Hacks volta com novos conflitos geracionais e risos nervosos: tudo que a gente adora

Nunca escondi que sempre fui tiete apaixonada de Jean Smart e desde que Hacks estreou na MAX, em 2021, ela vem ganhando todos os prêmios de atriz com todos os méritos. A série foi um tanto barrada pela febre de O Urso (na categoria errada), mas nos últimos anos mudou o percursso e hoje é a série de comédia mais premiada em produção. Sim, é mais dramática do que cômica, mas espetacular.

Há muito o que elogiar em Hacks. Feita por jovens showrunners que ousaram colocar uma atriz acima dos 60 para liderar o elenco, é uma série sobre comédia, mas também sobre poder, envelhecimento, adaptação e a dinâmica entre duas mulheres de gerações diferentes, ambas lutando para se manter relevantes na indústria do entretenimento. Lucía Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, equilibram nostalgia, profundidade e comédia em uma visão complexa e bem-humorada sobre o show business, com ênfase nas relações humanas, especialmente a de Deborah Vance (Jean Smart) e Ava Daniels (Hannah Einbinder), as duas protagonistas.

No início dessa jornada, Deborah já era uma comediante veterana, famosa por seu show de stand-up em Las Vegas, com uma carreira que teve seus picos de sucesso e se encontra em declínio. Ao longo das temporadas vemos que ela é uma mulher pragmática e, ao mesmo tempo, profundamente insegura sobre sua relevância e sua idade, que é vista como um obstáculo na indústria. Ela possui uma personalidade forte e controladora, mas também há uma fragilidade por trás dessa fachada. Narcisa, insuportável e talentosa, é difícil dizer que “adoramos” Deborah Vance. Mas amamos.

A personagem é inspirada em uma combinação de várias figuras da comédia feminina dos anos 60, 70 e 80, como Joan Rivers, que teve que lutar contra o envelhecimento na indústria, e Phyllis Diller, conhecida pelo seu humor autodepreciativo e irreverente. Joan Rivers, em particular, teve uma carreira semelhante: uma pioneira no stand-up feminino que enfrentou enormes desafios relacionados ao seu envelhecimento e ao espaço que as mulheres ocupavam no mundo da comédia.

Já Ava é uma escritora de comédia jovem e ambiciosa que, após ser cancelada por um tweet problemático, vê sua carreira estagnada. Ela é contratada para trabalhar com Deborah, o que cria uma tensão imediata, pois Ava representa o novo mundo da comédia e da cultura pop — mais inclusiva e consciente — enquanto Deborah é uma veterana que não tem paciência para esses “novos valores”. Ao longo da série, Ava passa por uma evolução emocional, saindo do papel de uma jovem imatura e egoísta para uma mulher que, de alguma forma, encontra uma forma de amadurecer na indústria.

A composição de Ava também é tirada de pessoas reais, em especial comediantes e roteiristas contemporâneas como Amy Schumer ou Tig Notaro, que representam uma nova geração de humoristas com uma abordagem mais crua e autoirônica. Elas desafiaram normas e renovaram o espaço para mulheres na comédia, assim como Ava tenta “revolucionar” o show de Deborah, propondo um humor mais “moderno”.

Há muito drama na vida pessoal de casa um, mas o que move a série é o amor-e-ódio que uma sente da outra. A tensão é a dinâmica das duas, numa relação de antagonismo que evolui para uma parceria complexa, com um toque de amizade.

Claro que o combustível principal gira em torno do choque de gerações. Enquanto Deborah representa uma comédia clássica, voltada para os estilos de humor de décadas passadas, Ava tenta modernizar e renovar o material de Deborah para o público atual. Este confronto de abordagens traz à tona questões de relevância na comédia e a dificuldade de se adaptar ao longo do tempo. Deborah não entende o que há de errado com seu estilo, que a fez uma estrela, e Ava, por outro lado, vê um potencial em modernizar sua abordagem para que ela sobreviva.

E sempre que achamos que as duas estão se entender, temos confusões que as afastam. A quarta temporada alterna a dinâmica de poder entre elas. Uma das obsessões de Deborah era a de quebrar o machismo reinante na TV e ser apresentadora de um talk show. Por isso, não confia que Ava, mesmo talentosa, possa ser a pessoa ideal para liderar a redação do programa. Mas Ava, já escolada na dinâmica da estrela, dá uma cartada (a velha e boa chantagem) e se impõe na posição, criando, obvio, tensão a mais e dispensável para todos.



Se tem algo que Deborah adora é ser desafiada e quando a reencontramos vemos que ela ainda tem prazer em sabotar Ava. Só que sua personalidade extra complexa para os tempos atuais também a coloca em sinucas. Eu adoro que miha amiga pessoal, a reporter Stacey Wilson Hunt seja a jornalista que tira Deborah do sério na coletiva. Stacey jamais perguntaria do jeito que a série colocou, mas a pergunta sobre preconceituo de idade e sexismo, era válida. E previsível, como Ava alertou.

Mas é apenas o começo de temporada, Deborah em geral sempre dá uma arrancada na disputa e é Ava que continua na espiral de sofrimento. O golpe na comediante vem quando recebe notícias que não quer ouvir (como a de Marcus a deixando), o que alimenta seu já exagerado senso de paranóia. Não darei mais spoilers, mas é claro que as duas emitem vibração de Tom e Jerry, a briga nunca é a final e sempre há uma virada para um novo round. Desde que ambas acabem por cima: estou dentro!


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