Bene Gesserit: As Mulheres Poderosas de Duna:Profecia

Como publicado em CLAUDIA

Em um ano cheio de grandes personagens femininas, chegou a hora de fechar 2024 com uma irmandade que promete ocupar as nossas últimas seis semanas: de 17 de novembro até de 22 de dezembro, com o universo de Duna: Profecia. A série da MAX sempre se posicionou como a que vai contar a origem das Bene Gesserit, a ultra misteriosa ordem religiosa imaginada por Frank Herbert, mas vai além e vai mostrar o período imperialista que é apenas citado nos dois filmes. Sim, soa como um “Game of Thrones no espaço”, mas, mesmo sendo inevitável sempre citar a série fenômeno, está mais do que na hora de buscarmos novas referências. Succession no espaço, talvez? Nah… melhor ficar com GOT.

Tenho enorme expectativa para a série, com a liberdade de não ser especializada nos livros e estar aberta para tudo que vão nos mostrar. Se os puristas reclamaram das liberdades dos filmes de Denis Villeneuve, já deu pra perceber que tem toda a chance de reclamar (e muito) por aqui. Das várias mulheres fortes que vão desfilar na tela, temos que prestar atenção nas duas irmãs: Tula e Valya Harkonnen, interpretadas por Olivia Williams e Emily Watson. Duas grandes atrizes, cinquentonas e que vão mexer com o universo. Vamos lá!

Quem São as Bene Gesserit?

A essa altura, é essencial gravar esse nome, tá? Embora a ordem ainda não tenha esse nome no início da série, essa irmandade feminina (e feminista) é dissimulada e atuante em toda franquia. As Bene Gesserit são treinadas em habilidades físicas e mentais e dominam desde técnicas de autodefesa até manipulação política, mantendo controle sobre seus corpos e mentes em um grau que as permite influenciar diretamente o curso da história. Elas possuem objetivos próprios, buscando a evolução da espécie humana e a criação de um ser superior, o Kwisatz Haderach, através de uma cuidadosa manipulação genética e social.

Feminismo e Controle sobre o Corpo

Em uma sociedade dominada por homens e marcada por estruturas patriarcais, as Bene Gesserit são independentes e trabalham para garantir seu espaço e influência. Sua autonomia sobre seus próprios corpos — escolhendo quando e com quem procriar, e até o sexo dos filhos — se alinha a uma abordagem feminista, mas é também vista com receio e preconceito por aqueles que não entendem ou temem esse controle. Sim, essencialmente, os homens. A proposta de Frank Herbert não era para ser simpática às mulheres, tanto que em muitos momentos elas são efetivamente as antagonistas.

A Representação de Tula e Valya e suas motivações

No universo expandido de Duna, Tula e Valya Harkonnen representam duas figuras fortes dentro das Bene Gesserit e como falei, são apresentadas como antagonistas. Não é impossível ter uma leitura que isso vem do reflexo de uma perspectiva machista, onde mulheres poderosas, quando em oposição, são vistas como rivais ou até mesmo como vilãs, assim, em uma sociedade que constantemente julga e opõe mulheres de poder, elas podem ser vistas como uma representação dessa rivalidade imposta.

Valya, por exemplo, é uma personagem que age ostensivamente de acordo com os interesses das Bene Gesserit, mas sua ambição e lealdade à ordem a fazem parecer fria e calculista, características muitas vezes negativamente atribuídas a mulheres ambiciosas. Esse retrato simplista é uma consequência dos rótulos que desconsideram a complexidade de suas motivações, sendo a principal, vingança para sua família.

Como a Sociedade as Enxerga?

Como são esquisitas e poderosas, as Bene Gesserit são frequentemente vistas com desconfiança e preconceito pelos homens e pelas estruturas de poder do universo de Duna. Elas podem muito mais, mas sua função é a de “adivinha” para auxiliar aos homens a tomar decisões. Ainda assim, a influência delas nos bastidores e seu poder sutil incomodam uma sociedade que busca controlar mulheres ou relegá-las a papéis secundários. Daí a genialidade do plano criado por Valya.

Qual a conexão de Valya Harkonnen com Lady Jessica e Paul Atreides?

Um dos grandes segredos no filme é a ligação de Lady Jessica com os Harkonnen. Só para te situar, caso tenha esquecido ou ainda não saiba, no universo de Duna, Atreides e Harkonnen não se bicam. A origem desse ódio milenar entre eles é inclusive anterior à Duna: Profecia, mas finalmente endereçado em maiores detalhes na série. Portanto, Valya Harkonnen é uma ancestral distante de Paul Atreides, e, por extensão, uma parente indireta de Lady Jessica.

Paul, aliás, existe por conta do plano que Valya vai traçar na série, que é moldar a ordem em suas decisões e influências políticas, contribuindo para a complexa rede de manipulação genética e controle político para criar, o messias, que chamam de Kwisatz Haderach (Paul). Em tese, sabemos, o plano original era para que Paul, na verdade, fosse uma mulher, mas que Lady Jessica escolheu seguir seu próprio caminho ao gerar um filho homem, contrariando as instruções da ordem. Isso é coisa para o filme resolver na próxima etapa.

A visão de Valya sobre o futuro da ordem e suas ambições para o Kwisatz Haderach representam, em certo sentido, o oposto da autonomia e poder que Paul exerce, uma vez que ele agora encarna o risco de um poder que transcende as manipulações da ordem, criando um futuro que Valya e outras Bene Gesserit temem perder de controle. Em Duna: Profecia, veremos que Valya decidiu pelo seu plano movida por uma questão de vingança pessoal e que ela é o oposto de Lady Jessica em tudo.

Impacto da Parentesco

A relação de sangue entre Valya, Paul e Jessica simboliza a ironia e a profundidade do controle genético exercido pelas Bene Gesserit. As rivalidades e conflitos familiares que resultam desse parentesco ressaltam o quão interligadas estão as grandes casas nobres de Duna, mostrando que, em muitos aspectos, elas são prisioneiras de um destino traçado muito antes de seus nascimentos.

Olivia Williams e Emily Watson são vitais para dar profundidade à Tula e Valya Harkonnen. Conhecidas por suas interpretações intensas, já pelo trailer vemos que aumentam a tensão nessa guerra pelo poder.

Tula será a irmã controlada e feroz, leal à Bene Gesserit e, em um momento, precisando tomar decisões controversas. Acompanho o trabalho de Olivia há anos, ela entrou de última hora no elenco, mas será ultra importante. Já Valya é a protagonista e dará à Emily Watson, que brilhou mais recentemente em Chernobyl, a chance de conectar com outras gerações. A ambiguidade da personagem é um desafio que para ela, será fascinante. A habilidade da atriz de expressar emoções contidas e sofrimento silencioso faz de Valya uma figura enigmática, alguém que, mesmo quando parece implacável, sugere uma profundidade humana que vai além das aparências.

A quem podemos comparar Valya Harkonnen?

Até ganhar seu lugar na nossa mente, já posso antecipar algumas personagens às quais vamos comparar Valya, levando em conta outras figuras femininas complexas que exercem poder em sistemas patriarcais e enfrentam julgamentos por isso.

1. Gerri Kellman em Succession

Gerri é uma advogada e executiva da empresa Royco, controlada pela família Roy, em Succession. Assim como Valya, ela é estrategista, reservada e habilidosa no jogo político. Gerri usa seu poder nos bastidores e, apesar de sua competência, é vista com desconfiança e até desrespeito pelos homens ao seu redor. A comparação com Valya destaca o quanto mulheres ambiciosas e influentes podem ser subestimadas e como enfrentam rótulos negativos ao exercer poder.

2. Rhaenyra Targaryen em House of the Dragon

Rhaenyra luta para afirmar seu direito ao trono em uma sociedade que prefere herdeiros homens. Assim como Valya, ela está disposta a quebrar convenções e fazer alianças arriscadas para assegurar seu lugar. Ambas desafiam diretamente a ordem patriarcal e sofrem as consequências, o que exemplifica o impacto da ambição feminina em mundos dominados por homens.

3. Catarina de Médici em The Serpent Queen

Catarina de Médici, de A Rainha Serpente, é outra ótima comparação, até porque muita gente confunde Emily Watson com Samantha Morton. E Rainha Serpente é minha série favorita de 2024, por acaso. Mas vemos na série que Catarina, desde jovem, aprende a manipular as complexas intrigas da corte para manter e aumentar seu poder. Ela é astuta e pragmática, movida tanto pela sobrevivência quanto pela ambição, assim como Valya. Ambas enfrentam uma resistência contínua, sendo julgadas por suas táticas e por sua capacidade de orquestrar alianças.

4. Alicent Hightower em House of the Dragon

Alicent é uma personagem que se torna uma peça central em uma guerra de poder entre famílias. Enquanto luta para proteger sua posição e a de seus filhos, suas ações são muitas vezes percebidas como frias e calculistas. Essa comparação realça o quanto a sociedade julga mulheres que optam por jogar o jogo político, assim como Valya, desumanizando-as por suas decisões estratégicas.

5. Clare Shaw em A Diplomata

Clare é uma agente de inteligência em A Diplomata que sabe jogar o jogo político e não hesita em fazer escolhas difíceis. Sua postura estratégica e o fato de que frequentemente age nas sombras, manipulando as situações para alcançar seus objetivos, lembram Valya. Assim como ela, Clare representa uma mulher que trabalha em sistemas onde sua inteligência e influência são temidas e questionadas.

6. Sofia Falcone em O Pinguim

Sofia, como Valya, é uma personagem que navega em um ambiente dominado por homens, utilizando astúcia e manipulação para se estabelecer. Ela é estrategista, fria quando necessário, e disposta a explorar alianças e rivalidades para avançar seus objetivos. A comparação com Sofia reforça a ideia de mulheres que precisam endurecer para sobreviver e prosperar em contextos violentos e patriarcais. Ambas são vistas com desconfiança e enfrentam julgamentos que questionam sua legitimidade, o que as torna figuras polarizadoras.

7. Cersei Lannister em Game of Thrones

Cersei compartilha com Valya a experiência de operar em uma sociedade brutalmente patriarcal, onde seu poder é sempre contestado. As duas são ferozmente protetoras de seus legados e dispostas a fazer escolhas implacáveis para alcançar seus objetivos. Cersei também representa o tipo de mulher que é vista como uma ameaça justamente por sua ambição e inteligência, características que também definem Valya. A associação com Cersei destaca o papel das expectativas de gênero, mostrando como mulheres ambiciosas são tratadas como vilãs, em vez de serem vistas com a mesma admiração que homens no mesmo papel.

8. Shiv Roy em Succession

Shiv Roy é uma personagem perfeita para comparação com Valya, pois ela é complexa, ambiciosa e constantemente desafiada por ser uma mulher em um ambiente dominado por homens. Assim como Valya, Shiv é julgada por seus familiares e colegas, especialmente quando adota uma postura mais agressiva ou assertiva. A comparação com Shiv destaca o conflito entre desejo de poder e as limitações impostas pelo patriarcado, além de reforçar a questão de como a sociedade espera que mulheres com poder sejam mais “dóceis” ou “éticas” do que homens na mesma posição. Concordam?

Presença Feminina e Resistência

Qualauer série que ressalte o peso da presença feminina na ordem social é interessante. E as Bene Gesserit são tão misteriosas que mesmo sem complexidade, seriam interessantes. Tula e Valya representam mulheres que, apesar das pressões e das expectativas, mantêm sua individualidade e são impulsionadas por um desejo genuíno de proteger a ordem.

Os conflitos internos da ordem Bene Gesserit oferecem uma exploração profunda do que significa ser uma mulher em um ambiente onde o poder feminino é ao mesmo tempo valorizado e temido. Por isso, vamos acompanhar e… torcer por elas? Risos. Estou ansiosa.


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