Quando a gente fala da maldição de Poltergeist, o clássico filme de terror de 1982, é por conta de uma série de tragédias e estranhos fatos registrados não apenas durante as filmagens, mas depois também. E um dos primeiros fatos apontados como comprovação dessa teoria é a morte da atriz Dominique Dunne, uma das estrelas do filme, aos 22 anos.
Ela foi assassinada pelo namorado, John Sweeney, apenas meses depois do lançamento do clássico de terror, em outubro de 1982, marcando Hollywood e seu pai, o jornalista e escritor Dominick Dunne para sempre. Dominick nunca se conformou como a defesa do assassino conseguiu que Sweeney, que já tinha histórico criminoso, fosse considerado culpado apenas de homicídio culposo por espancar e estrangular a namorada. Ele cumpriu menos de três anos atrás das grades.

“Estou cansado de ser solicitado a chorar por assassinos”, Dunne dizia com frequência. “Perdemos nosso senso de indignação. A partir daí, ele se reinventou como cronista dos grandes casos judiciais, seus artigos sobre O. J. Simpson ficaram históricos, assim como Claus von Bulow, Michael C. Skakel, William Kennedy Smith, Phil Spector e o impeachment do presidente Bill Clinton.
Dunne também passou a ser apresentador do programa “Dominick Dunne’s Power, Privilege and Justice”, no que era então Court TV (hoje TruTV). Obviamente, seus artigos sobre os irmãos Lyle e Erick Menendez foram determinantes contra o argumento da defesa, como vimos na série da Netflix, onde é interpretado por Nathan Lane. E porque seu envolvimento foi tão significativo que há um episódio completo para endereçar sua história.
Dominique era a caçula de Domick e Ellen Dunne, um casal de destaque no mundo do entretenimento e jet set internacional, sonhando com uma carreira de atriz uma vez que tinha um tio diretor e um irmão (Griffin Dunne) ator. Ela começou em 1979, com papéis na TV, mas com Poltergeist, estava entrando no seleto mundo do cinema.
Com o grande sucesso do filme, Dominique estava no elenco para reprisar o papel nas seguintes parcelas da franquia, mas morreu antes do início da produção das sequências.
Em 1981, ela foi apresentada ao subchefe John Thomas Sweeney, que trabalhava em um restaurante famoso em Los Angeles, o Ma Maison. Eles logo foram viver juntos, mas rapidamente também o romance virou pesadelo, por conta dos ciúme e possessividade de Sweeney.
Entre as frequentes brigas, rapidamente com abusos físicos, as marcas eram impossíveis de esconder. Durante uma discussão, meses antes do assassinato, ele arrancou punhados do cabelo da atriz pela raiz, e ela fugiu, mas acabou aceitando o pedido de desculpas. Um mês antes da tragédia, uma cena de filme de terror deveria ter sinalizado que o pior estava por vir.

Durante uma briga, Sweeney agarrou Dominique pela garganta, jogou-a no chão e começou a estrangulá-la. Ela só foi salva porque tinham um hospede com eles e quando ele ouviu “sons altos de engasgo”, correu para o quarto onde ela estava sendo atacada.
Mesmo diante da evidência obvia, Sweeney negou que estava tentando matá-la e pediu que a namorada voltasse para a cama. Apavorada, Dominique fingiu que obedeceria, mas assim que pôde fugiu pela janela do banheiro. Quando Sweeney ouviu o motor do carro, saiu correndo e pulou no capô do carro. Ela parou o carro apenas por tempo suficiente para ele pular do capô e arrancou com carro.
Dominique finalmente terminou o relacionamento, ficando fora de sua casa até que o namorado deixasse o imóvel. Assim que ele se mudou, ela voltou, mudando as chaves da casa. Não foi o suficiente.
Semanas depois, ele voltou a importuná-la. Aparecendo no apartamento e insistindo para entrar. Ela estava acompanhada pelo ator David Packer, ensaiando e só aceitou conversar com Sweeney porque o amigo estava junto. Porém, ela foi para a varanda com Sweeney e pouco depois os dois começaram a discutir e “ouviu estalos, dois gritos e um baque”. Ele imediatamente chamou a polícia, que que só respondeu que o endereço “estava fora da jurisdição deles”. David então ligou para um amigo e disse que se ele fosse encontrado morto, John Sweeney era seu assassino.
Ao sair pelos fundos para encontrar Dominique, David se aproximou da entrada da garagem e viu Sweeney em alguns arbustos próximos, ajoelhado sobre Dunne, gritando para que chamasse a polícia e quando o socorro chegou, ele declarou: “Eu matei minha namorada e tentei me matar.”
Dominique ainda ficou em coma por cinco dias até que o suporte de vida fosse desligado. E se isso já parece trágico, só piora.
Depois de ter confessado, Sweeney passou a se dizer inocente. Ele disse que “não pretendia machucar” Dominique e mentiu, dizendo que os dois tinham se reconciliado e brigavam sobre se casar e ter filhos. No dia do assassinato, segundo ele, a namorada repentinamente mudou de ideia sobre estarem juntos e ele “explodiu e se lançou em direção a ela”. Tudo depois, segundo ele, não lembra mais. Só viu que tinha “as mãos em volta do pescoço dela quando ela não estava respirando mais”. A autópsia comprovou que o estrangulamento durou pelo menos três minutos.
O relato segue com ele alegando que tentou reanimá-la e que depois consumiu dois frascos de comprimidos na tentativa de se matar. Em resumo, não premeditou ou teve malícia, só agiu no “calor da paixão”.

Tudo que ele alegou foi desmentido por testemunhas e policiais, que lembram dele “calmo e controlado” o tempo todo. Os depoimentos das ex-namoradas que foram agredidas não foram incluídos no julgamento, assim como os relatos da mãe da vítima, ou dos amigos que pudessem confirmar a natureza abusiva de Sweeney. Pior ainda, concordou que fossem tratados como “boatos”. Em oito dias o júri absolveu John Sweeney de homicídio de segundo grau, apenas o considerou culpado da acusação menor de homicídio culposo voluntário. A pena foi de três anos atrás das grades. A reação da família foi exatamente como mostrada em Monsters: A História de Lyle e Erick Menendez.
Dominick Dunne manteve um diário durante todo o julgamento de sua filha e seus escritos de diário foram posteriormente publicados em 1984 na Vanity Fair: Justiça: Relato de um pai sobre o julgamento do assassino de sua filha.
Como a série da Netflix mostra muito bem, era importante a presença do jornalista na história. Ele foi um dos principais obstáculos para a defesa dos Menendez. Seu artigo mordaz na Vanity Fair sobre os irmãos, ressaltando todos os relatos de superficialidade e mau comportamento de ambos, atrapalhou a meta que a advogada de defesa tinha, que era estabelecer como a justificativa seria o trauma do abuso sexual.
No final das contas, de alguma forma a série de Ryan Murphy sugere que a condenação dos Menendez foi a resposta de muitas famílias injustiçadas queriam para elas, e a cobertura de Dunne colaborou para isso. Mas, diante de tanto drama, a história de Dominique também merecia ser contada. Os Dunnes passaram anos impedindo que John Sweeney, que trocou de nome depois de anos, fosse esquecido. Mas eventualmente, desistiu.
Quem sabe um dia teremos ele destacado como um monstro?
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