Sylvie Guillem: a inspiração para Cheyenne em Étoile?

Étoile nem estreou e já precisamos traçar um paralelo. A série que vai explorar o universo da dança, tem desde já uma personagem que promete ser divisiva e popular: Cheyenne, a estrela do Opéra de Paris, interpretada pela atriz e bailarina Lou de Laâge. E – pelo trailer – fica bem sugerido que Cheyenne é inspirada em uma das mais brilhantes e lendárias bailarinas de todos os tempos: a complexa Sylvie Guillem.

Antes: quem é Lou de Laâge?

Lou de Laâge é uma atriz e bailarina francesa, com uma formação artística que mistura o balé e a interpretação dramática. Sua carreira começou no balé, onde desenvolveu uma forte base técnica e sensibilidade artística, algo que mais tarde influenciaria profundamente sua abordagem como atriz. Desde jovem, Lou se envolveu com a dança, mas foi ao começar sua carreira cinematográfica que ela ganhou notoriedade.

Sua trajetória no cinema começou a se destacar a partir de seu papel no aclamado filme Respire (2014), dirigido por Mélanie Laurent, no qual interpretou uma jovem mulher em um enredo emocionalmente intenso sobre amizade e obsessão. O filme foi um marco na carreira de Lou, destacando-a como uma atriz promissora e talentosa. A interpretação foi aplaudida pela crítica, e Lou rapidamente se firmou como uma das jovens atrizes mais interessantes do cinema francês contemporâneo.

Além de Respire, Lou de Laâge esteve nos filmes Jappeloup (2013) e La Saison des Femmes (2016), onde já sinalizou que gosta de personagens complexas. Sua experiência como bailarina clássica será finalmente revelada e explorada em Étoile, que explora o universo do balé e as tensões e desafios desse ambiente.

Cheyenne é uma super estrela que será “trocada” para passar um ano em Nova York, trazendo com ela – além do talento e habilidade de vender ingressos – uma personalidade apavorante e difícil. Como atriz e bailarina, ela tem a combinação perfeita de técnica e sensibilidade emocional para dar vida a uma personagem que provavelmente desafia as convenções do balé clássico. Para quem acompanha o mundo da dança, Cheyenne parece muito com Sylvie Guillem, hoje aposentada, mas uma das maiores estrelas do balé clássico no século 20.

Cheyenne e Sylvie: um espelho claro

Assim como Cheyenne em Étoile, Sylvie Guillem foi uma bailarina que sempre priorizou sua busca pela liberdade artística e manteve uma postura irreverente no mundo da dança que fizeram dela uma artista temida e adorada ao mesmo tempo. Podemos traçar paralelos entre a vida de Guillem e as possíveis características de Cheyenne porque pelo que vimos no trailer, ambas compartilham uma personalidade forte e desafiadora, que questiona as normas e convenções do balé clássico.

Sylvie Guillem foi descoberta ainda adolescente por ninguém menos do que Rudolf Nureyev e, ao longo de sua carreira, não hesitou em romper com o sistema tradicional da dança, afastando-se da Ópera de Paris para seguir um caminho artístico mais livre e contemporâneo. Esse desejo de liberdade criativa, que muitas vezes a levou a se confrontar com figuras do meio artístico, pode ser refletido na personagem Cheyenne, que provavelmente também será uma artista à frente de seu tempo, disposta a explorar novas formas de expressão e a colaborar com coreógrafos inovadores.

Além disso, a busca pela perfeição técnica e pela inovação, marcas registradas de Sylvie Guillem, também pode ser um traço de Cheyenne. Guillem era admirada por sua habilidade técnica impecável e pela ousadia de levar a dança a novos limites, explorando novas linguagens dentro do balé. É possível que Cheyenne, como Guillem, seja retratada como uma bailarina que impressiona não apenas pela sua técnica refinada, mas também pela sua disposição em desafiar o que se espera de uma artista no contexto da dança clássica. Esse desejo de romper com padrões estéticos e formais pode ser uma das principais características que ela compartilha com a bailarina francesa.

Porém, talvez a semelhança mais marcante entre Cheyenne e Sylvie Guillem seja o confronto com a autoridade do meio artístico. Sylvie Guillem não foi estranha às polêmicas, sendo muitas vezes vista como uma figura antagônica devido à sua postura crítica em relação às exigências físicas e emocionais impostas aos bailarinos. Se a personagem Cheyenne seguir essa linha, é possível que ela também seja retratada como uma artista que se recusa a se submeter aos padrões rígidos da indústria da dança, gerando assim tensão com outros profissionais ou até mesmo com os próprios públicos da série.

Portanto, embora Cheyenne seja uma personagem com sua própria trajetória e história, não é difícil perceber que ela pode carregar ecos de Sylvie Guillem, especialmente no que diz respeito à sua personalidade forte, sua busca por autenticidade e inovação, e seus conflitos com a estrutura tradicional da dança. A série Étoile, ao criar essa personagem, pode explorar temas universais de rebeldia artística e os desafios que surgem ao tentar conciliar a tradição com a modernidade, algo que Guillem fez de forma tão impactante em sua carreira.

Sylvie Guillem: a superestrela temperamental e brilhante

Sylvie Guillem é uma das bailarinas mais renomadas e controversas da história da dança clássica, ela começou sua formação artística muito jovem, ingressando na Escola Nacional de Ballet de Paris aos 11 anos. Seu talento excepcional a levou rapidamente a se destacar, e aos 16 anos foi aceita como primeira bailarina na companhia de ballet da Ópera de Paris, uma das mais prestigiadas do mundo.

Carreira artística

A carreira de Sylvie Guillem é marcada por uma combinação impressionante de técnica impecável e uma expressão artística única. Ela se tornou famosa por seu estilo ousado e inovador dentro do balé clássico, desafiando convenções e quebrando as barreiras do que se esperava de uma bailarina clássica. Sua habilidade de transitar entre os papéis mais tradicionais e os mais experimentais fez dela uma figura singular no mundo da dança.

Guillem teve uma longa carreira na Ópera de Paris, mas, com o tempo, começou a se distanciar das produções tradicionais. Sua decisão de se afastar da Ópera de Paris, em 1989, gerou grande repercussão, mas também simbolizou seu desejo de seguir um caminho artístico mais livre, explorando novas formas de expressão. Ela foi uma das primeiras a realizar colaborações com artistas contemporâneos e a buscar novas linguagens dentro da dança, atuando em peças de coreógrafos inovadores como William Forsythe, Mats Ek e Jiří Kylián. Essa busca constante pela inovação e pela quebra de limites a estabeleceu como uma das maiores estrelas da dança contemporânea.

Em 2006, Sylvie Guillem anunciou que deixaria os palcos de balé clássico, concentrando-se em performances mais modernas e contemporâneas. Esta transição foi vista como mais um passo audacioso em sua carreira, mantendo sua reputação de artista que não se prendia a fórmulas e que tinha uma visão clara de seu caminho artístico. Ela continuou a se apresentar como uma das mais talentosas bailarinas do mundo, mas agora com um foco maior na dança contemporânea.

Personalidade e polêmicas

A personalidade de Sylvie Guillem é um dos aspectos mais fascinantes de sua carreira. Muitas vezes descrita como uma pessoa de temperamento forte e com uma postura irreverente, ela se destacou tanto por seu talento quanto por sua atitude. Sua personalidade de “diva”, embora tenha sido uma fonte de críticas, também se tornou parte de seu charme inconfundível. Guillem sempre se mostrou autêntica e verdadeira consigo mesma, não hesitando em expressar suas opiniões e, frequentemente, desafiando normas sociais e artísticas.

Uma das grandes polêmicas envolvendo Guillem aconteceu em 1997, quando ela foi afastada da companhia de balé da Ópera de Paris após se recusar a se apresentar em algumas produções. Ela defendeu sua liberdade artística, recusando papéis que não correspondiam ao seu estilo ou que não se alinhavam com sua visão sobre a arte da dança. Sua postura, considerada por muitos como arrogante ou desafiadora, na verdade reflete seu compromisso com a qualidade artística e seu desejo de não se conformar com as expectativas da indústria.

Em uma entrevista ao Le Monde, Sylvie revelou que, ao longo de sua carreira, se sentiu muitas vezes como um “produto” da indústria cultural, sendo pressionada a seguir um caminho que não fosse o seu. Ela sempre se mostrou insatisfeita com o sistema tradicional do balé e o modo como a fama e a pressão pelo sucesso interferiam em sua liberdade criativa. Este ponto de vista foi amplamente criticado, mas também admirado por muitos que viam nela uma verdadeira representante do espírito da arte sem concessões.

Além disso, Guillem teve relações conflituosas com algumas das grandes figuras da dança e com alguns colegas de profissão, em parte devido à sua tendência de se impor e de desafiar as regras estabelecidas. Ela nunca escondeu sua opinião sobre os aspectos negativos do mundo do balé clássico, como a pressão para atingir padrões físicos e estéticos, frequentemente criticados por ela por serem excessivos e por prejudicarem a saúde dos bailarinos. Essa crítica ao mundo elitista e rígido da dança fez com que algumas pessoas a vissem como uma figura antagônica, enquanto outras a admiravam por sua coragem em falar abertamente sobre questões tão delicadas.

Legado

Apesar das polêmicas que marcaram sua trajetória, Sylvie Guillem construiu um legado que transcende as críticas. Seu compromisso com a arte, sua busca constante por inovação e sua disposição para explorar novas linguagens e movimentos dentro da dança a tornam uma das figuras mais influentes da arte da dança do século 21. Ela permanece como uma das grandes referências da dança, não apenas pelo seu virtuosismo técnico, mas também pela coragem de se manter fiel à sua própria visão artística e pela sua luta por um espaço mais livre e criativo para os artistas.

Em seus últimos anos de carreira, Guillem se tornou uma defensora ativa da dança contemporânea e das novas formas de expressão corporal, o que consolidou sua posição como uma das artistas mais visionárias de sua geração. Mesmo com sua retirada dos palcos, a sua marca na dança continua a ser forte, sendo uma das grandes inspirações para jovens bailarinos que desejam seguir um caminho fora das convenções tradicionais.

Sylvie Guillem não é apenas uma bailarina; ela é uma ícone cultural que desafiou as normas e redefiniu o que significa ser uma artista na era contemporânea. E por isso mesmo, certamente é a maior inspiração para Étoile.


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