Já é uma verdade universal em Hollywood que melhor do que ser Batman é ser um antagonista do herói nas telas. Há décadas discutimos os atores que ficam sob a máscara do justiceiro milionário – o atual é Robert Pattinson – mas em geral parecemos lembrar dos vilões ainda mais do que do herói. A estreia da série O Pinguim na plataforma da MAX reforça essa linha de pensamento.
Como sempre, há quem tenha reclamado de muita coisa da série, mas em geral também há a unanimidade dos elogios à Colin Farrell – literalmente irreconhecível por causa da maquiagem – como o antagonista conhecido como Pinguim. Ele aparece no filme de 2022, rapidamente, pois ainda não é o principal rival de Batman (essa posição é de Charada, interpretado por Paul Dano), mas na minissérie da TV, Oswald Chesterfield Cobblepot (o nome verdadeiro do criminoso) é a grande estrela. Sim, lá vamos nós entender a motivação dos vilões para simpatizar com eles.

Inverter simpatias é um processo popular em Hollywood desde o início dos anos 2000 e ter um antagonista raso estraga muito o sucesso da obra. Na TV, os últimos 25 anos tem sido de anti herois como protagonistas em um processo complexo de entender as piores ações tomadas por eles.
O primeiro passo para alcançar esse sucesso é ter um astro carismático. Jack Nicholson surpreendeu o mundo com seu Coringa no filme de Tim Burton, mas foi Heath Ledger que mercidamente ganhou um Oscar póstumo na versão de Christopher Nolan, em 2009. Dentre os vilões de Batman, Pinguim é um dos mais icônicos porque diferente de muitos vilões que têm motivações puramente psicopáticas ou vingativas, o Pinguim é geralmente retratado como um empresário do crime. A série vai nos mostrar como ele chegou lá.
Obviamente todos estranharam quando Colin Farrell foi anunciado para o papel. Imediatamente sabíamos que ele daria a dimensão densa para o papel que vemos no filme e na série, mas fisicamente não poderia estar mais distante. Frequentemente descrito como baixo, corpulento e com um nariz parecido com o de um pássaro, seria um tanto difícil imaginar o ator – que é considerado bonito – ficar tão feio. Foi onde entrou a maquiagem.
A princípio, o diretor Matt Reeves não queria “perder” o ator em uma pilha de próteses e destacar a a deformidade psicológica ainda mais do que a física, mas acabou cedendo quando viu o que sua equipe conseguia fazer. Os estúdios e críticos estranharam escolher um ator que pode ser galã para deformá-lo a ponto de esquecer que é ele, mas Colin Farrell é dedicado à Arte 100%. E ninguém duvida de suas chances no Emmy 2025 como Melhor Ator.

É importante lembrar que ainda não vemos com monóculo, chapéu-coco ou smoking, e seu guarda-chuva só o protege da chuva, ainda não esconde armas e gadgets. Talvez nunca chegue a essa versão. A relação entre Batman e o Pinguim é complexa. Enquanto muitos vilões veem Batman como um inimigo a ser destruído, o Pinguim frequentemente o vê como um obstáculo aos seus negócios. Ele prefere operar nas sombras, usando subornos e manipulações para manter sua influência, mas não hesita em confrontar Batman quando necessário. Extremamente inteligente e astuto. Ele é um mestre estrategista e um manipulador habilidoso, capaz de planejar crimes complexos e escapar das garras da lei.
Isso tudo está na série O Pinguim onde Oz – ele odeia o apelido que o fará famoso – ainda é menosprezado até por comparsas. Aqui o vemos começando a construir seu império criminoso e temos todas as explicações de como sobreviveu marcado pelo bullying devido à sua aparência peculiar, justamente o que o motiva a buscar poder e respeito.
Pinguim já foi retratado de várias maneiras na TV, cinema e quadrinhos. Desde a versão mais caricata e cômica de Burgess Meredith na série de TV dos anos 60, o trágico Danny DeVito na versão de Burton até a interpretação mais sombria e realista de Robin Lord Taylor na série Gotham, o personagem evoluiu, mas sempre manteve suas características essenciais. Com Colin Farrell promete virar lendário.
Pinguim, que começa como um capanga e ascende ao poder através de uma combinação de inteligência, crueldade e sorte. E para isso, ele se espelha nos mafiosos mais icônicos da cultura pop, de Scarface à Poderoso Chefão, com toques de Sopranos. A proposta é mais um drama policial do que uma história de quadrinhos.

No primeiro episódio Colin Farrell tira nosso fôlego em alternar ódio reprimido, covardia e violência que se alternam em questões de segundos. Aqui, “Oz”, como é mais conhecido, ainda é um mafioso de nível médio que vê a oportunidade de virar o jogo depois de matar seu chefe e o filho dele, decidindo assumir o tráfico de drogas de Gotham City. Seu império será construído em cima. de uma nova droga chamada Bliss, além de subornos, chantagens e assassinatos, claro.
Batman sequer é esperado aparecer ainda, mesmo que citado aqui e ali. O obstáculo maior para ele é a filha do ex-chefe, Sofia Falcone (Cristin Milioti), cuja psicopatia foi identificada e “tratada” no Asilo Arkham, ou seja, só piorou. Astuta, ela já sacou Oz à distância e possivelmente formará com ele uma aliança letal para a cidade.
Oz tem uma relação opressora com sua mãe e acidentalmente elege um comparsa para quem se torna uma figura paterna: Victor (Rhenzy Feliz), um jovem imigrante da parte pobre de Gotham que foi inundada no final do filme de 2022.
Basicamente o piloto nos faz entender um pouco mais as ambições e a determinação do Pinguim, mas é incerto de quanto poderemos nos surpreender em oito episódios. Há um risco de se arrastar. Tudo fica nos ombros de Colin. Será que consegue? Estou na torcida.
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