O Retrato de Dorian Gray: Beleza e Decadência Moral

Uma das obras mais (ainda) modernas e influentes da literatura tem 134 anos e seu impacto, inclusive no cinema, é inegável. Estou falando, claro, de O Retrato de Dorian Gray, o romance de Oscar Wilde publicado em 1890, que discute de forma quase definitiva sobre temas de beleza, juventude e moralidade. A história de Dorian, um jovem que permanece fisicamente jovem e belo enquanto seu retrato envelhece e se deforma com suas ações e vícios, é uma poderosa alegoria sobre as consequências da vaidade e da decadência moral.

O texto simples e brilhante de Wilde certamente estava no auge nessa obra, que faz várias críticas à sociedade e à natureza humana, que são temas universais e atemporais. Desde que o homem é homem, ele fala. devida eterna e mais ainda, de juventude eterna. E aqui, o vaidoso Dorian Gray deseja ter juventude e beleza eternas, algo que ele obtém ao custo de sua alma, com seu retrato envelhecendo e deteriorando em seu lugar. Na era vitoriana, havia uma pressão sobre o comportamento e a aparência ideal, e Wilde questiona a obsessão pela aparência perfeita. Hoje, esse tema ressoa ainda mais com a cultura da juventude e da perfeição estética, intensificada pelas redes sociais e pela busca por padrões impossíveis de beleza.

A situação é perfeita: quando Dorian vê o registro de sua imagem “no auge”, inveja a si mesmo pois jamais poderia ter a mesma aparência para sempre. O que parece ser apenas uma vaidade inconsequente, aos poucos se revela algo mais sinistro.

A juventude é o único bem que vale a pena ter

Dorian Gray em O Retrato de Dorian Gray

O retrato de Dorian é um símbolo da consciência moral, onde suas ações imorais e excessos são refletidos, mesmo que sua aparência permaneça jovem e pura. Wilde desafia a ideia de que as pessoas podem escapar das consequências de seus atos, e questiona a moralidade da época. Nos dias atuais, essa ideia continua sendo relevante, em especial com as Redes Sociais. Em uma sociedade onde muitas vezes se busca prazer e sucesso a qualquer custo, a obra lembra que as escolhas têm impactos profundos, mesmo que não sejam imediatamente visíveis.

Wilde também utiliza o romance para criticar a hipocrisia da sociedade vitoriana, onde as aparências eram mantidas acima de tudo, mas onde havia muita falsidade e repressão moral, uma crítica ainda aplicável pois hipocrisia continua atual. Em tempos em que as pessoas podem construir imagens irreais e superficiais nas redes sociais, há um paralelo com a vida secreta de Dorian, que parece ser perfeito por fora, mas esconde um lado sombrio e corrupto.

A melhor maneira de livrar-se de uma tentação é entregar-se a ela.”
Lorde Henry Wotton em O Retrato de Dorian Gray

Outro ponto que críticos elogiam é que Wilde era um dos principais defensores do movimento estético, pregava que a arte existe por si mesma e não precisa ter uma função moral, mas O Retrato de Dorian Gray questiona a relação entre vida e arte, e o quanto uma pode influenciar a outra. Se olharmos bem, ainda hoje discutimos se a arte tem a função de moralizar, inspirar ou apenas ser bela, o que torna a obra atual em debates sobre liberdade criativa e censura.

No aspecto psicológico, pode se dizer que é uma metáfora sobre Identidade e Dupla Personalidade, uma vez que Dorian leva uma vida dupla: enquanto ele se mostra belo e socialmente respeitável, o retrato acumula as marcas de sua degradação moral e física. Essa dualidade reflete um conflito interno de identidade e autocontrole, temas que continuam presentes na psicologia moderna. Não é a mesma coisa dos “eus” que as pessoas constroem online e offline, e como mantêm diferentes versões de si mesmas?

Que triste é! Eu vou envelhecer, e ficar horrível, e pavoroso. Mas esta imagem permanecerá sempre jovem

Dorian Gray em O Retrato de Dorian Gray

Por isso, mais de cem anos depois, O Retrato de Dorian Gray continua a ser lido e interpretado por seu retrato intenso e sombrio de dilemas humanos fundamentais: vaidade, moralidade, identidade e o desejo de ser aceito. A atemporalidade do romance está justamente em como Wilde mistura esses temas com ironia e crítica social, nos levando a refletir sobre nossa própria sociedade e sobre nós mesmos.

Dorian Gray só existe porque seu autor, Oscar Wilde, tinha um espírito provocador e reflexivo que conseguiu transferir suas idéias em texto preciso que explora o valor da beleza, a natureza da arte, e o dilema moral entre o prazer e a responsabilidade. Ao longo do tempo, Dirian passou a figurar como personagem soturno em séries e filmes de terror, mas o conceito discutido por Wilde – ironicamente – “não envelhece” em Hollywood. Juventude e beleza seguem sendo moeda de troca e metas entre atores e celebridades, alho que A Substância reflete de forma pesada e até sangrenta.

O romance de Oscar Wilde termina com Dorian Gray finalmente confrontando as consequências de sua vida de hedonismo e excessos. Depois de uma série de eventos trágicos, Dorian tenta mudar, buscando a redenção. No entanto, ao ver o estado horrível do seu retrato – que agora reflete todos os seus pecados e a corrupção de sua alma – ele tenta destruir a pintura na esperança de se libertar de seu passado. No entanto, esse ato resulta em sua própria morte, com seu corpo se deteriorando e sua aparência voltando a ser a de um homem idoso e corrompido. A pintura, por outro lado, permanece grotesca, simbolizando a verdadeira natureza de sua alma. Como dizemos: brilhante.

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