Como publicado em CLAUDIA
O impacto de Anora no cenário cinematográfico atual é inegável. Com sua narrativa emocionante e protagonismo forte, o filme não só alcançou sucesso de público e crítica, como também abriu debates sobre resiliência, desigualdade social e o desejo de mudança. No entanto, a jornada de Anora não é única. A história de mulheres que enfrentam adversidades e lutam para transformar suas vidas já foi explorada em outros clássicos, cada um com sua abordagem singular, mas todos conectados por temas universais de luta e esperança.
Ao revisitar obras como Uma Linda Mulher, Noites de Cabíria, Sweet Charity, A Dama das Camélias e Despedida em Las Vegas, percebemos um legado cinematográfico que lança luz sobre personagens femininas complexas, que inspiram por sua humanidade e determinação.

Embora as indicações ao Oscar ainda não tenham saído, Anora tem muitas apostas de favoritismo, incluindo a possibilidade de Melhor Atriz para Mikey Madison. A história da jovem que vive em um bairro periférico marcado pela pobreza e pela falta de oportunidades, trabalhando como stripper e profissional do sexo. A princípio, ela parece uma mulher realista, mas, ao esbarrar com o jovem megamilionário que parece estar apaixonado por ela, passa a acreditar que terá uma chance de mudar de vida. Claro que não é bem assim, Anora é Uma Linda Mulher da vida real, por isso tão mais autêntico.
E vamos combinar que antes Anora veio Vivian e antes Vivian veio Camille e outras com os mesmos sonhos e desafios. Hollywood a-do-ra uma história de amor, com final feliz ou não. Vamos lembrar de cinco clássicos que tem uma proposta parecida?
Uma Linda Mulher (1990)
Embora esteja longe de ser o primeiro a mostrar uma profissional do sexo sonhando com o amor, esse clássico que completa 35 anos em 2025, dirigido por Garry Marshall, é um conto de fadas contemporâneo que combina romance e transformação. Vivian Ward, interpretada por até então quase desconhecida Julia Roberts, encontra no charmoso empresário Edward Lewis (Richard Gere) uma oportunidade para redefinir sua vida.
A negociação dos dois é muito parecida com a que Ani faz com Vanya (Mark Eydelshteyn) e é uma referência proposital. Assim como Anora, Vivian lida com preconceitos sociais e desafios emocionais, mas a principal diferença está no tom otimista de Uma Linda Mulher, que culmina em um final feliz. O filme reconfigura estereótipos femininos, mostrando como o amor e o respeito podem ser catalisadores de mudanças significativas.
Ah, sim! Outro ponto que pode ser semelhante? Julia Roberts foi indicada ao Oscar pelo papel. Será que Mikey Madison terá a mesma sorte?
Despedida em Las Vegas (1995)
Outro filme que fez grande sucesso de crítica há 30 anos, Despedida em Las Vegas que rendeu um Oscar de Melhor Ator para Nicolas Cage e uma indicação para Elizabeth Shue. Dirigido por Mike Figgis, o filme é uma narrativa brutal e devastadora que explora o encontro entre Ben (Cage), um homem em autodestruição, e Sera (Shue), uma trabalhadora do sexo em um momento de total entrega dele à tragédia e a esperança dela, tênue, de ter encontrado alguém que possa salvar e “salvá-la”.
O segundo ato de Anora reflete um pouco esse lado mais sombrio da condição humana que é a premissa de Despedida em las Vegas. Sera, assim como Anora, tenta encontrar dignidade em meio ao caos e no fim, embora as histórias de sambas sejam marcadas por uma dolorosa aceitação de limites, refletindo uma visão mais crua da realidade, Ani tem – a meu ver – uma possibilidade de ser feliz com Igor (Yura Borisov), enquanto Sera não tem a mesma “sorte”.

A Dama das Camélias (Camille, 1936)
Vamos voltar à mais clássica das clássicas que lembra a história de Anora? Sim vamos ao clássico de 89 anos com várias versões na TV, na óepra e no cinema, mas cujo filme estrelado por Greta Garbo é o mais famoso. Marguerite Gautier, é uma cortesã que, assim como Anora, enfrenta julgamentos constantes. Quando um jovem Armand Duval (Robert Taylor) se apaixona por ela, a família dele faz de tudo para separar o casal. Eventualmente, por amar genuinamente o rapaz, Marguerite se sacrifica por amor, rompendo com Armand. Sim, Moulin Rouge é inspirado nessa história também.
A Dama das Camélias também reflete sobre a tragédia de mulheres marginalizadas que é sua conexão emocional com Anora e no fato que suas protagonistas buscam redenção, mesmo que isso venha a um custo elevado. O final triste do clássico de Alexandre Dumas é por conta da história real na qual o livro se inspirou, mas aqui o que importa é ver como assim como Ani, Marguerite esbarrou no preconceito e interferência da família de seu amado.
Noites de Cabíria (1957)
Noite de Cabíria é umd os filmes mais adorados de Federico Fellini, que nos apresenta Cabíria, uma mulher simples e sonhadora interpretada magistralmente por Giulietta Masina. Assim como Anora, Cabíria busca desesperadamente um sentido para sua vida em meio a sucessivas desilusões amorosas e sociais. Ela também é uma profissional do sexo que se ilude com a possibilidade de que um casamento vá mudar sua vida completamente.
O filme é uma obra-prima do realismo poético, e sua protagonista representa a vulnerabilidade feminina diante de um mundo hostil. Apesar de suas dificuldades, Cabíria nunca perde sua capacidade de sonhar, algo que ressoa profundamente na jornada de Anora.
Sweet Charity (1969)
Bob Fosse era mais um dos fãs do filme de Fellini e por isso refilmou o clássico italiano em uma versão musical, trazendo leveza e humor à narrativa. Charity Hope Valentine, vivida por Shirley MacLaine, compartilha a mesma vulnerabilidade da Cabíria de Fellini, mas sua jornada é contada com números musicais vibrantes e um tom mais otimista.
Apesar disso, Charity enfrenta desafios similares, como a busca por amor e validação em um ambiente que frequentemente a menospreza. A conclusão do filme, ambígua e realista, ecoa o tom reflexivo de Anora.

Em todos esses filmes, vemos mulheres em busca de algo maior: amor, dignidade, ou simplesmente uma nova chance. A principal semelhança entre essas narrativas é a luta contra as adversidades sociais e emocionais.
Enquanto Anora inspira pelo equilíbrio entre esperança e desafios, outros filmes oferecem finais variados, que vão do triunfo ao sacrifício. Esse contraste revela a riqueza da representação feminina no cinema, mostrando que cada jornada é única, mas igualmente poderosa.
São filmes que evidenciam que a luta por mudança de vida transcende épocas e estilos, conectando audiências por sua profunda humanidade. Assim, Anora se torna uma sucessora digna de um legado cinematográfico que continua a emocionar e provocar reflexões.
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