Como publicado em Bravo!
Até final de março estaremos ficados em um resort na Tailândia onde tudo acontece: The White Lotus. A série que surgiu como uma proposta de ser mini (ou seja, uma única temporada) acabou virando uma franquia de prestígio da MAX e uma febre mundial. Obrigada, Mike White! Afinal, até a série virar febre, em geral, lembrávamos dele – visualmente – como coadjuvante e amigo de Jack Black, com quem estrelou A Escola do Rock. Mas adivinha quem escreveu o roteiro do filme (hoje musical da Broadway)? Isso mesmo: Mike White.

Mas anos antes disso, Mike, que nos Estados Unidos chegou a participar do reality show Survivor, em 2018 (no Brasil o programa era o No Limite), começou em Hollywood como roteirista de Dawson’s Creek, o mega sucesso dos anos 1990s. Por conta do protagonista, Dawson Leery, ser um cinéfilo que trabalhava em uma locadora de vídeo, Mike já estreou testando diferentes narrativas, mas detestava ter a missão de prolongar o senso de antecipação romântica entre os casais jovens.
Outro destaque na carreira dele como autor foi o primeiro filme de Jennifer Aniston que suscitou forte campanha para uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz: Por Um Sentido Na Vida (The Good Girl). Em todos seus trabalhos, havia um olhar apurado e crítico para a sociedade e o comportamento humano, dois elementos essenciais que no isolamento de lugares exóticos, luxuosos e escondidos podem provocar o pior em pessoas frustradas e complexas, como os hóspedes de The White Lotus.
A proposta de Mike White à então HBO em 2020 – hoje apenas MAX – era a de entregar uma série de mistério no estilo Agatha Christie, de apenas seis episódios, que seria toda gravada em um mesmo local em poucas semanas. Isso atenderia vários fatores importantes de produção em tempos inseguros de plena pandemia: seria curto, com custo controlado (pois todos estariam na locação durante o período total das gravações) e atenderia as exigências de distanciamento e isolamento do auge da COVID-19. Quem aprovou o projeto acertou na megasena. O sucesso foi tão absurdo que não rendeu apenas mais uma temporada: estamos na terceira e haverá uma quarta.
Se nós o descobrimos há 5 anos, White já era adorado em Hollywood e a MAX, que já tinha feito com ele o espetacular Englightned, estrelado por Laura Dern, portanto não era uma aposta cega topar The White Lotus.
Ainda assim, pode ser mantido como um tiro incerto que acertou no alvo. Quando estreou, em 2022, The White Lotus entregou muito mais do que o prometido justamente pelo talento de White na observação humana. Do choque de gerações, às frustrações emocionais e profissionais das pessoas, os vícios, as tentações, o narcisismo, e sim, o crime, tudo foi tão bem embalado que estamos viciados.



A fórmula Agatha Christie resiste ao teste do tempo por vários elementos e se encaixam perfeitamente nas histórias de White Lotus: grupos de ricos escondendo segredos e um assassinato aparentemente insolúvel, muitas vezes cometido em um ambiente fechado (closed circle mystery). Os personagens geralmente formam um grupo reduzido e variado, com personalidades bem definidas. Cada um tem um motivo para cometer o crime, tornando todos suspeitos.
Enquanto séries como O Casal Perfeito (da Netflix), The AfterParty (da Apple TV Plus), ou mesmo Only Murders in the Building (da Disney), incluindo também as refilmagens de clássicos da autora ou novas franquias como Entre Facas e Segredos (Knives Out), tentam resgatar o gênero, o que Mike White brilhantemente elimina, ou transfere para o público, é o papel do detetive. A diversão é tentar decifrar o que aconteceu em 10 dias para culminar na morte de um dos personagens sem a ajuda de um personagem nas telas.
Esse elemento “Hotel California” – você entra, mas nunca sai – é sufocante mesmo em áreas bem abertas como Havaí, Sicília e Tailândia. Na primeira temporada, a vítima foi acidental (o gerente do braço havaiano) e na segunda a morte em si também foi acidental, mas fazia parte de um plano sinistro de assassinato que não foi solucionado. Se Mike White quiser, The White Lotus pode virar algo completamente à parte, mas ele segue nos surpreendendo ao deixar nossas imaginações fluirem e só ligar o essencial.
No momento, temos um tiroteio e um corpo encontrado flutuando em um lago de meditação do braço tailandês da rede de hotéis. Já estamos especulando quem morreu, como morreu, quem matou e por que. Eu que tenho uma teoria desenvolvida há cinco anos sobre a rede criminosa liderada por Greg Hunt, vibrei quando ele reapareceu no 1º episódio. Quero Justiça por Tanya!

Os atores assinaram ‘múltiplos’ acordos de não divulgação para tentar manter a identidade do culpado e do morto em segredo, assim como uma misteriosa estrela convidada vai entrar no elenco mais à frente. Mesmo as confissões de alguns membros do elenco que os bastidores das gravações incluem brigas, festas e tensões entre os atores, não tiram o foco de que a atenção aguçada da audiência será totalmente dedicada à especulação por seis semanas.
Vale lembrar que Mike White “sonhou” com o enredo inteiro durante uma única noite quando estava explorando possíveis locações para a temporada e numa crise de bronquite foi hospitalizado em Chiang Mai. Colocado em um nebulizador, a internação poderia ser um pesadelo, mas, mais uma vez, quem lucra somos nós. A imaginação genial do diretor promete nos deixar acordados por seis semanas. Quem mais tem esse dom mágico?
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