A Temporada Sombria de Slow Horses: Análise Completa

Depois de quatro anos convivendo com a frieza e distanciamentos de Jackson Lamb (Gary Oldman) e Diana Tarvener (Kristin Scott Thomas) sobre qualquer um, incluindo as pessoas com quem mais interagem, é de se preocupar quando os dois tentam salvar vidas e terminam a temporada abalados com as que perderam. Portanto é fácil apontar a temporada 4 como a mais sombria e reveladora de todas em Slow Horses.

Para espiões que descartam pessoas como nada, a conta com o passado é longa e significativa, parte dessa contabilidade chegou para David Cartwright (Jonathan Pryce) nos últimos resquícios de sua memória, antes que a senilidade forçasse a River (Jack Lowden) a interná-lo em uma clínica para idosos, partindo os corações de ambos.

Nada na conclusão dessa história é feliz: o terrorista Frank Harkness (Hugo Weaving) descarta seus soldados-filhos sem nenhum arrependimento, tenta escalar River para seu negócio, é preso e no entanto está tranquilo porque sabe que tem as cabeças do MI5 no bolso. Ele ainda vai interferir na vida de seu filho, de quem deturpadamente tem orgulho e ódio ao mesmo tempo.

Seu plano ousado de atentado terrorista contratado paralelo à uma vingança pessoal dá errado quando seu filho e soldado tira a própria vida no início da temporada. Com isso, o atentado fica exposto e Frank passa a ter uma dívida com quem o contratou e ser perseguido pela polícia e pelo MI5. No passado, ele se aproveitou da mãe de River para que David fornecesse armamentos em troca das vidas da filha e do neto. Como David é um elo que o identifica, precisava eliminá-lo. Como River ressalta, o avô hoje está demente e nem lembra de nada, portanto “já se foi”. O problema agora é que Frank admira o filho, estamos longe de termos nos despedido do vilão.

Há muitas perdas ao longo da temporada e todas são duramente sentidas por Lamb, reforçando seu cinismo e desesperança quando percebe que mesmo sendo o melhor e ágil, é impossível proteger as pessoas do pior. Talvez a gota d’água tenha sido a morte de Marcus Longridge tentando salvar os colegas de Slough House. Lamb está cansado de ver as pessoas lutando para fazer a coisa certa e serem vencidos pelo sistema. Ele cobra de Diana um reconhecimento póstumo para Marcus tanto em pensão para a família como histórico no sistema, o que ela nem discute porque também está decepcionada com o mundo, mesmo que ainda prática.

Lamb ficou mais abalado com a morte de Sam Chapman, um agente que era como ele e que quase escapou, mas foi morto a mando de Harkness. Se essa morte vai mudar Lamb, ainda não temos certeza, mas é muito estranho vê-lo genuinamente arrasado.

A grande revelação aqui é a tendência errada de subestimar Claude Whelan (James Callis). O novo chefe da MI5, assim como sua antecessora, tem segredos pessoais que o deixam vulnerável e exatamente como Ingrid Tearney (Sophie Okonedo) antes dele, é implacável se virar questão de sobrevivência. Ele manda “atirar para matar” os terroristas assim como River, aparentemente como casualidade mas também possivelmente para apagar alguma coisa que o coloca em risco. Sério, até Diana tentou impedi-lo e ficou chocada com a ordem dada, sorte é que River realmente é um trapalhão sortudo e mais uma vez escapou.

Diana ficou surpresa com o sangue-frio de Claude neste episódio, mas ainda não sabe o que Frank Harkness deixou na carta de chantagem para o diretor (provavelmente algo além de um histórico com prostitutas que foi revelado mais tarde por outra pessoa).

A cena de despedida de River e David na casa de repouso é emocionante. River só tem ao avô como referência e fonte de afeto, agora está isolado e ciente de sua origem biológica, o que o deixa ainda mais anestesiado. Lamb conseguiu um “bônus operacional” para ele e os pangarés, ainda mantendo com dificuldade a fachada de indiferente, mas ele sabe o que o agente está passando e, ao seu estilo, oferece uma bebida “desde que fique calado”.

É um abraço que apenas Slow Horses pode nos dar: cheio de cinismo e nuances. As sutilezas das interpretações de todos, mas em especial Oldman, Lowden e Pryce nos fazem rir e chorar ao mesmo tempo. A desilusão, a solidão, a empatia e a frustração deles diante dos obstáculos nunca perdem a chance de transparecerem nos olhares e gestos dos atores. David, uma sombra do homem que foi, acha que River o internou para se vingar do segredo sobre Frank, o que aumenta a dor do neto de estar fazendo o melhor para salvar o avô e ao mesmo tempo ter ressentimento sim de nunca ter sido avisado da verdade. E Lamb, que sabe que David foi um homem cruel, também reconhece que foi amoroso o suficiente para salvar e criar o neto como um homem íntegro, algo que nenhum dos dois foi no auge de suas carreiras. Lamb se irrita e ama o idealismo de River, tortuosamente já vinha exercendo sua mentoria sobre o rapaz, mas, ao ver mais vidas perdidas, aprecia a habilidade de sobrevivência dele, silenciosamente ocupando o lugar deixado por David na vida de River. Claro, sem perder seu jeito particular de agir.

Nos reencontraremos em 2025, com mais confusões, explosões e mortes. Já sinto falta!


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