Por sorte ou porque tinham confiança os roteiristas de Duna: Profecia apostaram na segunda temporada para entregar uma ‘conclusão’ da primeira que respondeu à duas ou três questões, mas deixou muitas outras para o futuro. Em um episódio intenso e dramático, não houve reviravoltas sensacionais, mas certamente terá uma nova chance de nos encantar.

A sucessão e o golpe?
Vamos começar com o pior líder da TV dos últimos tempos? O que ninguém quer? Ou se importa?
Esse cara é Javicco Corrino (Mark Strong). Inseguro e influenciável, seu lance é ficar com a Irmã Francesca (Tula) e deixar o Império se virar. Mas a bene gesserit, uma das mais fiéis e íntima das irmãs Harkonnen, não é quem ele pensa que é.
Francesca faz a ponte entre Javicco e Valya (Emily Watson), como demandado, e é encarregada de matá-lo em seguida. A irmandade quer Inez no trono e o imperador é mais do que descartável, como é extremamente influenciável, já é perigoso. Francesca vacila, mas aceita.
A Imperatriz Natalya (Jodhi May) não quer mais o marido banana tampouco: ela toma o poder do marido e da filha sem pensar duas vezes. Seu conselheiro é Desmond, mas é incerto o grau de intimidade entre eles depois do beijo da semana passada.


Javicco é tão inepto que nós quase imploramos para que um dos lados suceda mais rápido. Ele cai como patinho no plano de Valya, o que irrita ainda mais Desmond, o único que se esforça a manter uma aparência de respeito ao Imperador. Chocado quando percebe como foi usado e humilhado, Javicco confronta Francesca. Ela tem o veneno para eliminá-lo, mas oferece tentar encontrar outra saída (ela realmente gosta dele). O nada esperto Javicco finalmente entende que em nenhum cenário ele será quem pensava ou terá o trono e decide terminar a própria vida. Francesca chora e se desespera, mas Natalya sorrateiramente entra em cena e usa o veneno para eliminar sua rival. Como ela vai lidar com o enteado é tema para segunda temporada. Pela cena, ou será um pacto suicida ou Francesca levará a culpa do “assassinato”.
Desmond Hart redefine o termo “viralizar”
O grande mistério e interesse da série era Desmond Hart, cujas teorias navegaram a Internet por seis semanas. Duas eram certas: ele é filho de Tula (Olivia Williams) e Orry Atreides, mas também foi torturado por ordem de uma figura enigmática que usou máquinas para inserir nele um olho mecânico que espalha o vírus letal que o permite matar quem quer. Ou seja, é meio máquina/meio humano. E o meio é um vírus que Desmond emana e que é letal e rápido, especialmente porque se alimenta do medo. Viralizar nunca foi tão sinistro…
Vamos à ação primeiro: Desmond está cansado de Javicco e quando percebe que vai ser demitido para que as irmãs voltem, chuta o balde e fica ao lado de Natalya.


Ainda buscando a prova final do envolvimento das Bene Gesserit na rebelião, o soldado interroga (sob tortura) Keiran Atreides, que não sabia ou entende o envolvimento das irmãs na história. Desmond provoca que ele, um Atreides, está agindo com as Harkonnens, mas Keiran, que é o filho do único sobrevivente do massacre que Tula promoveu, tem ódio pelos inimigos mas odeia ainda mais Desmond, então fica em silêncio.
Inez tenta libertar o namorado, mas sua mãe a impede e a prende. Quando Valya sabe do fato, usa como vantagem. Ela corre para libertar a princesa (e é obrigada a libertar Keiran também), e quase é pega por Desmond. Theodora se sacrifica para ajudar a fuga.
A perseguição é longa, mas Desmond alcança sua tia (eles não sabem do parentesco) o confronto tem resultados inesperados. Já falo.
O Poder e o Medo de Tula
Com tanta coisa acontececendo, no presente e no passado, é fácil ficar em dúvida quanto ao papel de Tula de ter que ficar na escola, administrando as alunas, enquanto Valya se lança pessoalmente na guerra política. Na relação das irmãs, Valya sempre foi a líder e a temida, mas só quem não prestava atenção via Tula como fraca.
Voltemos na história: Valya estava na escola quando planejou vingar a morte de Griffin e Tula se infiltrou entre os Atreides para matá-los. Na única noite de amor que teve com Orrin, engravidou. Quando ela, ao lado de Kasha e Francesca, testemunha o assassinato de Dorotea, Tula passa a duvidar que Valya possa genuinamente – como oferece – ajudá-la a criar seu filho.


Valya mostrou para suas aliadas o projeto genético criado pela máquina pensante secreta, Anirul, e numa consulta particular elas vêem que todos os sinais apontam para o filho de Tula terá um poder incrível. Na verdade, é a semente para o plano das Bene Gesserit que vai resultar em Paul Atreides, confirmando mais uma teoria. Seja como for, depois de ter visto Valya usar a voz para eliminar sua inimiga, Tula não quer brincar com a sorte. Com a ajuda de Francesca, ela troca o bebê Desmond por um natimorto e manda seu filho para longe com o objetivo que ignorante de sua origem possa ter uma chance de vida feliz. É preciso comentar que, para uma truthsayer, Valya falhou na aula um sem perceber a mentira. Trinta anos se passaram e ela continuou desinformada.
As idas e vindas no passado e presente, além de interessantes, dão a perspectiva do drama: Valya era a líder escolhida das Bene Gesserit, mas precisou matar para garantir sua posição, eliminando sua oponente e suas seguidoras. O segredo entre cinco mulheres – a irmã Avila acabou aceitando ficar entre elas – jamais vazou, mas a conta chegou. Só que mais uma vez no momento em que Tula está tendo que pensar em si antes da irmandade.



Tula ficou para trás com duas missões imediatas: descobrir o que matou Kasha e quem era Desmond Hart. A ordem era usar Lila para se conectar com suas antepassadas e identificar o inimigo, mas essa parte do plano falhou porque uma vez do outro lado, o espírito de Dorotea tomou o corpo da bisneta e iniciou sua rebelião na escola.
Focada em sua tarefa, Tula ignorou os riscos de ter ressucitado Lila e delegou o cuidado para acólitas ainda despreparadas enquanto seguia na pesquisa sobre o poder de Desmond. Ao identificar que ele era seu filho e que a melhor forma de impedi-lo de matar outros era emiliná-lo (o que eu teria pensado antes de tanto trabalho), Tula abandona tudo e todos e literalmente voa para a Capital, tanto para falar com Valya como encontrar Desmond.
Claro que a essa altura Tula já sabe qual é o vírus, como ele se espalha e como combatê-lo: é preciso controlar o medo. Quando ela encontra a irmã e o filho, os dois já estão quase morrendo no embate final.

Uma vez que sabe como combater o vírus, Tula ajuda Valya primeiro. Antes de voltar a si, Valya tem a visão da tortura de Desmond, sob a imagem de uma pessoa que ela ainda não identificou quem é. Ao acordar, se dirige para matar o antagonista, mas Tula a impede confessando que é seu filho. Valya fica chocada com a revelação que é dupla: Tula sabe mentir como poucos e nunca confiou nela. Valya aparentemente foi sincera ao se comprometer a ajudar a irmã criar o filho, mesmo que ele fosse Atreides. Com o tempo contra as duas, não dá para um papo profundo. Mais uma vez Tula tem que escolher e ela decide ficar para falar com Desmond enquanto Valya foge.
Desmond, que estava ferido no chão quando ouvia a revelação de quem era sua mãe, aceita o abraço de Tula, mas a prende de qualquer forma. Fechando o arco inicial das duas personagens mais interessantes de toda trama e as duas melhores atuações da primeira temporada.
Na 2ª temporada a mudança para Arrakis
Na segunda temporada o coração da série vai para Arrakis e os cenários desérticos. Ajudada por Inez e Keiran, Valya chega ao planeta tanto para se esconder como para descobrir quem é o verdadeiro inimigo do Império. Podemos avisar que é Vorian Atreides? É a minha aposta.

Essa aliança frágil entre três Casas em meio à luta pelo Poder será testada várias vezes. Keiran não confia em Valya, com a reciproca verdadeira. E Inez terá que avançar na sua jornada escolhendo entre as Bene Gesserit, o Trono ou seu amor por Keiran. Honestamente, a parte menos interessante de toda série.
As pontas soltas para a próxima etapa portanto incluem Natalya como antagonista e Imperatriz, lidando com o ódio de sua própria filha Inez assim como o de seu enteado, Constantine. Essa luta terá força enquanto Desmond estiver ao seu lado, mas, se ele e Tula se conectarem de verdade, tudo pode mudar.
Na irmandade, Dorotea/Lila tomou o controle da escola, destruiu a máquina e agora quer a cabeça das irmãs Harkonnen. Se Desmond vai entregar Tula com facilidade são outros 500 e muito improvável. Não há unanimidade entre as mulheres, Jen está claramente chocada com tudo, mas é mais inclinada a seguir Tula. Como elas vão lidar com as Harkonnen e o fato de que Natalya detesta a irmandade será outro drama.
Em geral, mesmo irregular em atuação e com uma trama apressada, Duna: Profecia entra como um dos destaques de 2024, com potencial de melhorar na segunda temporada (que deve ser em 2026). Com as grandes atuações das atrizes jovens, espero que ainda tenham bons flashbacks para mantê-las no elenco.

Olivia Williams foi perfeita de ponta à ponta, mas Emily Watson ainda não imprimiu uma figura nem enigmática, ou rancorosa ou assustadora em Valya. Espero mais dela no futuro e que siga a linha incrível e espetacular de Jessica Barden como a jovem Valya.
O elenco jovem do tempo presente é muito fraco, especialmente Sarah Sofie-Bousssnina, que está péssima no drama ou na ação, mas como o foco será mesmo entre Valya-Tula-Desmond, podemos deixar passar.

E claro, a grande estrela da série foi Travis Fimmel, cujo carisma e forma de atuação particular são a base de uma grande quantidade de fãs apaixonados. Sim, Desmond é muito Ragnar de Vikings e também Marcus de Raised by Wolves, mas Travis é sempre tão bom que ninguém se importa. A história de Desmond é original e fadada à tragédia, mas ele trouxe humor e mistério para uma personagem que seria facilmente interpretada como soturna e grandiosa. O desdém que o soldado passa pela Fé ou pela Política é contagiante e Travis é hoje o ator que lida melhor com o pouco que é oferecido. Nenhuma outra briga de Duna: Profecia parece interessante perto de Desmond Hart. Sabemos que ele tem ainda mais para nos oferecer e quem é fã (como eu), mal pode esperar por mais. Quem venha 2026!
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