Em The Gilded Age nós acompanhamos as histórias dos ricos, dos empregados e da elite negra em Nova York da virada do século 19. Essa parte da história é protagonizada por Peggy Scott (Denée Brown) e traz uma camada inédita e interessante à série pois ela é o elo de dois universos que mal se falavam no período.
Conhecemos Peggy ainda no piloto, quando ela está na mesma estação de trem da Pensilvânia onde uma pobre e solitária Marian Brooks (Louise Jacobson) está desolada depois de ser roubada e não ter – literalmente – um tostão ou casa, nem mesmo amigos para ajudar. Com pena, Peggy a ajuda e o que seria um momento para nunca mais muda a vida das duas jovens para sempre.

Cheia de segredos (cheguei a cogitar que ela fosse parte do golpe que tinha certeza que Tom Raikes estava dando em Marian), Peggy não era necessariamente simpática ou considerava Marian sua amiga, mas efetivamente com ela conseguiu uma independência necessária para ficar longe de seus pais no Brooklyn.
Peggy na verdade tem mais posses e segurança do que a vulnerável Marian. Ela vem de uma família negra proeminente do Brooklyn, filha de Dorothy (Audra McDonald) e Arthur Scott (John Douglas Thompson). Mas, por hora, prefere trabalhar como secretária da rica Agnes van Rhijn (Christine Baranski).
É que, vamos descobrindo aos poucos, Peggy foi à Pensilvânia atrás de uma pista para localizar seu filho, tirado dela no parto e inicialmente dado como morto. Ela não quer retomar o contato com a família pois seu pai era contrário que Peggy se casasse com Elias Finn, um jovem que trabalhava com ele, mas não tinha perspectivas ou educação. Peggy e Elias fugiram para Filadélfia, onde se casaram, mas ele, de fato, a abandonou logo depois que perderam o filho dos dois.
Peggy e a unidade que representa em The Gilded Age surgiram do desejo do showrunner, Julian Fellowes e da consultora de História, Sonja Warfield, de incluir a perspectiva da sociedade negra no período, o que raramente aparece em filmes ou séries de época.

O sonho de Peggy é ser uma escritora e, por hora, além de secretária, trabalha como jornalista. no The New York Globe, um jornal negro da vida real que abriu em 1887. A importância dessa parte da história não pode ser enfatizada o suficiente. The Gilded Age se passa apenas 15 anos após o fim da Guerra Civil. Há racismo aberto e o estrutural, mas o mais importante é estourar a bolha de só mostrar personagens negros quando o tema tem relação à escravidão. No Norte, havia uma elite negra independente, pessoas com empregos, diplomas, e que eram livres. Algumas de nascimento, mas a maior parte ainda nascidas escravas e livres.
No final da 1ª temporada, Peggy descobre que seu filho está vivo e consegue localizar a família que o adotou, mas na primeira cena da 2ª temporada revelam que a criança morreu de febre. Peggy volta para Nova York e se afunda no trabalho para esquecer a dor. No New York Globe ela se envolve com o diretor da redação, o jornalista T. Thomas Fortune (Sullivan Jones), uma figura histórica real frequentemente chamada de pai do jornalismo negro. Em um episódio, Peggy viajou com Fortune para o Alabama, apesar dos avisos de sua mãe, para relatar o trabalho do Instituto Tuskegee de Booker T. Washington. Lá, uma multidão de linchadores os aterrorizou e eles foram forçados a fugir para salvar suas vidas. No retorno, ao esbarrar com a esposa dele e o filho ainda bebê, Peggy decide deixar o jornal e Thomas.

Na terceira temporada, Peggy não ficará nem sozinha nem abandonada em Nova York, uma vez que a trama terá destaque em Newport e por isso nada menos do cinco novos personagens já foram confirmados. Entre os ‘novos’ rostos teremos Frances Ellen Watkins Harper, a famosa sufragista negra que inspira Peggy a se envolver em sua causa, apesar das opiniões divergentes daqueles ao seu redor. E sim, um novo interesse amoroso para Peggy.
Peggy Scott também conquistou o público por conta de sua atriz, Denée Brown, que se destacou na Broadway por estar no elenco de Hamilton. Peggy é inspirada em figuras históricas pioneiras, como a jornalista Ida B. Wells e a médica Susan McKinney Steward, mas a principal referência é a escritora Julia C. Collins, cujo romance de 1865, The Curse of Caste; or The Slave Bride, é amplamente citado como o primeiro romance escrito por uma mulher afro-americana e abordava temas de identidade racial, casamento inter-racial e as injustiças da escravidão e do racismo. Assim como Peggy, Julia trabalhou como professora e escrevia artigos sobre elevação racial e empoderamento.
E depois de todo sofrimento, estamos prontos para ver Peggy feliz, não é?

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