Enquanto esteve no ar o sitcom Frasier foi um fenômeno e bateu todos os recordes de premiação e audiência. São nada menos do que 37 Emmys, sendo que cinco deles consecutivos de Melhor Série Comédia. Esse recorde só foi batido em 2016, com Game of Thrones. Frasier era um spin-off de outro sucesso, o sitcom Cheers e a disputa de qual era o melhor divide fãs. Quando ‘voltou’, ainda em plena pandemia de Covid -19, em 2021, a nova versão de Frasier não agradou a tanta gente, mas garantiu uma segunda temporada, que chegou à plataforma da Paramount Plus com alguns meses de atraso em relação aos Estados Unidos. Esperei até o Natal para devorá-la.

Um recap rápido: Frasier Crane (Kelsey Grammer) é um psiquiatra que vivia em Boston (na época de Cheers), mas que volta à sua cidade natal, Seattle, para apresentar um programa de rádio. Ele tinha se asfatado do pai, um policial aposentado, Martin Crane (John Mahoney), e do irmão com quem compete e irrita, Niles (David Hyde Pierce), também psiquiatra. Assim que chega, por causa de problemas de saúde, Martin é forçado a viver com Frasier e a convivência familiar é cheia de reviravoltas, todas hilárias. Na rádio, KACL em Seattle, Frasier convive com uma série de colegas e ouvintes também divertidos, incluindo a produtora, Roz (Peri Gilpin) e o locutores como Bob “Bulldog” Briscoe (Dan Butler) e Gil Chesterton (Edward Hibbert), além da agente diabólica, Bebe Glazer (Harriet Sansom Harris).
No reboot, Frasier volta para Boston para tentar se aproximar de seu filho, Freddy (Jack Cutmore-Scott), agora um adulto e trabalhando como bombeiro (depois de abandonar Medicina em Harvard). Foi a oportunidade perfeita de trazer alguns novos rostos, como Alan (Nicholas Simon Lyndhurst) o antigo amigo de Oxford de Frasier que virou professor universitário em Harvard, a hilária Olivia (Toks Olagundoye), chefe de Alan e Frasier no departamento de psicologia da universidade; Eve (Jess Salgueiro), vizinha de Frasier e Freddy e, na ausência de Niles e Daphne, convivemos com seu filho, David (Anders Keith).

A primeira temporada, embora tenho gostado muito, havia muita distância entre o conforto de Grammer com o gênero e personagem com seu elenco menos experiente, mesmo que a química potencial estivesse lá. Alguns rostos antigos, como Roz, fizeram pontas e pelo visto ela voltou de vez ao grupo, porque está em vários episódios da segunda temporada, trazendo com ela a crescida Alice (Greer Grammer). Outra que veio para ficar é a paquera de Frasier, interpretada por Patricia Heaton.
O desafio principal de Frasier é mais do que conectar um protagonista septagenário com um público novo: é de, mais de 20 anos depois, ressuscitar o gênero de sitcom de estúdio, com suas claques de teatro filmado e situações rápidas e divertidas. Friends pode ser febre entre a garotada e manter sitcom funcionando, mas não é nada novo, é apenas reprise. A simplicidade de Frasier é um “ame ou odeie”. Eu adoro.
O que faltava na primeira temporada, o senso de identificação com as personagens e novos dilemas, que demorou a decolar, agora está resolvido. Há uma força no grupo que é essencial em Frasier, a piada rola tanto nos que estão na frente como os que estão no fundo da cena e não dá para não rir e se sentir bem.


O maior avanço de todos era o elo fraco inicial, justamente Jack Cutmore-Scott que deixava muito claras as deixas das piadas, sem nos deixar se enganar que foi um pouco improvisado ou autêntico. Ele certamente avançou bastante e agora a relação entre Frasier e Freddy é crível, ensaiando chegar ao perfeito casamento que era Niles e Frasier.
Os dois grandes “novos” destaques são as personagens Alan e Olivia. Nicholas Simon Lyndhurst é nada menos do que brilhante, nos fazendo detestar e adorar Alan, nos emocionar e rir com ele, dando toda perfeita perspectiva da amizade entre Alan e Frasier. Mas, pra mim, a grande estrela é Toks Olagundoye, com um timing cômico impecável, trazendo para Olivia a diversão que faz dela necessária em um grande número de sequências.

São apenas 10 episódios de 30 minutos, uma maratona tranquila e inevitável. Ainda não se falou da terceira temporada, mas sigo na torcida. E sim, rezando para pelo menos alguma ponta de David Hyde-Pierce e Jane Leeves.
Quero uma vida longa para Frasier, é um absurdo que diante de tantas não-comédias passeando pelas premiações o conteúdo que é 1000% cômico seja ignorado. A piada está em nós.
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