Kate Winslet Brilha como Lee Miller em Drama de Guerra

Uma das grandes injustiças do Oscar 2025, não foram poucas, foi a esnobada sobre a superba atuação de Kate Winslet em Lee, um filme que em tempos áureos seria identificado como um filme que era “a cara do Oscar”.

Duvida? Vamos às caixinhas tradicionais: biografia, atriz premiada, tema sensível sobre a segunda guerra mundial… Oscar escrito por toda parte, só que não. Uma pena! Por isso aproveito o espaço aqui para recomendá-lo quando entrar em alguma plataforma (o assisti nos Estados Unidos).

Lee retrata a vida de Elizabeth ‘Lee’ Miller, uma fotógrafa e correspondente de guerra da revista Vogue durante a Segunda Guerra Mundial. Ex-modelo e muitoa amiga de alguns dos principais intelectuais da época, Lee foi uma das primeiras pessoas a testemunhar e divulgar a existência de campos de concentração, registrando em suas lentes imagens icônicas do conflito, incluindo sua famosa fotografia dela mesma na banheira de Hitler.

O projeto teve início quando a diretora de fotografia Ellen Kuras encontrou um livro sobre Lee Miller em uma livraria de Nova Iorque. Ela percebeu semelhanças físicas entre Lee e a atriz Kate Winslet, com quem havia trabalhado em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, em 2004. Ellens enviou uma cópia do livro a atriz, que, anos depois, expressou interesse em desenvolver um filme sobre a fotógrafa, convidando Ellen a fazer sua estreia na direção.

O livro que serviu como base para o roteiro, As Vidas de Lee Miller, foi escrito e publicado pelo filho da fotógrafa, Antony Penrose, desculpem o SPOILER, vivido na tela por Josh O’Connor. O autor forneceu acesso aos arquivos pessoais de sua mãe, incluindo diários e trabalhos inéditos.

O filme não é contado em forma linear: começamos com Lee no presente, mais fechada e ainda traumatizada pelo passado, conversando com Antony e relembrando algumas passagens de sua vida (fascinante). Com participações de atores como Marion Cotillard, Jude Law, Andrea Riseborough, e Alexander Skarsgård, é impossível não se encantar com o filme.

Nascida em 1907, em Poughkeepsie, Nova York, Lee Miller começou sua carreira como modelo, mas foi a fotografia que se tornaria sua verdadeira paixão e sua contribuição duradoura ao mundo.

Aos 19 anos, Miller se mudou para Paris, onde começou a trabalhar como modelo para alguns dos mais renomados fotógrafos da época, incluindo o icônico Man Ray. Durante esse período, ela também se tornou sua amante e colaboradora, experimentando e explorando novas técnicas fotográficas, como a solarização, que se tornou uma marca registrada de seu trabalho. A transição de Miller de modelo para fotógrafa foi natural e impressionante, dada a sua habilidade criativa e sua curiosidade inata pelo mundo ao seu redor.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, Lee Miller encontrou sua verdadeira vocação como correspondente de guerra e fotógrafa para a revista Vogue. Ela se tornou uma das primeiras mulheres a cobrir os horrores do conflito, estando presente em algumas das cenas mais devastadoras da guerra. Como fotógrafa de guerra, Miller não apenas documentou os eventos, mas também capturou a intensidade emocional e a brutalidade do conflito, indo muito além do papel tradicional dos fotógrafos de guerra da época.

Um de seus registros mais icônicos foi a famosa imagem dela mesma na banheira de Hitler, após a queda de Berlim. A foto, que mostra Miller relaxando de forma quase surreal em uma banheira dentro do que foi a residência de Hitler, é uma representação simbólica do impacto que ela teve na guerra e da maneira única com que ela a abordou.

Lee Miller não se limitou a documentar a guerra; ela também usou sua arte para desafiar as expectativas de seu tempo sobre o papel das mulheres, mostrando uma coragem e determinação notáveis em um ambiente predominantemente masculino. Ela foi uma das pioneiras a mostrar os horrores da guerra de uma maneira visceral, humana e, ao mesmo tempo, poética.

Após a guerra, a vida de Miller passou por altos e baixos, hoje com a forte suspeita que era vítima de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Se afastou da fotografia de guerra e se entregou à bebida. Ela faleceu aos 70 anos, em 1977, mas seu trabalho continua a ser celebrado e estudado por sua coragem, inovação e pela maneira com que desafiou as convenções da época. Seu legado como uma fotógrafa de guerra, artista e mulher à frente de seu tempo é inesquecível.

Mais do que fisicamente parecida com Lee, o papel tem uma Kate Winslet madura que capta as nuances complexas de uma mulher com traumas de infância (ela foi violentada aos 7 anos) e cujo coração foi endurecendo diante dos horrores que testemunhou. É uma pena que esteja fora da corrida pelo Oscar. Não fosse a torcida por Fernanda, eu daria a ela a estatueta.


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