Em tantos momentos icônicos do balé O Quebra-Nozes hábum em especial que sempre tira o fôlego do público: o da Valsa das Flores.
É o número final da Suíte do Quebra-Nozes, composta por Tchaikovsky em 1892 e, em geral, antecede o pas de deux da Fada Açucarada e ou inclui outra solista, ou a Clara/Marie. E, como as outras peças do balé, tem uma história interessante. Até porque encerra o Divertissement do segundo ato e sua grandiosidade reflete o clímax festivo da história.

Tchaikovsky tinha uma sensibilidade especial para evocar imagens naturais em sua música, e por isso é frequentemente associada a jardins floridos e à transitoriedade da primavera, mas entre as muitas joias da música clássica, a “Valsa das Flores” ocupa um lugar especial porque é amplamente reconhecida por sua grandiosidade e sofisticação. O que faz dessa valsa uma obra tão atemporal? Vamos explorar algumas de suas curiosidades e características marcantes.
Desafios na composição
Tchaikovsky enfrentou dificuldades criativas durante a composição de O Quebra-Nozes porque inicialmente estava insatisfeito com o projeto e, ironicamente, a Valsa das Flores foi um dos números que mais o animou a seguir em frente.
Embora não seja o número que mais destaca a celesta (esse papel cabe à Dança da Fada Açucarada), ela também faz parte do brilho orquestral geral que Tchaikovsky trouxe para a obra. Ele adorava usar instrumentos que criassem um clima mágico e esse era seu favorito.


Tchaikovsky era mestre em orquestração, e a Valsa das Flores é um ótimo exemplo disso. O uso das harpas na introdução cria uma atmosfera etérea, quase mágica, que reflete a grandiosidade da peça. As cordas e os sopros completam a textura com uma fluidez encantadora.
Embora hoje O Quebra-Nozes seja um clássico mundial, a recepção da estreia em 1892 foi morna. Os críticos consideraram a trama do balé fraca e confusa, mas a música fez toda diferença e a Valsa das Flores, foi amplamente elogiada desde o início.
A coreografia inicial
A primeira coreografia foi desenvolvida por Marius Petipa e Lev Ivanov, e a valsa serviu como pano de fundo para um grandioso pas de deux em grupo. É uma celebração coletiva e um dos ápices do balé.
Considerada uma das valsas mais requintadas já compostas, sua construção melódica e harmônica é frequentemente elogiada por representar um equilíbrio perfeito entre simplicidade e sofisticação.

Com o tempo, a Valsa das Flores transcendeu o balé, sendo amplamente utilizada em comerciais, filmes e até apresentações de patinação artística. Ela também é presença garantida em concertos natalinos ao redor do mundo e aparece em filmes como Fantasia (1940), da Disney, onde ilustra flores dançando em harmonia. Essa adaptação ajudou a consolidar a associação entre a peça e a natureza.
Além disso, ela exemplifica o romantismo russo na música clássica. Tchaikovsky frequentemente se inspirava na riqueza cultural e natural de sua terra natal, e essa peça reflete um senso de beleza universal que ressoa além de qualquer fronteira.
Apesar de não ter sido composta especificamente para o Natal, a associação da “Valsa das Flores” com essa época do ano é inevitável, graças à popularização de O Quebra-Nozes como uma tradição natalina, especialmente nos Estados Unidos.
As diferentes versões de uma única valsa
No balé O Quebra-Nozes, a Valsa das Flores é uma das peças coreográficas mais deslumbrantes, e diferentes produções ao longo da história têm realçado sua beleza de maneiras únicas.
A versão original de Lev Ivanov (1892)
Embora Petipa assine ao lado de Lev Ivanov, historiadores acreditam que Ivanov foi o responsável pela coreografia original e ele criou uma cena para o corpo de baile feminino que reflete a fluidez e o caráter quase etéreo da música. Sua abordagem valorizou os movimentos em ondas e formações geométricas, evocando a imagem de flores desabrochando e dançando ao vento. A delicadeza da coreografia combinava perfeitamente com o lirismo da peça.
A grandiosidade de George Balanchine (1954)
Balanchine, em sua versão para o New York City Ballet, trouxe um senso de teatralidade e precisão técnica à valsa. Ele enfatizou o uso de padrões complexos e simetria, com bailarinas formando círculos e linhas que se movem em perfeita sincronia. Sua coreografia é conhecida por exigir extrema disciplina do corpo de baile, além de transmitir uma sensação de grandeza e festividade.
A sofisticação de Rudolf Nureyev (1968)
Na sua versão para o Royal Ballet, Nureyev deu um toque mais dramático à Valsa das Flores. Ele incluiu solos mais elaborados para algumas bailarinas e introduziu movimentos que reforçam o caráter narrativo, tornando a cena não apenas um espetáculo visual, mas também uma representação emocional do clímax do balé.
O toque contemporâneo de Matthew Bourne (1992)
Matthew Bourne re imaginou O Quebra-Nozes com um olhar contemporâneo e irreverente. Em sua abordagem, a valsa foi transformada em uma sequência cheia de humor e movimento teatral. Embora não siga a tradição clássica, sua interpretação destaca a versatilidade da música e como ela pode ser adaptada a diferentes contextos artísticos.
O estilo exuberante de Yuri Grigorovich (1966)
Na versão para o Balé Bolshoi, Grigorovich ampliou a escala da valsa, enfatizando o virtuosismo do corpo de baile e incluindo saltos espetaculares e sequências que exigem precisão técnica. Sua interpretação é frequentemente descrita como grandiosa e emocional, fiel à tradição russa.

Elementos em comum que tornam as coreografias icônicas
• Formações geométricas: As formações circulares e os movimentos sincronizados refletem o caráter coletivo da valsa.
• Fluidez e leveza: Os passos enfatizam a sensação de flutuar, como se as bailarinas fossem pétalas de flores ao vento.
• Estética visual: Os figurinos, muitas vezes em tons pastéis e inspirados em flores, reforçam a conexão com a natureza evocada pela música.
Essas diferentes interpretações mostram como a “Valsa das Flores” continua sendo uma das cenas mais adaptáveis e icônicas do balé clássico. Veja algumas delas.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
