Não é de hoje que o principal componente cômico de Falando a Real (Shrinking) é problemático para mim. A premissa da série é nos fazer rir quando um terapeuta (Jason Seigel), frustrado com a demora do processo terapêutico, decide fazer exatamente o que é “proibido”: sugerir, opinar e se meter nas vidas de seus pacientes. Em outras palavras ele é irresponsável e até criminoso, mas tudo por uma risada nossa. Com tantos problemas de saúde mental ao redor do planeta, como fazer do longo, demorado e relevante trabalho da psicanálise em uma piada?

A Apple TV Plus parece estar se divertindo: antes mesmo de lançar a segunda temporada, que estreou essa semana, já confirmou que haverá uma terceira. A equipe criativa tem títulos relevantes como referência, de Ted Lasso a How I Met Your Mother, mas é decepcionante para mim que tenham sido tão certeiros com o técnico americano e os temas que abordaram na série merecidamente premiada e agora fazem esse desserviço.
O grande susto da temporada de estreia é justamente o quando uma paciente empurra o marido abusivo de cima de um morro justamente seguindo a recomendação de seu psicanalista. Em vez de dar uma curva e “consertar” o caminho, abrimos a temporada com a mulher presa, mas o analista? Solto, sem consequências e ainda criando problemas. Em tese, nos fazendo rir.
Para ser justa, Jimmy (Seigel) passa por vários problemas pessoais sérios, tendo ficado viúvo com uma filha adolescente e lidando com dificuldade tanto com o luto como com o trabalho. Ele tem um chefe e mentor em Paul (Harrison Ford) que finalmente o confronta pelo crime que está cometendo com seus pacientes. Uma coisa é ser anticonvencional e outra é ser antiético, como é o que Falando a Real (Shrinking) vinha mostrando.

Portanto, pelo menos na abertura, Jimmy está se esforçando para tentar algo diferente, mas dentro dos limites da psicanálise. Sim, fica menos “engraçado”. Uma armadilha criada pelos próprios showrunners.
O que vemos como “técnica excêntrica” passou a ser um vício para Jimmy, será a parte central de sua evolução. O resto do elenco, embora entrosado, não têm muita função. Mas é impossível de assistir? De forma alguma. Mas alguém na Apple está precisando de muita terapia. Freud explica investir nessa loucura…
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