A História Sombria de Branca de Neve: Raízes e Adaptações

Parte da polêmica em torno da escalação de Rachel Zegler no papel título de Branca de Neve é uma questão rascista quanto ao tom da cor de sua pele. A atriz alega que o filme vai contextualizar a questão famosa de ser uma princesa “branca como a neve” como se o nome fosse pela resilência dela como bebê a ter sobrevivido uma nevasca. É, eu sei que deve ter respirado fundo, mas fique comigo e vamos viajar para entender a verdadeira história que inspirou o conto dos Irmãos Grimm e, de quebra, a Disney.

A história de Branca de Neve tem suas origens na tradição folclórica europeia e foi popularizada por Jakob e Wilhelm Grimm, em 1812, na coletânea Contos de Fadas Alemães (Grimm’s Fairy Tales). Esta versão, intitulada “Sneewittchen”, fala de uma linda princesa cuja madrasta ciumenta, a Rainha, ordena sua morte devido à inveja da beleza dela, simbolizando os elementos mais sombrios da natureza humana.

Mas a versão dos Grimm não foi a primeira a contar a história de uma jovem mulher com uma madrasta má e um espelho mágico. A versão que eles registraram é uma adaptação de um conto mais antigo e muito mais sombrio, cujas raízes podem ser rastreadas até as lendas e histórias populares da Europa medieval. A história de Branca de Neve e a madrasta má remonta a mitos germânicos, onde o arquétipo da rivalidade entre a jovem e a mulher mais velha, ou a “mãe” malvada, aparece com frequência.

A pesquisa moderna sugere que a história poderia ter sido influenciada por eventos históricos reais. Por exemplo, uma teoria popular é que a história poderia estar ligada à vida de Margarete von Waldeck, uma jovem nobre do século 16 na Alemanha. Margarete teria sido uma figura histórica que morreu em circunstâncias misteriosas, com especulações de envenenamento por parte de sua madrasta ou de uma figura poderosa ligada à corte local.

Embora essa teoria seja interessante, é importante notar que não há evidências definitivas que provem que Margarete foi a verdadeira Branca de Neve. O que parece claro é que a história, como muitas fábulas, passou por várias modificações ao longo dos séculos, sendo moldada por diferentes culturas e contextos históricos.

O fato é que a história de Branca de Neve é um conto marcado por temas de inocência, ciúme e resiliência, que cativa o público por séculos e que tem variações em outras culturas, sempre com contos de uma princesa ameaçada por uma madrasta ou bruxa má. Uma das primeiras versões registradas de um conto semelhante a Branca de Neve vem do antigo filósofo romano Plínio, o Velho, que se referiu a uma história em “História Natural” sobre uma garota que cai em um sono profundo causado por um pente envenenado. Esta referência destaca a natureza generalizada de tais narrativas ao longo do tempo e da geografia, mostrando que o conto de uma linda garota cercada pelo perigo é um motivo recorrente na narrativa humana.

Uma daz razões do sucesso da interpretação do conto dos Irmãos Grimm é porque reflete as realidades inquietantes de seu tempo. Eles se basearam em tradições orais que frequentemente continham lições morais sombrias, colocando Branca de Neve despertando de seu sono encantado quando um príncipe a encontra, e a rainha ciumenta encontra um destino sombrio, frequentemente punida por sua vaidade e malícia. Esse aspecto do conto enfatiza temas morais prevalentes no folclore: o bem finalmente triunfa sobre o mal, e a vaidade leva à queda.

Além disso, os Grimm adicionaram os elementos icônicos dos sete anões, que protegem Branca de Neve, e o infame espelho mágico, que serve como um símbolo de auto-obsessão e da natureza destrutiva da inveja. Esses personagens se tornaram ícones culturais por direito próprio, incorporando os temas de lealdade e amizade em meio à adversidade.

A história de Branca de Neve passou por inúmeras adaptações além da versão Grimm, com cada iteração refletindo os valores e gostos de seu tempo. A adaptação mais famosa é o filme de animação de Walt Disney Branca de Neve e os Sete Anões, lançado em 1937. Este filme foi inovador, pois foi o primeiro longa-metragem de animação e estabeleceu o padrão para narrativas animadas. A adaptação da Disney suavizou os elementos mais sombrios do conto original, focando em vez disso nos temas de amor, amizade e felicidade.

Na versão da Disney de 1937, a personagem Branca de Neve é ​​retratada como inocente e bondosa, incorporando o ideal de beleza e virtude feminina. Os anões recebem personalidades distintas, proporcionando alívio cômico e adicionando calor à narrativa. A Rainha Má, embora ainda retenha sua intenção maliciosa, é retratada com menos ênfase na brutalidade, mostrando em vez disso sua obsessão pela beleza. Esta adaptação popularizou a história globalmente e levou a uma mudança drástica na representação dos contos de fadas na mídia, inclinando-se para versões mais otimistas e familiares.

Além disso, adaptações mais recentes ofereceram recontagens inovadoras, como Branca de Neve e o Caçador e Espelho, Espelho Meu, que revisitam os temas do conto com um toque moderno. Essas versões exploram motivações mais profundas dos personagens e oferecem interpretações mais complexas da história tradicional. A evolução de Branca de Neve no cinema contemporâneo reflete as atitudes sociais em mudança em relação aos papéis de gênero e à representação de personagens femininas, afastando-se de donzelas passivas em perigo para heroínas fortes e ativas.

A história de Branca de Neve mostra a adaptabilidade do folclore e sua capacidade de ressoar com o público através das gerações. De suas origens nos contos de fadas europeus às várias adaptações que surgiram ao longo dos anos, Branca de Neve continua sendo uma narrativa poderosa que explora temas de beleza, ciúme e a luta entre o bem e o mal. Cada versão contribuiu exclusivamente para o legado da história, revelando valores sociais, normas culturais e o fascínio duradouro por contos de encantamento. À medida que a narrativa continua a evoluir, a essência de Branca de Neve perdura, lembrando-nos das lutas atemporais que definem a experiência humana.


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