Desmond Hart: O Rasputin de Duna Profecia

A cada hora a expectativa de que Duna: Profecia cumpra o esperado aumenta. Enquanto dizemos “Game of Thrones do Espaço“, a atriz Jodhi May, que interpreta a Imperatriz Natalya sugere um “Handmand’s Tale do Espaço“, o que soa ainda mais distópico e apurado. E claro, dado ao estrelato e popularidade de Travis Fimmel, sua presença no elenco tem atraído muita especulação, ainda mais que sua personagem não faz parte dos livros (perigo! perigo!).

Travis, como sabemos, gosta de papéis cinzentos. Nem mesmo Ragnar Lothbrok de Vikings poderia ser apontado como um herói perfeito, portanto, quando Desmond Hart é apresentado como vilão em um universo de vilões, é para se dar uma pausa. Ainda mais quando os showrunners apontam para a fonte de inspiração para o personagem, ninguém menos do que o controverso Rasputin.

Antes de tudo: Quem foi Rasputin?

Grigori Yefimovich Rasputin foi um místico russo, figura religiosa controversa e uma das figuras mais enigmáticas da história russa. Ele nasceu em uma pequena vila na Sibéria e ganhou fama como curandeiro e conselheiro espiritual, especialmente no final do período czarista.

Ele se tornou próximo da família imperial russa, os Romanov, principalmente da czarina Alexandra Feodorovna, esposa do czar Nicolau II. Sua influência começou por conta de ter reputação de ser um homem santo capaz de realizar milagres. Como o príncipe herdeiro era muito doente (sofria de hemofilia), os pais dele depositaram toda confiança no estranho homem de hábitos ainda mais fora do costume. Para Alexandra acreditava que Rasputin era enviado por Deus para proteger a dinastia Romanov.

Aos poucos, a influência de Rasputin sobre Alexandra foi vista com grande desconfiança pela nobreza e pela opinião pública. Ele era acusado de se envolver em escândalos morais e políticos, e muitos o consideravam uma ameaça à estabilidade da monarquia. Ele foi assassinado em dezembro de 1916 por um grupo de nobres: envenenado, baleado e, finalmente, jogado em um rio, onde morreu afogado, sua morte foi um reflexo do caos político da Rússia na véspera da Revolução Russa de 1917.

Com o tempo, Rasputin virou um símbolo da decadência e do colapso da dinastia Romanov. Embora sua verdadeira influência política seja debatida por historiadores, ele continua sendo uma figura de fascínio, retratada em livros, filmes e lendas como um personagem misterioso, carismático e ambíguo.

Se Desmond Hart é como Rasputin, temos algumas dicas?

Desmond Hart, como personagem fictício, e Rasputin, figura histórica, oferecem paralelos fascinantes quando comparados, especialmente em um contexto como o de Duna, onde misticismo, poder e manipulação política são centrais.

Rasputin é lembrado como uma figura que misturava espiritualidade, carisma e manipulação, conseguindo influenciar a política da Rússia czarista enquanto permanecia à margem do poder oficial. Essa ambiguidade — um conselheiro espiritual visto como místico e manipulador — ecoa em várias figuras de Duna: Profecia. Se Desmond Hart compartilha traços similares, ele poderia ser visto como alguém que transita entre esferas de poder espiritual e político, assim como Rasputin fez na corte dos Romanov.

Relação com a Política e o Misticismo em Duna: Profecia

O universo de Duna é profundamente enraizado em sistemas de controle que se alimentam de crenças espirituais e de manipulação psicológica. Grupos como as Bene Gesserit dominam precisamente por seu domínio sobre a percepção e a fé. Assim, Desmond Hart, como uma figura “à la Rasputin”, talvez simbolize o poder ambíguo das figuras que operam nos bastidores, desviando o foco de protagonistas visíveis como Paul Atreides, mas influenciando de forma decisiva os rumos dos eventos.

Poder sobre a mente e a fé

Rasputin tinha uma habilidade notória de fascinar e manipular as pessoas, especialmente a família real. Da mesma forma, Desmond Hart poderia ser um personagem com poderes ou habilidades semelhantes às das Bene Gesserit — ou talvez de um tipo alternativo, mais ligado a crenças “populares”. Essa conexão sugere que, em Duna: Profecia, a fé e a espiritualidade não são apenas ferramentas de dominação, mas também armas para aqueles que sabem como usá-las em contextos sociais e políticos.

O que isso sugere sobre Duna: Profecia

Se Hart desempenha um papel similar ao de Rasputin, isso adiciona outra camada à crítica de Herbert sobre o poder. Duna frequentemente alerta sobre o perigo de líderes messiânicos e a vulnerabilidade de sistemas políticos que dependem de carisma e misticismo. Hart como “Rasputin” enfatizaria o tema do poder invisível e da tensão entre o racional e o irracional no controle das massas.

A presença de um “Rasputin” em Duna, personificado em Desmond Hart, reforçaria os paralelos históricos que Frank Herbert incorpora em sua obra. Essa figura seria uma lembrança poderosa de que, enquanto o universo se move em torno de conflitos intergalácticos, é nos bastidores e nas mentes dos indivíduos que as batalhas mais decisivas são travadas.

A ligação com a Imperatriz…

Se Desmond Hart for colocado em um paralelo com Rasputin, é fácil antecipar que a Imperatriz Natalya (Jodhi May) vai desempenhar um papel relacionado ao dele, como a Czarina Alexandra teve com o líder religioso russo. Alexandra Feodorovna é lembrada como uma figura trágica: uma mulher profundamente religiosa e devota à sua família, mas incapaz de compreender as mudanças políticas e sociais que ameaçavam o império. Sua personalidade e suas escolhas, especialmente sua associação com Rasputin, são frequentemente vistas como fatores que contribuíram para o colapso da monarquia russa. Isso não é boa notícia para Duna: Profecia, né? Isso porque se espelharem o real, o posicionamento de ambos assume uma perspectiva fascinante, especialmente considerando as dinâmicas de influência, poder e misticismo.

Isso porque se ele é manipulador, ela pode ser legitimadora. Obviamente, vemos no trailer que Desmond age diretamente no ouvido do Imperador Javicco (Mark Strong), sem a ajuda de Natalya, mas como a Imperatriz não confia nas Bene Gesserit, certamente,vai dar atenção ao que ele diz.

Também seguindo a analogia, Desmond deve operar em zonas cinzentas, representando tanto um conselheiro indispensável quanto um agente de caos, um lembrete constante dos perigos de figuras carismáticas que operam no limiar da política e da fé. Há uma cena de tortura já mencionada que dificilmente será simpática à ele. Isso faz também como Rasputin, que Desmond possa ser visto como uma ameaça ao equilíbrio político tradicional, desafiando as estruturas patriarcais e centralizadas de poder.

A relação entre Desmond e Natalya tem sido omitida nos trailers e entrevistas, mas algumas sugestões são obvias: ter os dois atores dando entrevistas juntos e o amigo de Travis mencionando na premiere sobre a “cena de sexo” de Desmond (sem explicitar com quem, mas é no episódio 4), remete à histórica suspeita de que Rasputin era amante da Czarina Alexandra da Rússia. E Travis avisou que para alcançar seu objetivo, Desmond não vê limites morais ou físicos. Se de fato houver essa ligação, a confiança de Natalya em Desmond poderia levar a consequências imprevisíveis, tanto positivas quanto desastrosas.

A aliança entre os dois, no entanto, parece inevitável porque ambos entendem a ameaça da irmandade e juntos podem representar uma força “orgânica” contra a manipulação sistemática e calculada da irmandade. Juntos, Desmond e Natalya poderiam simbolizar o poder de forças imprevisíveis, que operam fora do controle institucional. Isso os coloca como agentes de transformação ou destruição, desafiando o equilíbrio já precário do universo de Duna. Enquanto as Bene Gesserit e outras instituições tentam moldar o futuro, figuras como Desmond e Natalya podem representar a impossibilidade de controlar completamente as variáveis humanas e espirituais.

Ou seja, dependendo do ponto de vista, Desmond e Natalya podem ser vistos como heróis disruptivos, questionando sistemas opressivos, ou como antagonistas caóticos, cuja influência desestabiliza ainda mais um universo já em crise. Por exemplo, Natalya poderia ser uma mulher que busca escapar das imposições tradicionais, encontrando em Desmond uma forma de quebrar paradigmas — mesmo que isso a coloque em rota de colisão com outras forças dominantes. Mas também, alternativamente, Natalya pode ser “corrompida” pela influência de Desmond, levando a um arco narrativo de ascensão e queda, no qual ela percebe tardiamente os perigos de depender dele.

O que será que teremos? Como protagonistas ou antagonistas, a presença de ambos reforçaria o tema recorrente de Herbert sobre o perigo de confiar cegamente em figuras messiânicas ou sistemas hierárquicos aparentemente inabaláveis.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

2 comentários Adicione o seu

Deixe um comentário