade de seus produtos.
2- A FX também não está brincando e seus conteúdos densos e grandiosos geram grande conteúdo, grandes séries e papéis, assim como prêmios. Shogun fez história graças à plataforma/Canal.


3- A Netflix está dominando sozinha as categorias típicas de sua plataforma: minisséries. Pelo segundo ano consecutivo (e talvez até mais, preciso conferir), suas séries ganham em tudo quando se trata desse formato menor. Em 2023 foi Treta, em 2024, Bebê Rena. Acabou canibalizando seu próprio acervo reduzindo as chances do lindo Ripley, mas os prêmios que levou para a série garantiram o reconhecimento básico. Poderia ter tido mais.
4- A Apple TV Plus está chegando para incomodar. Dos seus lançamentos, havia pelo menos cinco séries, incluindo a sempre premiada The Morning Show e agora, Slow Horses. A série de Jennifer Aniston e Reese Witherspoon me parece sempre um tanto superestimada, mas é sucesso. E esse ano, não fosse Shogun, poderia ter saído da sombra de Succession. Reconhecer o grande trabalho de Billy Crudup pode ter parecido zebra, mas não foi.

Vejamos: ele concorria com Tadanobu Asano e Takehiro Hira de Shōgun, dois estrangeiros. Também tinha Jack Lowden por Slow Horses e Jonathan Pryce por The Crown, mas ambos meio que sem mais chance além da indicação porque Slow Horses ainda está “crescendo” e The Crown ficou desgastado por conta dos problemas atuais da Família Real. Havia ainda seus colegas de The Morning Show, Mark Duplass e Jon Hamm, mas Crudup está superior à eles. Eu queria muito a vitória de Tadanobu, mas elogiei barbaramente essa temporada de The Morning Show e ela foi 300% em cima de Billy Crudup. Ele mereceu.


Por isso, fecho o ano de 2024 ainda surpresa comigo mesma de não ter dado o crédito à Hacks que Hollywood deu. Vou rever a temporada para repensar minha primeira análise. Lembrando que Hacks é uma gíria para escritor medíocre, a piada está em mim. É um insulto para escritores e ninguém quer ser um hack! Especialmente com três Emmys! Como deixei passar?
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