Quando Nosferatu chegar aos cinemas americanos no dia 25 de dezembro, há um peso tão familiar quanto os filmes Natalinos. O paradoxo faz parte de uma tradição de muitas gerações e que remonta a uma combinação de fatores culturais e literários. Embora o Natal seja amplamente associado a alegria e calor familiar, ele também tem um lado sombrio em tradições folclóricas, o que foi explorado em diversos filmes ao longo do tempo.

As Raízes Literárias: Contar histórias de terror no Natal
Antes de o cinema existir, era uma tradição vitoriana contar histórias de fantasmas durante o Natal. Escritores como Charles Dickens popularizaram essa ideia com obras como Um Conto de Natal (1843), que, embora seja uma história de redenção, apresenta elementos assustadores, como os espíritos do Natal. Essa prática criou um elo entre o Natal e o sobrenatural, que mais tarde foi adaptado para o cinema.
E assim que histórias ganharam imagens, ainda mais, Som, juntar os gêneros foi fácil. Os filmes de terror no Natal começaram a surgir na metade do século 20, embora inicialmente fossem sutis. Por exemplo, em 1945, uma antologia de histórias de terror britânica, Dead of Night, incluiu uma narrativa sobre fantasmas no Natal. Mas o exemplo direto de horror ambientado no Natal foi levar o conto de Dickens para o cinema, em várias versões, como a de 1938 e 1951, e nelas os espíritos do Natal ganharam tons assustadores.
A grande virada de combinar o horror com o Natal realmente ganhou força nas décadas de 1970 e 1980, com filmes que misturavam violência gráfica e subversão da festividade. Há 50 anos, em 1974, Black Christmas se estabeleceu como um marco no terror natalino. Dirigido por Bob Clark, o filme é considerado um dos primeiros slashers da história, apresentando um assassino aterrorizando um grupo de mulheres durante o Natal. Dez anos depois, Silent Night, Deadly Night, de 1984, gerou polêmica por retratar um assassino vestido de Papai Noel, chocando muitos espectadores. Ele solidificou o subgênero de terror natalino.
Alguns apontam para um fundo psicológico para essas assocações porque o Natal também é uma época em que pode despertar sentimentos contrastantes — solidão, nostalgia e até melancolia —, que se alinham com o clima de filmes de terror. Além disso, a subversão de uma data tradicionalmente alegre tornou-se atraente para cineastas que queriam explorar o contraste entre luz e escuridão, mas, acima de tudo, o final do ano é uma época lucrativa para lançamentos, com muitas pessoas de férias e indo ao cinema. Lançar filmes intensos ou chocantes durante o Natal garante grande visibilidade.
O antagonista de Cristo fazendo História
A “tradição” deu um passo definitivo no imaginário coletivo quando, em 1973, O Exorcista foi lançado no dia 26 de dezembro, uma “piada” considerada de mau gosto pelos religiosos dado o filme fala de possessão demoníaca.
Dirigido por William Friedkin, a decisão estratégica da Warner Bros. visava capitalizar o período de maior movimento nos cinemas, quando famílias e jovens buscavam entretenimento durante as festas de fim de ano, não exatamente nenhuma alusão religiosa. A escolha gerou controvérsias e debates na época, o que ajudou a atrair ainda mais atenção para o filme que virou um fenômeno cultural, com salas lotadas, e filas enormes mesmo durante as férias.

Histórias de desmaios, vômitos e pessoas saindo das sessões aterrorizadas se tornaram comuns, criando uma aura de mistério e medo em torno de O Exorcista. Essa reação foi amplamente explorada no marketing, claro! Ajudou que críticos se dividiram: alguns elogiaram o filme como uma obra-prima do terror psicológico e religioso, enquanto outros o consideraram sensacionalista. Sou do grupo dos que viram o brilhantismo.
No contexto natalino, o filme foi visto como uma escolha ousada e subversiva. Alguns religiosos chegaram a protestar contra sua exibição, especialmente por sua exploração de temas como possessão demoníaca e a crise de fé, mas o lançamento pós-Natal foi um golpe de mestre. Durante as festas de fim de ano, muitas pessoas estavam em busca de algo para assistir, e a campanha publicitária focada no medo gerou ainda mais interesse. O Exorcista arrecadou mais de 400 milhões de dólares em bilheteria mundial, tornando-se, na época, o filme de terror mais lucrativo da história.
Mais do que isso, a estreia natalina de O Exorcista ajudou a moldar a percepção de que filmes de terror podem se beneficiar do contraste com o espírito da temporada. Ele se tornou um marco na história do cinema, com seu lançamento estratégico sendo lembrado como um movimento ousado e eficaz.
Vampiros fogem da Cruz, mas voam para os cinemas
Em 1992, pelo menos no Brasil, o lançamento de Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola, foi justamente no dia 25 de dezembro. O filme foi um marco no cinema, combinando o terror gótico clássico com uma abordagem visual sofisticada e inovadora e já tinha estreado nos Estados Unidos em novembro, posicionando-se estrategicamente antes da temporada de festas, mas continuando em cartaz durante o Natal, quando alcançou boa parte de seu público global.

A história de amor trágica entre Drácula e Mina (interpretados por Gary Oldman e Winona Ryder) tornou o filme atraente para espectadores buscando mais do que apenas terror, e o visual luxuoso e teatral do filme, com figurinos extravagantes e cenários de tirar o fôlego, deu ao público uma experiência cinematográfica imersiva, que se destacava entre os lançamentos de fim de ano.
Projetado para equilibrar o horror tradicional com um apelo mais universal, o público respondeu bem ao contraste oferecido pelo romance gótico e a atmosfera sombria do filme. As bilheterias arrecadaram mais de 215 milhões de dólares mundialmente, se tornando um sucesso financeiro para a Columbia Pictures. E é nessa cola que agora Nosferatu chega aos cinemas americanos no dia 25, estreando no Brasil uma semana depois. Natal não assusta vampiro!
No final das contas, o lançamento de filmes de terror no Natal é mais do que uma jogada comercial: é uma exploração profunda dos medos humanos, contrastados com o conforto e a alegria da época. Esse choque emocional, aliado a estratégias de marketing inteligentes, criou um subgênero que continua a prosperar. E nós adoramos!
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