Nos últimos anos, o termo “incel” tem ganhado destaque em debates sobre violência, misoginia e os perigos das comunidades online. A palavra, uma abreviação de “involuntary celibate” (celibatário involuntário), refere-se a um grupo de indivíduos, majoritariamente homens, que se sentem rejeitados romanticamente e, em alguns casos, desenvolvem sentimentos de raiva e hostilidade contra mulheres e a sociedade. Essa cultura subterrânea tem sido associada a atos de violência extrema, incluindo massacres e assassinatos.
O assassinato de quatro estudantes na Universidade de Idaho, em novembro de 2022, trouxe essa discussão à tona. O principal suspeito, Bryan Kohberger, estudante de criminologia de 28 anos, foi acusado de matar brutalmente quatro jovens universitários enquanto eles dormiam. Embora os promotores ainda não tenham confirmado uma conexão direta com a cultura incel, especialistas apontam padrões de comportamento que se encaixam em características comuns desse grupo, como isolamento social e dificuldades de interação romântica.

Esse caso trágico ressalta como algumas comunidades na internet podem reforçar ideologias destrutivas, oferecendo espaços onde indivíduos frustrados encontram validação para seus sentimentos de rejeição e raiva. O crescente número de incidentes violentos associados a essa subcultura levanta questões sobre o impacto do isolamento social e da radicalização digital na juventude.
A Representação na Ficção: Adolescência e a Influência do Mundo Digital
A temática dos incels e seus impactos na sociedade também é explorada na minissérie britânica Adolescência, lançada na Netflix em março de 2025. A produção acompanha a história de Jamie Miller, um jovem de 13 anos que enfrenta bullying e isolamento social. Sua frustração o leva a se conectar com comunidades online, onde encontra discursos extremistas que moldam sua percepção de mundo. O enredo culmina em um evento trágico: Jamie é acusado do assassinato de uma colega de classe, um ato influenciado pelas ideias absorvidas na internet.
A série recebeu aclamação da crítica por sua abordagem realista e impactante. Com um formato de filmagem em plano-sequência e um roteiro que explora a vulnerabilidade juvenil, Adolescência tornou-se uma obra referencial para discutir o impacto do mundo digital na formação psicológica de adolescentes. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chegou a apoiar sua exibição em escolas do Reino Unido como forma de educar jovens sobre os perigos das redes sociais e da radicalização online.

Lembrando os detalhes dos Assassinatos de Idaho
Na madrugada de 13 de novembro de 2022, quatro estudantes foram brutalmente assassinados a facadas dentro de casa. As vítimas, Kaylee Goncalves, Madison Mogen, Xana Kernodle e Ethan Chapin, tinham entre 20 e 21 anos.
Na noite anterior ao crime, Kaylee e Madison estiveram em um bar, enquanto Xana e Ethan participaram de uma festa em uma fraternidade. Os quatro voltaram para casa por volta de 1h45 da manhã. Durante a madrugada, por volta das 4h, um homem invadiu o local e os atacou enquanto dormiam. O relatório da perícia indicou que algumas das vítimas tentaram se defender, mas não conseguiram escapar dos ferimentos fatais. Outras duas colegas estavam na casa, mas não foram atacadas; uma delas chegou a ver um homem mascarado saindo da residência, mas, em estado de choque, demoraram a chamar a polícia.
Durante semanas, a polícia investigou diversas pistas até chegar a Bryan Kohberger, que cursava doutorado em criminologia em uma universidade a poucos quilômetros do local do crime. Seu carro foi identificado através de imagens de câmeras de segurança, e foram encontrados registros de celular que o colocam na área no horário dos crimes. Embora sejam detalhes circunstanciais, uma amostra de DNA encontrada na cena é compatível com a do estudante. Seu comportamento após o crime também levantou suspeitas, pois viajou repentinamente para a Pensilvânia com o pai e demonstrou sinais de nervosismo. Kohberger foi preso em 30 de dezembro de 2022 e formalmente acusado dos quatro homicídios e invasão de domicílio. Os promotores buscam a pena de morte, mas ele se declara inocente.

Os Pontos Comuns entre Série e Realidade
Tanto o crime real da Universidade de Idaho quanto a trama fictícia da série Adolescência envolvem jovens que, de diferentes formas, se sentiram deslocados da sociedade e, ao invés de buscar apoio ou ajuda psicológica, mergulharam em uma espiral de ressentimento que culminou em atos extremos. No caso de Kohberger, conhecidos relataram que ele tinha dificuldades de socialização e um histórico de frustrações românticas, características que alguns associam ao perfil incel, embora sua conexão direta com essa comunidade seja incerta. Já na série, Jamie Miller sofre bullying e, sem apoio adequado, mergulha em comunidades online que reforçam sua visão negativa do mundo, levando-o a cometer um crime violento.
Na vida real, a suspeita de que Kohberger tenha o complexo incel foi levantada por especialistas do FBI, diante de textos e posts dele que são alinhados com o perfil de homens que se identificam como incels: os que geralmente têm problemas de saúde mental e vivenciam sentimentos de vitimização, inferioridade e solidão.

Outro paralelo entre o caso e a série da Netflix é a premeditação. Kohberger foi acusado de monitorar suas vítimas antes do crime, assim como Jamie, na série, passa por um processo de radicalização antes de cometer seu ato violento. Ambos os casos mostram como indivíduos isolados podem ser perigosamente influenciados por ideologias destrutivas e como o ambiente digital pode reforçar padrões de pensamento que levam à violência.
O Caso de Idaho e a Atualidade: O Que Esperar em 2025
Atualmente, o julgamento de Bryan Kohberger está marcado para agosto de 2025, e todos esperam descobrir mais detalhes sobre a motivação do crime. A interseção entre o caso real de Idaho e a narrativa fictícia de Adolescência reforça a necessidade de compreensão e prevenção, especialmente em relação ao impacto das comunidades online na juventude.
O debate sobre violência, isolamento social e radicalização digital nunca foi tão urgente.
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