Estou atrasada uns dias, mas é preciso fazer a homenagem à um dos melhores atores da história do cinema: Spencer Tracy, cujo data de nascimento completou 125 anos em 5 de abril. Em tempos em que o cinema era sinônimo de teatro gravado, Tracy se destacou por sua habilidade em interpretar papéis complexos com uma naturalidade impressionante.
Foi o primeiro ator a ganhar o Oscar de Melhor Ator por dois anos seguidos, apenas em 1993 e 1994 que Tom Hanks igualou o feito, mas ainda mais que seus papéis icônicos nas telas, foi sua conturbada história de amor com a atriz Katharine Hepburn que manteve seu nome e vida pessoal em evidência, incluindo sua luta pessoal com o alcoolismo.

Spencer Bonaventure Tracy nasceu em 5 de abril de 1900, em Milwaukee, Wisconsin e teve uma infância foi marcada por dificuldades, incluindo a morte de sua irmã quando ele ainda era criança e o estresse gerado por seu pai, que trabalhava como vendedor. Tracy foi educado em escolas católicas, e durante esse período, desenvolveu seu gosto pelo teatro. Chegou a estudar engenharia, mas sua verdadeira paixão sempre foi a atuação e depois de se formar, se mudou para Nova York e começou a buscar oportunidades no teatro.
A carreira de Tracy no teatro teve início com pequenas atuações em peças de baixo orçamento, até que ele foi descoberto pelo diretor de teatro George Abbott e passou a estrelar peças de sucesso. Em 1930, Hollywood bateu à sua porta.
Contratado pela Fox estreou em Up the River, de John Ford, logo se tornando um nome relevante na capital do cinema, e se consolidando como um dos principais atores da indústria, principalmente devido ao seu estilo de atuação realista, em contraste com o exagero e a teatralidade de muitos de seus contemporâneos. Conhecido por seu temperamento forte e por sua habilidade em interpretar personagens complexos e de múltiplas facetas, ele não se limitava aos papéis heróicos, o que era outro diferencial.
O grande ponto de virada na carreira de Tracy foi justamente sua parceria com a atriz Katharine Hepburn. Os dois já eram estrelas, mas sua química inegável rendeu uma série de sucessos e a assinatura “Tracy Hepburn” que era sinônimo de qualidade. Assim, Tracy se estabeleceu definitivamente como um dos maiores atores da era dourada de Hollywood.
Em termos de estilo de atuação, Tracy era conhecido por sua habilidade em imitar o comportamento natural das pessoas no cotidiano. Ele não era o tipo de ator que se mostrava excessivamente dramático ou teatral; sua força estava na sua capacidade de atuar de forma contida e genuína, muitas vezes lidando com personagens moralmente complexos ou frustrados, mas sempre de forma honesta.

Problemas Pessoais e Alcoolismo
Apesar de seu sucesso na tela, a vida pessoal de Spencer Tracy estava longe de ser tranquila. O ator sofreu de problemas com o alcoolismo durante grande parte de sua vida adulta, algo que teve um impacto negativo em sua saúde e no seu comportamento. Sua luta com o vício era bem conhecida e muitas vezes se refletia em sua vida profissional, já que ele frequentemente chegava atrasado nos sets de filmagem ou não conseguia manter o foco durante os trabalhos.
Esse problema com o álcool teve um impacto particularmente negativo em seu casamento com sua esposa, Louise Treadwell, com quem teve dois filhos. A relação entre eles era tensa e, embora o casal estivesse legalmente casado, a verdadeira paixão de Tracy parecia estar em sua parceria com Hepburn. Apesar de seu relacionamento extraconjugal com Hepburn ter sido duradouro e intenso, Tracy continuava casado com Treadwell até sua morte.
O alcoolismo de Tracy também prejudicou sua saúde física. Nos últimos anos de sua vida, ele estava claramente debilitado e enfrentando sérios problemas de saúde relacionados ao álcool. Em 1967, durante as filmagens de Guess Who’s Coming to Dinner, ele estava fisicamente comprometido e com dificuldades para atuar.
Relação com Katharine Hepburn
A relação de Spencer Tracy com Katharine Hepburn é um dos aspectos mais fascinantes de sua vida. Eles formaram uma das duplas mais icônicas do cinema, com uma química que transparecia tanto nas telas quanto fora delas. No entanto, o relacionamento deles foi conturbado, com muitos altos e baixos, principalmente devido ao alcoolismo de Tracy e ao seu casamento problemático com Louise Treadwell. Tracy e Hepburn viveram um romance discreto por mais de 25 anos, mas ele nunca se divorciou, e Hepburn, por respeito a ele, também manteve o relacionamento em segredo do público.

Mais tarde, a atriz falaria abertamente sobre o impacto emocional de ser a “outra” e como a situação foi difícil, apesar de sua paixão por Tracy. No entanto, apesar da complexidade emocional do relacionamento deles, sua parceria no cinema foi notavelmente bem-sucedida, com os dois sendo indicados ao Oscar em diversas ocasiões e formando uma das mais respeitadas duplas do cinema clássico.
Reconhecimento e Oscars
Tracy ganhou dois Oscars de Melhor Ator: o primeiro em 1937 por sua performance em Captains Courageous (1937) e o segundo em 1942 por How Green Was My Valley (1941). Sua vitória em 1937 foi um reconhecimento de sua versatilidade, enquanto o Oscar de 1942 solidificou sua posição como um dos maiores atores de sua geração. Além dos dois prêmios principais, ele também recebeu diversas indicações ao longo de sua carreira, incluindo por papéis como Judgment at Nuremberg (1961) e Guess Who’s Coming to Dinner (1967).
Defeitos Pessoais e Impacto Duradouro
Spencer Tracy não era uma figura imaculada, e seus defeitos pessoais — especialmente seu alcoolismo — frequentemente ofuscavam sua vida pessoal. Sua dependência do álcool afetava não apenas sua saúde, mas também sua capacidade de manter relacionamentos estáveis, como o casamento com Louise Treadwell. Sua recusa em deixar sua esposa para ficar com Katharine Hepburn também foi vista como uma falha de caráter, mas isso não diminuiu o impacto de sua atuação no cinema.

Além disso, o fato de ele ser muitas vezes visto como uma pessoa reclusa e solitária em sua vida pessoal, contrastava com sua imagem pública de galã e herói moral, o que tornava seu legado ainda mais complexo.
Com um legado que transcende as telas de cinema, Tracy não foi apenas um grande ator; foi um homem com falhas e virtudes, mas, acima de tudo, um artista cuja humanidade ressoou de maneira única nas telas. E é essa mistura de grandeza e fragilidade que, até hoje, faz de sua memória uma homenagem constante à arte de atuar.
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