Nos últimos anos os filmes de Clint Eastwood fizeram menos alarde entre críticos e bilheteria, mas o diretor premiado e lenda em Hollywood mantém o controle firme como bom contador de histórias. Com Nicholas Hoult e Toni Collette (se reencontrando depois de terem estrelado há 22 anos como mãe e filho o ótimo Um Grande Garoto (About a Boy)) liderando elenco, o drama Jurado Nº 2 é lento e simples, mas com um final impactante.

Falarei do spoiler mais à frente, porque não há como evitar. Um dos detalhes mais comentados é que, como tem 94 anos, Jurado Nº 2 é considerado possivelmente o último filme dirigido por Clint Eastwood. Eu sou meio do contra e considero que possa ter outro: ele não é um diretor de firulas ou excessivo detalhismo nos seus projetos. Gasta poucos meses gravando, tem poucos takes, e portanto não demora entre uma produção e outra. E por isso torço para que tenhamos mais um.
Clint Eastwood adora forçar a reflexão de seu público sem dar uma resposta de mão beijada. Seus protagonistas podem até ter boa intenção, mas suas falhas do passado sempre parecem alcançá-los e deixá-los em uma encruzilhada moral. A história de Jurado Nº 2 acompanha Justin Kemp (Hoult), um pai de família que atua como jurado em um julgamento de assassinato de grande destaque.

O filme explora temas como culpa, justiça e os efeitos das decisões pessoais no sistema jurídico. Justin é aparentemente “certinho”, por isso também é influente entre os outros jurados. Ele tenta sair da convocação porque sua esposa está grávida, depois de terem passado por um traumático aborto. Claro que o que aparenta engana: ele é ex-alcólatra com um segredo que só é revelado até mesmo para ele por acaso. Quando começa a exposição dos advogados, ele percebe que o acusado é inocente. Por que ele sabe disso? Porque foi ele quem acidentalmente matou a vítima.
A partir dessa descoberta, acompanhamos com ansiedade a decisão de Justin: ele confessa e vai preso? Fica quieto e se mantém livre? Ele tenta o caminho intermediário, que é obviamente complexo. Vou poupar a conclusão de Clint, que é emocionante.

O roteiro não é perfeito porque o que não é o ponto central. Ele quer justamente nos deixar em dúvida do que é certo ou errado. E encontra em Nicholas Hoult, o ator mais empenhado em diversificar sua filmografia em mais uma ótima atuação. Ele, que foi ator mirim na Inglaterra, consegue transitar entre franquias de ação, dramas de época, comédias ou dramas com o mesmo talento. Ele consegue transmitir as emoções contraditórias de alguém que errou e que quer ser justo, sem encontrar uma alternativa feliz.
Não há resposta fácil e a jornada de Justin Kemp é tensa. Se Jurado Nº 2 for realmente o último filme de Eastwood, ele encerra sua carreira com um trabalho que ecoa os temas que marcaram sua filmografia: a fragilidade humana diante de escolhas difíceis e as consequências inevitáveis das decisões. Mas, como sempre, Eastwood prefere deixar as portas abertas — para interpretações, debates, e, quem sabe, para um próximo projeto. Se este é um adeus, é um adeus à altura de sua lenda; se não for, só nos resta esperar mais um conto magistral.
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