A dramática e verdadeira história que inspirou a de Sofia Falcone

A poucos episódios do fim de Pinguim, já é fato que Sofia Falcone Gigante (Kristin Miliotti) é a estrela da série de igual para Oz (Colin Farrell). E para quem ainda não sabe, sua história trágica nos quadrinhos e nas telas é inspirada em uma história real. A história de Rosemary Kennedy.

A irmã mais nova do presidente americano John F. Kennedy, foi, por muitas décadas, quase um segredo histórico, uma pessoa literalmente escondida do grande público e a família, por orientação dos pais dela, Rose e Joe Kennedy, tentaram apagar todos os detalhes sobre ela. Por que? Porque eles autorizaram uma lobotomia frontal no cérebro de Rosemary, contra a vontade da jovem claro, e com isso, ela perdeu qualquer capacidade de comunicação ou relação com o mundo. A vergonha do que os moveu à cometer esse crime com a própria filha, assim como do que foi a consequência, criou um tabu assustador sobre ela.

Rosemary nasceu com deficiência intelectual, algo que para uma “família perfeita” era visto como um defeito, um que, para Joe, poderia atrapalhar a sua obsessão política. A terceira filha dele com Rose, nasceu em 1918, numa situação dramática onde o parto foi difícil e traumático.

Segundo consta, quando Rose entrou em trabalho de parto, nem o obstetra ou o anestesista estavam disponíveis, e a enfermeira obstétrica foi quem a ajudou, mas esperou o máximo que pôde para que talvez os dois conseguissem chegar. Enquanto esperavam, a recomendação foi a de, quando as contrações se tornaram mais frequentes e intensas, que Rose segurasse as pernas unidas para manter à força a cabeça do feto presa no canal do nascimento. O doloroso processo continuou por duas horas e a suspeita é que, ao restringir o fluxo de oxigênio, aumentou a probabilidade de danos cerebrais infantis. Isso porque Rosemary aos 19 anos ainda tinha a capacidade mental de uma criança de 9 anos.

Sem saber como lidar com a menina, que tinha dificuldade de aprendizado, passou por vários internatos, sempre com dificuldade de completar o ano. Não era apenas a deficiência intelectual que eram problemáticas, Rosemary também lutava contra o peso, para manter a estética de beleza que seu pai esperava de todos os Kennedys.

Depois que sua família voltou para os Estados Unidos (Joe era embaixador dos EUA em Londres), em 1940, a vida de Rosemary mudou radicalmente. Com 22 anos, voltou à escola e, como seus tinham 7 a 12 anos, tecnicamente foi apresentada como “professora assistente”. Mas, ela passou a ter comportamento constantemente agressivo e irritado, atacando parentes fisicamente e verbalmente, algo bem diferente da doce menina que todos conheciam até então. Pior ainda, ela mostrou sinais de desejo sexual que eram absolutamente impensáveis para uma “moça de família”.

Ela fugia de casa e um dia, foi encontrada vagando pelas ruas de Washington D.C. na madrugada. Para Joe, apavorado com o risco de escândalo e uma gravidez indesejada da filha, nada estaria fora do limite para “domá-la”. Sua opção foi a de submeter Rosemary a uma lobotomia.

Ainda hoje é de arrepiar que um pai possa ter deliberadamente escolhido essa cirurgia cerebral em uma filha, mas, na época, era um tratamento defendido como “pioneiro” e recomendado para “acalmar permanentemente em pacientes perturbados”. O que é assustador é imaginar o que seria a verdadeira meta da lobotomia quando 80% das pacientes submetidas eram mulheres. O quey aumenta o drama é que os médicos não achavam que o método fosse recomendado para Rosemary Kennedy, afinal, os resultados eram incertos e não havia evidências de que o procedimento curasse a deficiência mental. Nada demoveu Joe Kennedy de sua decisão.

Com apenas 23 anos, no final de novembro de 1941, a jovem foi amarrada a uma mesa de operações no Hospital da Universidade George Washington. Apenas com um anestésico local na cabeça, para que ela pudesse participar verbalmente no procedimento, os orifícios em ambos os templos foram perfurados e suas reações iam sendo monitoradas. Em quatro cortes, Rosemary se tornou incoerente, depois em silêncio.

Como consequência, a “docilidade” de Rosemary veio com ela ficando irremediavelmente sem conseguir andar, falar ou fazer nada sozinha. Internada primeiro por sete anos em uma instalação psiquiátrica, e os outros 57 em um convento, era visitada esporadicamente pelo pai e os irmãos, mas nunca mais foi sequer mencionada por sua mãe por pelo menos 20 anos. Apenas quando Joe foi incapacitado por um derrame que Rose a visitou, mas Rosemary reagiu violentamente no reencontro.

Rosemary morreu em 2005, aos 86 anos. Sua história só tornou pública no final dos anos 1980s, ainda assim, cercada de alguns mistérios. E como essa traumática história foi parar no universo da DC? Através da história de Sofia Falcone.

Sofia era filha do chefão do crime de Gotham, como mostra a série O Pinguim. Já traumatizada pelo aparente suicídio de sua mãe quando ainda tinha menos de 10 anos, Sofia era a favorita de Carmine Falcone (Mark Strong) até que ele suspeita que a filha possa revelar para a polícia que ele era o assassino de mulheres conhecido como O Carrasco.

Mesmo confusa por saber que o pai é um serial killer, Sofia ainda estava tentando defendê-lo quando ele arma para que ela seja presa (como a assassina) e internada em Arkham. Para piorar, lá dentro, a jovem passa por um processo de eletrochoque e de tortura, sem chance de provar sua inocência.

Torturada, agredida e injustiçada, vimos uma Sofia sofrendo para sobreviver em meio à desajustados e sádicos, e mudando radicalmente de personalidade depois do trauma em um grande trabalho de Kristin Miliotti. Embora Sofia, diferentemente de Rosemary, tenha conseguido sobreviver aos choques sem danificar o cérebro, sua psique claramente ficou abalada. O que torna ainda mais apavorante, é saber que a pior parte do pesadelo, era tão próxima da realidade.

Sofia, agora usando o sobrenome de Gigante, matou toda sua família como vingança e agora vem atrás do Pinguim. E não é que estou torcendo ainda mais por ela do que pelo Batman? E você?


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