Por que Arya Stark Pode Renascer nas Séries Spin-Off?

As redes sociais, sempre elas, ficaram em polvorosa com o teaser de uma possível série (ou filme?) com Arya Stark e as aventuras delas à oeste de Westeros. Me vi dando de ombros. Uma série com uma sociopata, gélida, completamente enlouquecida descobrindo um novo continente? Eu passo.

Já me imagino levando pedradas imaginárias, porque no universo de Game of Thrones, Arya Stark sempre foi uma das favoritas e Maisie Williams pode ter tentado, mas não vai apagar a memória dos fãs de seu primeiro e mais importante papel até aqui. Mas Arya, assim como Bran, foi vítima de uma simplificação de roteiro e direção, tirando da personagem toda vivacidade e autenticidade que fizeram dela – potencialmente – uma das melhores da Casa Stark.

O fato de que George R. R. Martin se encontrou com Maisie Williams e celebrou o que pode vir por aí, o que põe Arya Stark à frente de Jon Snow na liderança do pós Game Of Thrones. Isso me entristece porque a meu ver, embora o futuro de Arya sugira um mar de aventuras novas, a história de Jon foi a que terminou de forma insatisfatória e com maior necessidade de uma conclusão. E vastidão por vastidão, mar ou terra, o “verdadeiro Norte” tampouco foi completamente explorado. O potencial seria igual, não?

Ainda assim, os fãs celebram porque a evolução de Arya Stark foi marcada por uma jornada complexa e emocionante, onde ela passa de uma jovem inocente para uma guerreira implacável.

Em oito temporadas, uma menina que se transforma em mulher

Temporada 1

Conhecemos Arya como a filha mais nova de Ned e Catelyn Stark, a que, em oposição à sua irmã Sansa, tem um espírito rebelde e averso às expectativas impostas às jovens nobres. Ela não se interessa pelas habilidades tradicionais, preferindo aprender a lutar e manejar a espada. Ela é muito carinhosa com os irmãos, em especial Jon Snow, e faz com que Ned a compare à Lyanna Stark. Quando Ned é traído e executado em King’s Landing, Arya consegue fugir, mas essa perda muda sua vida e marca o início de sua jornada de vingança e sobrevivência.

Temporada 2

Em fuga e considerada morta, Arya é capturada por soldados Lannister que não a identificam e levada a Harrenhal. Ela está vivendo sob a identidade de um menino, “Arry”, e, para se esconder, sobrevive como copeira justamente para ninguém menos que Twyin Lannister, que gosta dela. Durante seu tempo lá, ela conhece Jaqen H’ghar, um assassino da misteriosa organização dos Homens Sem Rosto. Ele a ajuda a escapar e deixa uma moeda de Braavos para ela, dizendo que ela pode encontrá-lo novamente se assim desejar.

Temporada 3

Arya continua sua fuga pelo território inimigo e se junta temporariamente à Irmandade sem Bandeiras, onde se decepciona ao perceber que a irmandade tem interesses próprios. Mais tarde, ela é capturada por Sandor Clegane, que planeja trocá-la por um resgate. Durante esse tempo, Arya e Sandor criam uma relação complexa. Ela começa a desenvolver um senso de pragmatismo e percebe que o mundo é mais cruel do que imaginava. Ela quase reencontra sua mãe e Rob, mas é barrada na festa de casamento e – por sorte – escapa com vida. Até onde ela sabe, Bran e Rickon foram mortos, portanto agora ela só tem Sansa (a quem odeia) e Jon (que está longe). Seu desejo por vingança intensifica.

Temporada 4

Arya continua sua jornada com Sandor, testemunhando a brutalidade do mundo. Quando chegam ao Vale para encontrar sua tia Lysa, descobrem que ela morreu, frustrando o plano de resgate. É quase um reencontro entre Starks (Sansa estava no local, mas as duas não sabem) e a relação entre Arya e Sandor se intensifica, e ela aprende com ele valiosas lições sobre sobrevivência e brutalidade. No final da temporada, após uma luta, Arya deixa Sandor ferido para morrer e embarca para Braavos, com o objetivo de se juntar aos Homens Sem Rosto.

Temporada 5

Em Braavos, Arya entra para a Casa do Preto e Branco e começa a treinar com os Homens Sem Rosto. Ela aprende sobre o conceito de abandonar sua identidade, uma vez que a organização exige a total anulação do ego. No entanto, ela luta para deixar de lado seu desejo de vingança. Quando Arya desobedece ordens e mata Meryn Trant, um homem em sua lista de vingança, ela é punida ficando temporariamente cega.

Temporada 6

Ainda cega, Arya enfrenta novos desafios em seu treinamento. Ela é eventualmente curada e ganha uma segunda chance com os Homens Sem Rosto. Porém, Arya percebe que nunca poderá abandonar completamente quem é. Ela recusa ser “ninguém” e foge de Braavos, matando a assassina Waif que a perseguia. Arya decide retomar sua lista de vingança e retorna a Westeros, onde executa Walder Frey, vingando o assassinato de sua mãe e irmão.

Temporada 7

Arya segue sua vingança contra os Frey, matando os homens da família com veneno. À caminho de King’s Landing, onde quer matar Cersei Lannister, ela muda de ideia e decide voltar para Winterfell, onde finalmente se reúne com Sansa e Bran. Inicialmente, as irmãs têm desentendimentos, mas acabam formando uma aliança para proteger a família Stark. Juntas, elas desmascaram e executam Littlefinger, que conspirou para separar a família ao longo dos anos.

Temporada 8

Na temporada final, Arya está totalmente integrada à sua identidade de guerreira. Durante a Batalha de Winterfell, ela usa suas habilidades de assassina e surpreende a todos ao ser a responsável por matar o Rei da Noite, acabando com a ameaça dos Caminhantes Brancos. Após a batalha, Arya decide que não se vê como uma dama de Winterfell. Ela tenta ainda matar Cersei, mas Daenerys a impede pois destrói a cidade com Drogon. Preocupada com uma assassina no trono (Arya sabe ler as pessoas como poucos), ela alerta Jon sobre o perigo que corre coroando Danny como Rainha. Quando Jon percebe que ela tem razão, escolhe o amor por sua família e o dever com o povo e mata Daenerys. No final da série, Arya parte em uma jornada de exploração para o oeste de Westeros, em busca do que está além do mapa conhecido.

Meu problema com Arya Stark

Há muitos problemas com Arya Stark, alguns nem sempre de culpa dela mesma. Seu trauma de perder a família brutalmente e querer vingá-los, certamente demandou que deixasse empatia de lado. Impulsiva por boa parte do tempo, Arya foi perdendo sua humanidade (e soando robótica), algo que acho lastimável.

A jornada da personagem foi marcada pela luta entre manter sua identidade e a necessidade de se adaptar a um mundo cruel, de evolui de uma jovem rebelde para uma assassina com propósito, aprendendo com cada experiência. Sou radicalmente contra à opção da série de dar à ela a missão de matar o Knight King. Ela não estava comprometida em nada com essa parte da história, mesmo com habilidade, não houve nenhum prazer em vê-la ter essa vitória e “perder” a grande chance de matar Cersei Lannister, uma promessa igualmente não realizada. Foi apenas pegadinha, não uma virada de roteiro. Além disso, a desilusão com a noite de sexo que teve me fez pensar nela como uma mulher frígida, o oposto da jovem passional que conquistou os fãs. Em suma: falta humanizar Arya para me conectar com ela. Como a vi, era apenas uma sociopata treinada.

Nos livros, outra Arya

A proposta original de Martin era transformar Arya e Jon como um par romântico (são primos, não irmãos), mas mudou de ideia embora nos livros Jon esteja ainda longe de conhecer Daenerys. Nos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, há outras diferenças significativas em termos de desenvolvimento e detalhes e a história de Arya é ainda mais complexa e profunda, nos livros, refletindo o ritmo mais lento e detalhado do texto de Martin.

As diferenças são essas:

Formação e Treinamento

Nos livros, a profundidade do treinamento de Arya com os Homens Sem Rosto é mais detalhada. Em Braavos, ela passa mais tempo aprendendo disfarces, a arte do envenenamento e o controle emocional que caracteriza a Casa do Preto e Branco. O treinamento é mais psicológico e menos focado em habilidades de combate imediato. Na série, sua jornada em Braavos é condensada e mais voltada para a ação.

O Conflito de Identidade

Nos livros, o dilema interno de Arya sobre abrir mão de sua identidade Stark para ser “Ninguém” é mais explorado. Ela constantemente reflete sobre o que isso significa e enfrenta grandes dificuldades para abrir mão de seu passado e de sua lista de vingança. Esse conflito interno é sutilmente apresentado na série, mas é muito mais intenso nos livros, mostrando que ela nunca consegue se libertar totalmente de sua identidade.

Personagens Omitidos

Nos livros, Arya encontra personagens importantes que não aparecem na série, como Lady Coração de Pedra, que é a ressuscitada Catelyn Stark. Arya nunca se encontra diretamente com ela, mas a presença dessa figura vingativa simboliza o preço da vingança para a família Stark. Além disso, seu relacionamento com Sandor Clegane nos livros é mais breve e ambíguo. Após deixá-lo ferido, ela acredita que ele morreu, mas há sinais de que ele sobreviveu.

Relacionamento com os Lobos

Nos livros, Arya tem uma conexão muito mais profunda com seu lobo Nymeria e os lobos selvagens. Ela tem sonhos onde “se torna” Nymeria, liderando uma matilha feroz que aterroriza as Terras Fluviais. Isso simboliza a selvageria e a liberdade que Arya deseja, além de sua conexão mística com sua família e o Norte. Na série, Nymeria aparece apenas em momentos breves, e essa conexão espiritual não é muito explorada.

A Vingança é Mais Gradual

Na série, Arya tem alguns momentos grandiosos de vingança (como a execução de Walder Frey), mas nos livros, sua jornada de vingança é mais lenta e contida. Ela guarda rancores profundos, mas seu tempo em Braavos e seu treinamento tentam prepará-la para abandonar essas emoções. A narrativa sugere que seu desejo de vingança pode ser tanto um propósito quanto um fardo.

O Futuro da Jornada de Arya

Até o ponto mais recente dos livros, Arya ainda está em treinamento em Braavos e ainda não retornou a Westeros. Isso significa que algumas das ações finais de Arya na série (como matar o Rei da Noite e o confronto com Cersei) podem ser exclusivas da série ou abordadas de outra forma nos livros. O destino de Arya permanece em aberto, mas é possível que ela se aproxime de uma resolução diferente para sua jornada pessoal.

Profundidade e Complexidade Emocional

Nos livros, a complexidade emocional de Arya é maior, e suas perdas e traumas são detalhados de forma mais introspectiva. A narrativa de Arya nos livros revela uma jovem que luta entre suas raízes e a brutalidade que adota para sobreviver. A série faz uma boa representação visual de sua transformação, mas os livros oferecem nuances emocionais que mostram as lutas internas de Arya ao lidar com o abandono de sua família e o desejo de vingança.

O Futuro de Arya

A possibilidade de uma série spin-off centrada em Arya Stark sempre despertou interesse entre os fãs de Game of Thrones, principalmente por causa do final da série, onde Arya fica em aberto sua aventura para descobrir o que há “a oeste de Westeros”, um território desconhecido e inexplorado.

Há, reconheço, um apelo mais fácil par desenvolver essa continuação. Arya não tem nenhum apego particular aos seus irmãos, nem mesmo a Rainha do Norte (Sansa) ou Rei dos Seis Reinos (Bran). Com Jon exilado ao Norte, ela está livre para finalmente ser ninguém. Junte-se a isso o grande mistério sobre a área que foi explorar e há elementos infinitos de novas aventuras.

Em Game of Thrones e House of the Dragon, Westeros e Essos já foram bastante desvendados, mas o oeste ainda é um mistério, com mitos e lendas sobre terras inexploradas, perigos e civilizações desconhecidas. Esse enredo poderia dar à série uma vibração de aventura e descoberta, em que Arya encontra novas culturas, ameaças e, quem sabe, novas alianças.



Além disso, como disse, Arya se recusou a ser “ninguém”, mas tampouco voltou a ser uma Stark, essa crise de identidade faz do spin-off uma oportunidade para descobrirmos quem ela realmente é ou será. Ela nunca foi muito adepta da alcatéia, sempre se viu como uma guerreira solitária e sobrevivente. Em uma nova série, ela poderia confrontar esse lado e explorar justamente a mais solitário de sua personalidade, explorar seu relacionamento com a própria identidade, agora que ssua falta de empatia. Ela não precisa mais vingar ninguém, por que não finalmente pertencer a um grupo ou se apaixonar? Sem esquecer que ela traiu os Homens Sem Rosto, ela poderia na verdade ser uma fugitiva dessa organização enigmática.

Queria dizer que até isso me despertaria interesse, mas, se Arya seguir solitária e distante, por que engajar? Para piorar, sem a conclusão de As Crônicas de Gelo e Fogo, sabemos que nada vai ser coerente. A série Game of Thrones foi duramente prejudicada por não ter o material dos livros como base, se nem terminamos bem essa série avançar ainda mais o que os livros não concluíram? Soa armadilha para mim. Sim, a série Snow teria o mesmo problema, mas em GOT o arco de Arya terminou espetacular, o dele não. Em seis episódios poderíamos “resolver” as pendências principais ao passo que viajar com Arya só deixa tudo mais confuso.

Claro que até agora tudo é especulação. A HBO tem investido em outros projetos do universo de Game of Thrones, como House of the Dragon, e há rumores sobre possíveis séries explorando diferentes períodos e personagens, portanto faz sentido pensar em uma série sobre Arya. Pelo menos Maisie Williams – que por um período parecia avessa à idéia – topa o desafio. Como é um dos personagens mais amados da série original, há potencial de ser bem recebida. Meu ceticismo ainda não foi quebrado. Gosto de Arya, mas vê-la rodar o mundo? De novo: eu passo.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário