Kim Novak: O Enigma de Hollywood

Hoje, 13 de fevereiro de 2025, Kim Novak completa 92 anos, um bom gancho para recuperar posts há muito devidos aqui em Miscelana. Afinal ela é uma das figuras mais enigmáticas da Era de Ouro de Hollywood. Com uma beleza etérea e um talento magnético, ela encantou o público nos anos 1950 e 1960, consolidando-se como uma das maiores estrelas de sua época. No entanto, diferentemente de muitas de suas contemporâneas, Novak escolheu se afastar dos holofotes no auge da carreira, alimentando o mistério em torno de sua vida e legado.

Para gerações mais novas, que não alimentam nostalgia além de no máximo uma década, seu nome não provoca necessariamente curiosidade ou reconhecimento. Mas, em 2023 um dos fatos mais ‘escandalosos’ de sua vida voltou à luz com o lançamento do livro Blondes, uma obra que mergulhou nas vidas de oito atrizes que trabalharam com o diretor Alfred Hitchcock. Nele, o autor Laurence Leamer revelou como os anos 1950s nos Estados Unidos o racismo quase destruiu sua carreira e a do cantor e ator, Sammy Davis Jr. Os dois viveram um breve relacionamento que chocou o mundo na época.

Esta passagem da biografia de Kim será também retratada na série Scandalous, um projeto que Colman Domingo pretende dirigir, com Sydney Sweeney e David Johnson nos papéis principais. Chegaremos lá. Antes, você lembra quem era Kim Novak?

Início da Vida e Ascensão ao Estrelato

Nascida Marilyn Pauline Novak em 13 de fevereiro de 1933, em Chicago, Illinois, Kim cresceu em uma família de origem tcheca. Seu interesse inicial pelo mundo das artes não era necessariamente pelo cinema, mas sim pelas artes visuais. No entanto, sua trajetória tomou um rumo inesperado quando, durante uma viagem à Califórnia, foi descoberta por olheiros da Columbia Pictures.

Sob a tutela do temido chefe do estúdio, Harry Cohn, que buscava uma sucessora para Rita Hayworth, encontrou uma “nova Marilyn Monroe”. Mas vejam a ironia, Marilyn, que se chamava Norma Jean, era gigantesca e assim a jovem Marilyn Pauline “precisou” mudar de nome para não ser cópia. Por isso foi transformada em “Kim Novak“, recebendo treinamento rigoroso para se tornar a próxima grande estrela do estúdio. Algo muito comum naquele período.

Os Anos de Ouro: “Um Corpo que Cai” e Outros Clássicos

A carreira de Novak foi marcada por sucessos estrondosos. Em 1955, estrelou Férias de Amor (Pic Nic) ao lado de William Holden, um dos filmes que a estabeleceram como uma estrela de primeira grandeza. No mesmo ano, atuou em O Homem do Braço de Ouro, ao lado de Frank Sinatra, consolidando sua reputação como atriz dramática.

Entretanto, foi em 1958 que Novak atingiu a imortalidade cinematográfica com Um Corpo que Cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock. No papel duplo de Madeleine Elster e Judy Barton, ela entregou uma performance icônica, navegando entre a fragilidade e o mistério. O filme, inicialmente subestimado, mais tarde foi considerado uma das maiores obras da história do cinema, e a atuação de Novak continua sendo amplamente estudada e reverenciada.

Além de Um Corpo que Cai, Novak estrelou Sortilégio de Amor (Bell, Book and Candle), uma comédia romântica de novo ao lado de James Stewart, confirmando sua versatilidade como atriz. Mas claro, o público queria saber mais sobre a misteriosa estrela e quando a verdade veio à tona, foi chocante para muitos.

Escândalos e Vida Amorosa

Apesar de manter uma imagem relativamente discreta, Kim Novak esteve no centro de algumas polêmicas em Hollywood. Seu relacionamento com o cantor e ator Sammy Davis Jr. causou grande controvérsia nos anos 1950, em uma época de intensa segregação racial nos Estados Unidos. O romance foi duramente criticado e chegou a gerar ameaças à carreira de ambos, levando à sua separação forçada, supostamente por pressão do estúdio e de figuras influentes da indústria cinematográfica.

O romance começou quando se conheceram em um jantar na casa de Tony Curtis, depois que ambos pediram para ser apresentados. A atração mútua foi imediata, mas era quase inocência dos dois imaginar que não iam chamar a atenção. A indústria da fofoca logo descobriu (suspeita-se que alguém na festa de Curtis ligou para a colunista Dorothy Kilgallen, a 1ª a publicar sobre o romance) e Hollywood – cheia de escândalos – ficou de boca aberta pois era completamente inesperado.

Sammy Davis Jr. se surpreendeu quando Kim Novak, a eterna rebelde, não quis seguir a ordem do Estúdio de terminar com ele. Mas o romance intenso tomou proporções políticas e ameaçadoras, eventualmente se separaram. Os fãs, até hoje, pensam “e se” colocando o relacionamento como uma grande história de amor, mas é bem mais complexo que isso. E é por isso que Colman Domingo está trabalhando em transformá-la em série que tem estimativa de gravar entre o final de 2025 e início de 2026.

Kim teve outros relacionamentos notórios, incluindo um noivado com o ator Richard Johnson e um breve envolvimento com Frank Sinatra (um dos melhores amigos de Sammy). Em 1976, casou-se com o veterinário Robert Malloy, com quem viveu até a morte dele em 2020. Ao contrário de muitas estrelas de sua época, Novak evitou casamentos midiáticos e manteve sua vida pessoal longe dos tabloides sempre que possível.

O Afastamento de Hollywood

Diferente de muitas estrelas que buscaram se manter sob os holofotes a qualquer custo, Kim Novak escolheu um caminho diferente. Desiludida com o controle rígido da Columbia Pictures sobre sua carreira e com a superficialidade da indústria, ela decidiu se afastar progressivamente do cinema na década de 1960. Mudou-se para a região rural de Oregon, onde pôde se dedicar à pintura, uma paixão que sempre cultivou.

Apesar das ofertas para retornar ao cinema, ela limitou suas aparições, participando de alguns projetos esporádicos até se aposentar de vez, em 1991. Seu distanciamento da mídia e sua recusa em se submeter aos padrões de Hollywood contribuíram para consolidá-la como uma figura quase mítica.

Legado e Redescoberta

Nos últimos anos, a obra de Kim Novak tem sido revisitada e reavaliada. Seu desempenho em Um Corpo que Cai (Vertigo) é considerado um dos maiores da história do cinema, e sua presença nas telas permanece cativante.

Em 2014, Novak fez uma rara aparição no Oscar, onde foi alvo de comentários cruéis sobre sua aparência devido a procedimentos estéticos. No entanto, sua resposta foi emblemática: rejeitou as críticas e reafirmou sua escolha de viver longe das expectativas irreais da indústria.

Kim Novak pode ter abandonado Hollywood, mas Hollywood nunca a esqueceu. Seu legado persiste como um símbolo da beleza, do talento e da independência – uma estrela que brilhou intensamente, mas escolheu trilhar um caminho próprio, longe do frenesi da fama.


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