Para quem está fora do universo esportivo do basquete (pelo visto muitos críticos de TV), a série A Dona da Bola (Running Point) é uma versão de saias de Ted Lasso para Netflix. Não, não… é uma versão bem humorada de uma série da MAX, Winning Time. Qual? Pois é, deixe-me ir direto ao ponto: é sobre uma executiva muito verdadeira, Jeanie Buss, a primeira mulher proprietária controladora de um time de basquete – o L. A. Lakers – a guiar seu time para um campeonato da NBA. Daí o brilhantismo de ter Kate Hudson no papel principal (as duas são parecidas).

Jeanie Buss é uma figura emblemática no mundo do basquete, conhecida, claro, por sua atuação como proprietária dos Lakers, uma das franquias mais icônicas da NBA. Ela cresceu em uma família profundamente envolvida no esporte, sendo filha de Jerry Buss, que adquiriu os Lakers em 1981. Assim como vemos Isla Gordon (Hudson), Jeanie se envolveu nas operações da equipe desde muito cedo, começando sua carreira ajudando nas iniciativas de marketing e administração. Ao longo de sua trajetória, Jeanie se destacou por suas habilidades de gestão e por promover a diversidade e a inclusão na organização, tornando-se a primeira mulher a liderar uma franquia da NBA. Seu papel nos Lakers vai além da administração; ela tem sido uma voz ativa em causas sociais e filantrópicas, usando a plataforma da equipe para apoiar iniciativas importantes.
A série Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, da MAX, onde Jeanie é interpretada pela atriz Hadley Robinson, dramatiza a ascensão dos Lakers na década de 1980 e retrata a dinâmica complexa entre os jogadores, a administração e a cultura que cercava a equipe naquele período. Nessa série, Jeanie ainda não é protagonista, mas mostra sua busca por um espaço e influência dentro de uma estrutura dominada por homens. A série captura a luta de Jeanie para estabelecer seu lugar na organização enquanto a família Buss moldava o futuro dos Lakers. Com um estilo narrativo dinâmico, Winning Time mistura elementos reais e dramatizados, trazendo à tona a intensidade do basquete e a construção da dinastia dos Lakers.

A combinação da carreira de Jeanie Buss com a narrativa de Winning Time ilustra como sua determinação e visão ajudaram a moldar não apenas a equipe, mas também o papel das mulheres no esporte. O que A Dona da Bola (Running Point) faz de diferente é colocar humor onde Winning Time realçava o drama com um retrato bem-humorado das consequências psicologicamente impactantes da família Buss tendo menos consequências.
Jeanie é a terceira de quatro filhos de Jerry Buss com a mesma esposa, mas tem uma irmã e outra meio-irmã. O divórcio de seus pais a deixaram se sentindo emocionalmente abandonada, mas ela era colada em seu pai, o acompanhando nos negócios desde os 14 anos, antes dele se envolver com a NBA. Hoje, ela também é a dona da Liga Feminina de Luta Livre, a WOW (Women Of Wrestling).
Na liderança dos Lakers, Jeanie brilhou mas esbarrou antes com uma longa e árdua disputa de poder com seu irmão, Jim, assim como Isla depara com Cam (Justin Theroux), cujo antagonismo velado encerra a temporada com os dois abertamente lutando pela liderança do time.
A série da Netflix usa detalhes da vida de Jeanie em Isla quase seguindo a ordem cronológica: ela foi casada quando nova, coloca a vida profissional antes de tudo, pousou para a Playboy e se envolveu romanticamente com tecnico do time (isso ainda não se concretizou em A Dona da Bola (Running Point), mas vai se tiver 2ª temporada). Outro detalhe que está na série é o fato de os Buss terem descoberto que tinham um meio-irmão bem mais novo, que quis se conectar com a família.

Agora o detalhe mais divertido de todos os cruzamentos da vida de Jeanie com as comédias românticas esportivas. Sabe quem é seu marido? O comediante Jay Mohr o odioso antagonista de Tom Cruise em Jerry Maguire, Bob Sugar. Não é para rir?
Ou seja, os críticos foram relativamente duros com A Dona da Bola (Running Time) mas talvez tenham sido injustos. Séries que exploram o universo esportivo raramente têm lugar para um papel feminino que não seja secundário, por isso é tão interessante que aqui se ressalte que é inspirado em uma história real. Parece surreal, claro, mas não é.
Winning Time tem um grande elenco e dramatiza a ascensão do Los Angeles Lakers na década de 1980, acompanhando tanto a construção da equipe quanto as dinâmicas entre os jogadores e o staff. É uma narrativa que mistura eventos históricos com elementos ficcionais, mas traz Jeanie Buss, secundário. A série não se foca profundamente nas histórias das mulheres, mas, ao retratar a cultura machista da época, oferece uma visão da luta delas por mais respeito e autonomia em um ambiente dominado por homens.
Em Ted Lasso, Rebecca Welton (Hannah Waddingham) começa como uma antagonista, mas sua evolução na trama quase a deixa como co-principal. Como Ted (Jason Sudeikis) é um homem “diferente”, inclusivo e sensível, a série se destacou por tratar de temas emocionais e pessoais, incluindo o papel das mulheres no universo esportivo de uma maneira mais profunda e cuidadosa. Rebecca cresce como uma figura de empoderamento, lidando com a dinâmica de ser mulher em uma posição de poder em um ambiente predominantemente masculino.

A Dona da Bola (Running Time) tem um ponto fraco: ao colocar o foco no humor, ao invés de enfatizar os dramas, a série oferece uma visão mais acessível e divertida desse percurso de Jeanie, sem, no entanto, deixar de lado o impacto que sua liderança teve na história do basquete. A produção mostra uma forma de celebrar a trajetória de mulheres como Jeanie Buss, não como uma simples biografia, mas como uma representação de como o universo esportivo está, lentamente, se tornando mais inclusivo e diversificado.
Dessa forma, fica a sugestão de ver e rever as três séries. Juntas, cada uma delas traz uma perspectiva única sobre o papel feminino, ajudando a refletir sobre as conquistas e os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte, tudo isso enquanto nos proporciona boas risadas. Como não querer mais?
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