No ínicio de 2024, a minissérie Bebê Rena veio ganhando uma força nas redes sociais que transformaram a minissérie em u fenômeno global. O mesmo está acontecendo com Adolescência. A produção da Netflix foi escrita por Stephen Graham, que também a estrela como o pai surpreendido quando o filho de 13 anos é acusado de assassinato. Em quatro episódios intensos viajamos pela incômoda realidade global dos pais da Geração X lidando com os Millenials. O mistério do século 21.

Aqui, Graham volta a fazer uma parceria com Philip Barantini, coautor da série, depois que os dois abocanharam vários prêmios e a adoração da crítica com o filme O Chef (Boiling Point), com tomadas contínuas exploradas com ainda maior precisão em Adolescência e um texto sensível, até incômodo, sobre o isolamento emocional e os perigos da Internet e Redes Sociais nas vidas dos jovens.
A inteligência da narrativa começa com poucas explicações e o espiral que começa às seis da manhã, com a polícia invadindo a casa dos Millers para prender Jamie (Owen Cooper, em sua estreia e já uma estrela). O menino de 13 anos, apavorado e alegando inocência, é preso pelo assassinato de uma adolescente que estuda na escola dele. Eddie (Graham), seu pai, o acompanha e o defende, mas as provas são irrefutáveis, sendo apenas o começo de muitas surpresas.
Há várias questões incômodas na história que não tem reviravoltas, mas que nos surpreende pelo realismo e questionamento tão atual. Cada episódio é filmado inteiramente em uma tomada por uma hora, em um show técnico assim como de interpretação onde um por um, nos concentramos em um ponto diferente da história, até costurá-la por completo, quando a prisão afeta o adolescente e sua família irremediavelmente. Tudo está perfeito: a trilha sonora, as relações, as explicações e o desfecho arrebatador.

A trama é tão realista que muitos já se jogaram para pesquisar “a história real que inspirou a série”, mas o mais triste é que sim, o roteiro nasceu de uma matéria que impressionou o ator Stephen Graham, mas como ele mesmo diz, um crime que seria até corriqueiro na vida atual. Graham ficou chocado ao ver um jovem de 13 anos ser preso por ter esfaqueado uma colega e se viu perguntando sobre os pais dele, e como ele, Graham, apenas achava que conhecia bem os próprios filhos, mas na verdade sabe pouco sobre suas vidas online. “Um dos nossos objetivos era perguntar: ‘O que está acontecendo com nossos jovens hoje em dia e quais são as pressões que eles enfrentam de seus colegas, da internet e das mídias sociais?’”, Graham disse à Netflix. “E as pressões que vêm de todas essas coisas são tão difíceis para as crianças aqui quanto são no mundo todo.”
Adolescência retrata com precisão policiais, professores, psicólogos, adolescentes e pais contemporâneos convidado ao público refletir e reconhecer os perigos do uso desenfreado dos telefones e redes sociais, com seus códigos, pressões e ameaças, num quadro onde nem o amor e carinho são suficientes para proteção dos jovens. Embora os minutos iniciais criem o suspense se Jamie é mesmo um assassino, quando a verdade é revelada já estamos assustados e presos. Nos dizemos “mas é uma criança!”, e ainda assim, é um assassino.

O mistério não é o crime, mas a razão da violência e ela não é algo distante de muitas famílias ao redor do mundo. Jamie é um bom garoto e amado, mas tem baixa autoestima, sofre bullying online, e ainda é humilhado publicamente: é uma bomba relógio sem que os pais nem desconfiem do perigo. Nem mesmo os detetives que investigam o caso estão isentos de vivenciarem algo parecido com os próprios filhos.
É complexo eleger um melhor episódio, mas o mais marcante é o terceiro, quando conhecemos o verdadeiro Jamie em uma sessão com a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty). Ela está incumbida de avaliar o estado mental do adolescente para o julgamento e no jogo de xadrez que dura todo episódio, vemos todos os lados de uma tragédia que parece ser possível de ser evitada (só que não).

Stephen Graham é um dos atores mais aclamados e adorados no Reino Unido no momento e a série comprova a razão. Mas, acima de tudo, é a performance de Owen Cooper que nos toca a alma. em seu primeiro trabalho, ele já é um dos mais notáveis navegando em emoções de medo, raiva e vulnerabilidade como poucos.
Adolescência é um retrato crível e perturbador das complexas realidades que os jovens enfrentam na era digital, com pressões externas que os tornam vulneráveis a consequências extremas. Uma experiência emocional intensa que deixa o público refletindo sobre os limites da proteção e a complexidade do comportamento juvenil no século 21. Imperdível.
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