A Verdadeira Dor: um papo exclusivo com Will Sharpe e Jennifer Grey

Como publicado em CLAUDIA

Quando foi exibido no Festival do Rio, em outubro de 2024, a estreia de A Verdadeira Dor foi uma grata surpresa para o público e críticos. Um filme que não gritava originalidade – é um road movie com amigos incompatíveis, com diálogos rápidos e afiados – potencialmente era a clássica comédia que promete ter uma virada emocionante e fazer com que o herói se transforme. Ainda assim, é emocionante e surpreendente.

Não sei vocês, mas sempre viajei e adorei conhecer a maior parte do mundo possível, mas, mesmo viajando para lugares históricos, me impus limite de até onde iria. Nem todos pensam como eu, quando entro no Louvre, que estou passando no local do Massacre de milhares de protestantes na Noite de São Bartolomeu, mas quando veio a “chance” de ir conhecer um campo de concentração? Não, obrigada. Não consigo. E a mesma reação foi parte da inspiração para o ator e diretor Jesse Eisenberg, o diretor, ator e roteirista de A Verdadeira Dor. Esse, que é seu segundo filme, já é um dos favoritos do Oscar 2025 para roteiro e ator coadjuvante (Kieran Culkin), e chamado por vários de obra-prima.

A Verdadeira Dor é uma comédia espirituosa e emocionante, com temas sérios e profundos. Jesse e Kieran interpretam primos judeus americanos viajando pela Polônia em homenagem à avó, que era polonesa e sobreviveu ao Holocausto. Uma história extremamente pessoal de Jesse, que escreveu o roteiro a partir de sua própria experiência, que se chocou quando viu o anúncio de passeio prometendo “tour do Holocausto, com almoço” e logo teve a ideia para o filme. O grupo que acompanha os primos nessa jornada inclui, entre outros, o guia James (Will Sharpe, que conhecemos de The White Lotus) e Marcia (Jenniffer Frey). Os dois atores conversaram exclusivamente para CLAUDIA sobre o filme.


CLAUDIA
O que é a verdadeira dor para vocês, literalmente, e depois, o filme?
WILL
Eu acho que a melhor forma de responder isso é no espírito do filme que interroga pessoas modernas. É uma experiência pessoal de dor, dor da vida, se você quiser, mas aí o filme te coloca contra a enormidade da dor humana que foi experimentada pela História e pergunta ao público se eles podem aguentar essas duas coisas ao lado de si mesmos e julgá-las independentemente ou não. O filme não te dá uma resposta perfeita. É uma pergunta complexa. Então eu acho que seria assim que eu responderia a sua pergunta. (risos)

CLAUDIA
Jennifer, e você?

JENNIFER
A verdadeira dor é sobre todos os tipos de dor. É o fato de que estamos todos com dor, mas alguns são melhores em escondê-la e parecer que tudo está funcionando para eles. Outras pessoas se sentem incapazes de funcionar, mas têm vergonha de sentir que todo mundo pode ver o quão doloroso sua vida é ou quão miserável ou quão mal sucedidos eles se sentem. Desesperados até! Por isso, as pessoas que parecem ser capazes de parecer sem dor só estão vivendo um outro tipo de dor. Porque eu não acredito que exista uma vida real, uma vida humana, que não tenha dor.

CLAUDIA
Sim, verdade…
JENNIFER
E isso tudo é válido, e a dor pequena não quer dizer que é de medida igual ao Holocausto, aquela enormidade, mas também muitas vezes, as pessoas sentem uma certa vergonha por serem em dor por coisas pequenas, coisas que machucam e te fazem sentir que não quer sair de cama, mas tudo é parte do que é ser humano.

CLAUDIA
Como vocês descreveriam as jornada de seus personagens e se a jornada deles impactou vocês? Para nós, vendo na tela é impactante, só posso imaginar como foi gravar

WILL
Bem, eu acho que para James, ele tem viajado por um tempo e mesmo que cada grupo provavelmente seja especial em seu próprio jeito, este grupo em particular contém Benji (Culkin) e Benji é alguém que é muito direto e pergunta perguntas sobre História de jeito honesto, sem rodeios o que afeta as próprias sensações de James sobre como ele faz o seu trabalho. Então, sinto que o Benji tem seu impacto em todos os diferentes personagens, mas, de uma forma pequena para James, afeta profundamente a sua visão de si mesmo e como ele faz o seu trabalho. Pessoalmente, foi a minha primeira vez na Polônia e aprendi muita história pela primeira vez. Foi uma educação para mim e, particularmente, quando visitamos Majdanek, o campo de concentração. Nunca estive em um campo de concentração antes e foi uma experiência muito intensa, eu diria, para todos nós, eu mesmo incluído. Foi uma experiência de humildade e uma que me deixou muito grato, de verdade.

JENNIFER
Na verdade, posso te fazer uma pergunta? Porque o seu personagem era alguém que estava constantemente visitando o Majdanek, e você, como ator, nunca esteve lá. Como foi isso pra você, porque pra mim provavelmente foi mim o dia mais…

WILL
… desafiador, sim, porque eu sabia que o James teria estado lá várias vezes. Não é que ele se acostumasse a isso, mas não seria uma experiência tão raivosa e inesperada para ele como foi para mim. Tive que ser cuidadoso com isso e manejar minha própria experiência, suponho. [ele pausa] É engraçado.
Eu nunca pensei nisso, porque eu estava tão ocupado sentindo sentimentos que eu nunca tinha tido antes.

JENNIFER
E de repente isso aconteceu comigo. Como você atua quando está passando por um Campo de concentração, que é tão bem preservado, até o ponto em que você se sente como se todo mundo tinha só deixado aquela manhã? Não há sinais, não há turismo. É tão emocionante. Eu pensei: ‘Deus, isso deve ter sido muito difícil para você ser um cara que faz isso todo o tempo’. [Os dois respiram e Jennifer se volta pra mim] Desculpe! Não lembro da pergunta! Ah! A jornada dos personagens.

CLAUDIA
Isso, e devo confessar: tive a oportunidade de fazer um tour como o do filme, mas não consegui. Não saberia lidar com a dor que sei que sentiria. Por isso perguntei para vocês como atores e também, claro, para as personagens.

JENNIFER
Eu sou judia e uma judia que esteve em Israel, uma judia que nunca foi a um campo de concentração, por osso estava muito ansiosa. [Se volta para Will] e me lembro de falar com você, tipo, “como vai ser?” Eu realmente queria alguém para, como uma criança, para me dizer como iria ser, o que veria. E fiquei chocada com a energia que senti no meu corpo, que não tinha nada a ver com o meu cérebro, ou nada contra o qual eu podia me defender. Foi apenas um horror inconcebível. A ideia de que isso aconteceu tão recentemente e que seres humanos fizeram isso por anos a apenas alguns quilômetros da cidade. E estar lá em vez de ler sobre isso, ou ver em um filme, ou contar uma história, é muito diferente.



CLAUDIA
Ouvi que houve algumas improvisações nas gravações, mas não sei se é verdade. Quais as memórias mais divertidas e engraçadas que vocês têm de tudo, ao contrário da dor que estamos discutindo aqui?

WILL
Jesse nos permitiu experimentar coisas, mas na verdade não havia necessidade de improvisar. Talvez o Kieran tenha passado por isso, mas eu não sei. Havia alguns espaços, mas na verdade está tudo no script ou perto do que está lá mesmo. Foi muito claro desde o começo. E as minhas boas lembranças são as da gente tomando sorvete! 

JENNIFER
Muitos sorvetes! 

WILL
E jantares.

JENNIFER
A verdade é que ele [Jesse] contratou pessoas muito inteligentes e realmente, genuinamente, engraçadas. Nenhum de nós foi muito pesado e senti como se estivéssemos todos rindo. Não me lembro de rir tanto como na manhã, no dia seguinte. Foi um grupo conectado capaz de ir mais fundo.

WILL
Sim, e foi uma mensagem bem pessoal de Jesse, contada com humor para sobreviver em tempos difíceis. Isso é parte da nossa história também.


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