Robert Smith e a Melancolia em ‘Songs Of A Lost World’

Há 16 anos os fãs do The Cure esperam por novas canções da banda, mas, com toda honestidade, o acervo espetacular de mais de 40 anos na estrada dão à Robert Smith e companhia um lastro confortável onde quem ama sua música, tem bastante para se manter firme esperando que ele abra o cofre.

Robert Smith é perfeccionista. Por isso mesmo saber que finalmente, como ele cantou em ‘maybe someday’, o dia chegou, sabemos que Songs Of A Lost World será incrível. O single, Alone, tem sido a abertura de seus shows (incluindo a que fizeram no Brasil em dezembro de 2023), uma canção que demosntra o talento e a qualidade intactos de uma das bandas mais icônicas das últimas quatro décadas.

Melancólica como apreciamos, com uma longa introdução que é a assinatura do The Cure, Alone passeia por temas familiares do grupo: angústia do passar do tempo, o isolamento, e a desilusão. Taciturno como no auge, grandiosa e emocionante, ela é emocionante no tom certo.

Quando Robert Smith avisa que This is the end of every song that we sing, ele está fazendo uma citação do poema Dregs, de Ernest Dowson, que explora a melancolia e o desencanto com a vida e o amor. Através de imagens vívidas e metáforas, Dowson expressa a dor de um amor perdido e a sensação de que o que resta são apenas os sedimentos amargos de experiências passadas. Ele morreu tragicamente com apenas 32 anos, em 1900, por consequência de tuberculose.

Smith adora citar autores angustiados, de Albert Camus a Ernest Dowson, que, embora de épocas e contextos literários diferentes, compartilham alguns temas e características em suas obras que os tornam comparáveis como Amor e Desilusão; Morte e Mortalidade, e a Exploração do Pessimismo e do Absurdo, tornando suas obras ricas em temas que ressoam com a condição humana. E musicadas pelo sensível The Cure.

No caso particular de Dowson, que foi um poeta, romancista e contista inglês associado ao movimento decadente, ele ficou conhecido por decorrer sobre temas de amor não correspondido, melancolia e a natureza fugaz da vida. Como em Dregs, que se traduz como como “Sedimentos” ou “Resíduos”.

Portanto, com a frase de abertura de Alone sendo This is the end of every song that we sing, Robert Smith está respondendo à Dowson que escreveu This is the end of every song man sings! se referindo que todas as coisas boas e belas, como canções, eventualmente chegam ao fim. Não é de hoje que o compositor lida com a questão de parar, temos praticamente uma playlist onde ele canta que é o fim, que não volta, que passou o prazer. Maybe Someday, do album Blooflowers, de 2000, já tinha sido uma “despedida” e 4:13 Dream, de 2008, fechava com a canção It’s Over.

Talvez estejamos exigindo demais do nosso ídolo ao esperar novas canções a cada poucos anos. Ao longo desses 16 anos sem lançar nada novo, a banda fez turnês espetaculares e jamais decepcionou seus fãs. Lançar um álbum completo de novas canções está nos levando ao delírio. Duas delas, Alone e I Can Never Say Goodbye, que ele escreveu e dedicou ao seu irmão recém falecido.

Para um artista fixado com a mortalidade, a pandemia e o isolamento foram essenciais para inspirá-lo a finalizar as canções que não considerava “prontas”. Estive no show deles (CLARO!) em 2023, ambas novidades sinalizam que amaremos Songs Of A Lost World.

Sobre Alone? É nostalgia na veia. Canta sobre sonhos não realizados, a sensação agridoce do envelhecimento e do isolamento, algo tão recente e já sublimado na nossa memória seletiva apressada. É linda, é emocionante e extremamente bem-vinda. Robert Smith pode se sentir solitário, mas os fãs nunca o deixarão sozinho.


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