No universo de Star Wars, há uma série de heroínas — nem todas perfeitas, e muitas envoltas em mistério. No meu ranking pessoal, a Princesa Leia lidera a preferência por ser a pioneira. Depois dela, minha favorita não é Rey, mas Jyn Erso. Aliás, precisei de muitas décadas para concluir que, em uma galáxia tão fantasiosa, são as personagens mais “humanas” que mais me tocam. E nesse mundo, rapidamente incluo Bix Caleen, uma heroína trágica que entrou para a galeria feminina da franquia através da série Andor.
Bix Caleen não é lembrada em monumentos da Aliança Rebelde. Ela não aparece em Rogue One, nem é celebrada como Leia. Mas sua dor silenciosa, sua capacidade de suportar o insuportável, a coloca no centro daquilo que sustenta qualquer rebelião verdadeira: pessoas comuns esmagadas pelo sistema, que mesmo assim se recusam a desaparecer.


Interpretada por Adria Arjona, Bix traz uma camada ainda mais complexa ao meu herói favorito de toda a saga: Cassian Andor (Diego Luna). Na primeira temporada, fica claro que — embora não sejam mais amantes — os dois tiveram um relacionamento íntimo. É Bix quem, indiretamente, altera o destino de Cassian ao colocá-lo em contato com a trama que culminará em Rogue One.
E diferentemente de Leia no filme de 1977, que é torturada com uma injeção da verdade (já que “curiosamente” os truques Jedi de Darth Vader não revelaram para ele que Leia era sua filha ou ela revelou onde estavam os Rebeldes), Bix Caleen é submetida a táticas brutais e profundamente invasivas do Império. Isso a deixa apenas um fiapo do que foi. Seu sofrimento também serve como catalisador na trajetória de Andor.
A experiência traumática de Bix a transforma em um drama dentro do drama. Como a própria atriz comentou em entrevistas, a personagem passa a travar uma rebelião interna — a luta de se recuperar emocionalmente do que viveu.

Bix está sempre no coração e nos pensamentos de Cassian. A tortura que sofre não é apenas física ou psicológica: é existencial. O som das crianças dizonitas morre em seus ouvidos, mas permanece ecoando na alma. Bix é quebrada de forma diferente de outros personagens torturados em Star Wars. Ela entra num estado de dissociação, exaustão e delírio — algo assustadoramente humano. Essa devastação interna a torna símbolo de algo raramente retratado na saga: o trauma como uma guerra que continua mesmo após a fuga.
A temporada começa com a mecânica e seus companheiros ferrixianos vivendo como refugiados em outro planeta. A jornada de Bix, tentando voltar a ser uma pessoa “normal” depois do que viveu, é profundamente emocionante, especialmente se lembrarmos como chegou até lá.
A importância de Bix Caleen na primeira temporada de Andor
Bix Caleen entrou no radar dos fãs na primeira temporada como um interesse romântico de Cassian e permanece uma personagem misteriosa dentro do universo Star Wars. O mais curioso é que, apesar de sua importância, ela é completamente ausente nas produções seguintes, sendo ignorada em Rogue One. Ainda assim, SPOILER ALERT: na conclusão de Andor, fica claro que Bix é peça-chave na manutenção da esperança dos rebeldes. E de uma maneira inesperada.
Nascida em Ferrix, Bix herdou a oficina Caleen Salyard dos pais. Na 1ª temporada sabemos que ela e Cassian tiveram um romance no passado, mas Bix estava em um relacionamento com Timm Karlo, que se ressentia da proximidade entre ela e o ex. Apenas Cassian sabia de suas conexões com o mercado negro — vendendo peças, armas e itens imperiais valiosos.
Bix trabalhava como comerciante de peças mecânicas em Ferrix e mantinha uma ligação forte com o futuro rebelde. É ela quem apresenta Cassian a Luthen Rael, sem imaginar o quanto aquele encontro mudaria o destino de todos. Bix demonstra lealdade a Cassian, mas essa conexão traz consequências graves.

O desvio trágico para Bix é que Timm suspeitou que as conversas dela com Cassian eram algo mais do que negociações e trai os dois, revelando para o Império a localização do rival, que estava sendo procurado por ter matado dois oficiais do Império. Cassian escapa, mas Timm é morto e Bix é presa.
Infelizmente, a mecânica é prisioniera da grande vilã da história, a ambiciosa e cruel Supervisora do ISB, Dedra Meero. Diante do que considera a resistência de Bix (que na verdade não sabe muito), a jovem é torturada sob suas ordens em sua busca por pistas sobre Cassian Andor.

Submetida a um dos momentos mais brutais de toda a saga Star Wars, Dedra Meero e o Dr. Gorst torturam a jovem a forçando a ouvir os gritos gravados de crianças Dizonitas massacradas pelo Império — uma técnica de tortura psicológica que causa danos profundos.
No final da temporada, Cassian retorna a Ferrix para resgatá-la. Quando a encontra, Bix está debilitada, fraca, e profundamente traumatizada. Ainda assim, ela foge da cidade com a ajuda de aliados — o que inspira Cassian a mudar de ideia e se entregar a Luthen Rael. A rebelião, então, ganha dois de seus heróis mais sacrificados.

O grande amor de Cassian Andor
Ainda tenho espaço para imaginar uma história de amor entre Cassian e Jyn Erso. Mas a segunda temporada de Andor acrescenta um elemento ainda mais trágico ao seu arco: sua paixão por Bix.
Os dois reatam o relacionamento, e por ela, Cassian estaria disposto a abandonar a rebelião. Mas esse amor também é uma dor silenciosa — um laço que nunca é plenamente vivido, apenas sentido. SPOILER ALERT: a segunda temporada avança no tempo rapidamente, e nos leva até a véspera de Rogue One, amarrando todas as pontas soltas. Bix e Cassian se tornam parte do sacrifício silencioso que sustenta toda a rebelião.

O amor de Bix por Cassian não é romântico no sentido convencional — é memória, vínculo, um eco do que foi e talvez do que nunca mais poderá ser. Bix usa o amor como escudo. Mas também como âncora. No fim, é Cassian quem a resgata, mas é ela quem o ancora. Sem Bix, Cassian talvez não se tornasse rebelde — ou se tornasse um rebelde sem alma.
A química entre Diego Luna e Adria Arjona é inegável. Mesmo após ter sido, sem dúvida, a maior sofredora da primeira temporada, Bix segue enfrentando abusos e ameaças. Eventualmente, ela nos entrega algo mais poderoso do que armas ou estratégias: esperança. E lágrimas, também. Sua destruição emocional é tão severa que sua tragédia é, talvez, mais forte do que a de muitos que perecem. Sua dor e seu amor silencioso se tornam parte do sacrifício que sustenta a Rebelião. E isso é lindamente triste.
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