Era virtualmente impossível, mesmo dentro da impressionante aprovação geral e mundial, que Adolescência fosse escapar de alguma polêmica ou questionamento nas redes sociais. Embora esteja sendo aclamada por muitos por sua representação realista de questões sociais, culturais e de identidade, a série também está no coração de algumas polêmicas significativas, que se tornaram tópicos de debate entre críticos, espectadores e até mesmo dentro da própria indústria cinematográfica e televisiva. Essas polêmicas envolvem tanto a forma como certos temas são tratados quanto as escolhas narrativas feitas ao longo da série.
A partir da decisão de focar em uma família e ter apenas quatro episódios, os outros momentos de peso dramático que percorrem a tela, especialmente no segundo episódio, despertaram críticas por serem unidimensionais, simplistas e até superficiais. O principal problema, no entanto, foi a escolha de colocar uma família harmoniosa e branca liderando o drama, enquanto a misoginia nas redes sociais recebia maior destaque.

Stephen Graham e Jack Thorne, os showrunners, insistem que Adolescência não é inspirada em uma única história, algo que vem sendo questionado, pois o drama dos Millers é muito parecido com o trágico assassinato de Elianne Andram, uma estudante esfaqueada até a morte em Croydon, no sul de Londres. O assassino, Hassan Sentamu, de família de imigrantes de Uganda, esfaqueou Elianne várias vezes por raiva, em setembro de 2023. Graham citou outros casos, como o de Ava White, uma menina de 12 anos esfaqueada até a morte em Liverpool, como parte de um conjunto de situações e um sinal perigoso do que está acontecendo com a juventude. Os roteiristas insistem que a história deles foi criada para expor o lado obscuro das mídias sociais, onde meninos são vítimas da cultura influente da manosfera e do incel, e onde os traços tóxicos em adolescentes podem matar sua inocência, além de explorar o efeito cascata de seus atos violentos nas famílias. Temas como raça, misoginia e imigração são abordados de forma relevante, de acordo com eles.
Ainda assim, há outra personagem que vem ganhando espaço entre os fãs da série e que Thorne admite que gostaria de ter explorado mais. Estou falando de Jade, a adolescente negra e melhor amiga da vítima, que se destaca como uma das interpretações de maior impacto no segundo episódio, focado na escola e nos alunos.
Interpretada pela iniciante Fatima Bojang, Jade é uma personagem complexa e emocionante, que tem conquistado elogios dos roteiristas e do público. Revoltada pela perda de sua única amiga, Jade se torna um personagem tão significativo quanto Jamie (Owen Cooper), mas, de maneira geral, sua trajetória permanece um mistério — algo que Thorne admitiu que merecia ter sido mais explorado.

Fatima Bojang, como sua personagem, nasceu em uma comunidade de imigrantes, e demonstra que tem muito a oferecer em futuras oportunidades. Em Adolescência, que a colocou definitivamente no radar do público e da crítica, ela trouxe à tona as complexidades de ser uma imigrante tentando encontrar seu lugar em uma sociedade ocidental. Sua personagem é um reflexo de uma juventude marcada pela luta constante para equilibrar os valores familiares e culturais com a pressão de se adaptar às normas e expectativas da cultura ao seu redor. Essa busca por identidade, aceitação e pertencimento é central para a trama, e Fátima a interpreta com uma sensibilidade ímpar, capaz de expressar as emoções mais sutis — desde as inseguranças típicas da adolescência até as batalhas internas surgidas quando alguém é confrontado com o dilema de pertencer a duas culturas.
Foi devido à sua excelente interpretação de Fatima que hoje ela está ligada a uma das principais críticas da série. Embora a presença de Jade seja um passo importante para a inclusão e diversidade, a ausência de uma visão mais equilibrada da personagem levantou o questionamento se a série realmente capturou a totalidade da experiência de uma jovem imigrante ou se contribuiu para representar uma visão reducionista da vida desses jovens, focando apenas nas dificuldades e deixando de lado outras dimensões da vida de uma jovem em formação, como suas conquistas, alegrias e momentos de superação.
Por tudo isso e mais é que Adolescência se tornou um fenômeno de discussões acaloradas, não apenas por sua qualidade narrativa, mas também pelos pontos sensíveis que passeiam pela tela de forma realista e urgente. A série certamente já se tornou um marco, um reflexo de um momento cultural em que as discussões sobre diversidade, identidade e inclusão são mais relevantes do que nunca.
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