Com a estreia da segunda temporada de Andor, teremos uma história inesperadamente humana, dramática e complexa centrada em dois antagonistas: Syril Karn (Kyle Soller) e Dedra Meero (Denise Gough).

O que torna o relacionamento entre Syril e Dedra único é justamente o fato de ele não ser heroico, nem redentor, nem idealizado. Não é um “amor proibido” como o de Anakin e Padmé, nem uma faísca moral como o de Kylo e Rey. É um romance entre dois vilões que permanecem vilões, e que vivem uma história carregada de poder, obsessão e dependência emocional.
Syril começa sua trajetória como um subordinado zeloso da segurança corporativa, um funcionário anônimo com o uniforme ajustado e uma rigidez moral sufocante. Obcecado por regras, estrutura e pela ideia de justiça — mas não no sentido de equidade, e sim de ordem e controle — acredita profundamente no valor da autoridade e da cadeia de comando. Ao mesmo tempo, é um personagem deslocado, inseguro, profundamente afetado pela constante decepção da mãe e pela ausência de reconhecimento profissional. Representa o sujeito que não tem poder, mas anseia profundamente por ele. Seu desejo de ordem beira o fanatismo, o que o torna perigoso — não por malícia, mas por convicção.
Sua obsessão por Cassian Andor (Diego Luna) nasce quando o vê escapar da punição após matar dois prepostos da Pre-Mor Authority. Aquilo o consome. Syril não persegue Andor por vingança pessoal ou heroísmo — ele o persegue porque acredita que permitir sua liberdade ameaça todo o tecido da ordem que idolatra. Andor representa, para ele, o colapso da estrutura, o erro sistêmico, o “fora do lugar” que precisa ser corrigido. É uma fixação quase religiosa.

Ao ser humilhado, demitido e forçado a voltar a viver com a mãe controladora em Coruscant, Syril se agarra a essa obsessão como sua única fonte de propósito. Em paralelo, desenvolve uma fascinação perturbadora por Dedra Meero, agente da Inteligência Imperial que parece tudo aquilo que ele gostaria de ser: fria, competente, temida.
Dedra é meticulosa, ambiciosa e extremamente inteligente. Uma mulher que ascendeu dentro da estrutura patriarcal e brutal do Império graças à sua competência e capacidade analítica. No entanto, sua busca por “coerência nos dados” revela um lado sombrio: ela vê a população como peças a serem controladas e punidas.
Dedra é a versão mais refinada e poderosa do fanatismo que Syril representa. Enquanto ele sonha com ordem, ela a executa — com frieza e determinação. Ao longo da temporada, torna-se uma figura temida e respeitada no ISB. Ele a observa, a aborda, tenta se conectar. Dedra, inicialmente, o trata como um incômodo — um cão sem dono, latindo alto demais.

Mas algo muda no final da primeira temporada, quando Syril salva Dedra da multidão enfurecida em Ferrix. A cena, tensa e silenciosa, marca uma virada sutil. Pela primeira vez, Dedra é vulnerável. Pela primeira vez, Syril é necessário. A partir daí, a relação entre os dois toma um rumo inesperado.
Na segunda temporada, eles ficam juntos. Não é um romance idílico — é uma aliança entre cúmplices. Dedra, com sua frieza estratégica, vê em Syril um devoto útil. Ele a idolatra, e ela, em um gesto de domínio que beira o afeto, confronta a mãe abusiva de Syril, impondo limites que o próprio filho nunca conseguiu. É um gesto de posse tanto quanto de proteção. Ela assume seu lugar como parceira — e como comandante.
No entanto, essa união está condenada desde o início. Amor genuíno é algo estrangeiro para os dois — especialmente para Dedra.
SPOILER ALERT

Dedra respeita Syril por sua utilidade, talvez até por sua fidelidade, mas jamais abandona o pragmatismo do cargo que ocupa. Quando confrontada por sua própria obsessão — ascender no Império — ela sabe usar a dele (encontrar Cassian) a seu favor. Em detrimento de Syril. O impacto é devastador.
Atualmente, a fixação de Syril por Cassian Andor não é mais um impulso de correção, mas sim de vingança. Desprovido de tudo, Syril vê em Cassian a última peça viva de uma equação que desmoronou. Ao seguir Cassian, ele se insere no centro da insurgência — não como rebelde, mas como símbolo do colapso da fé imperial em si mesma. Sua trajetória se torna trágica, quase mitológica: o homem que buscava ordem, mas encontrou o caos dentro de si. E o preço — preparem-se — é altíssimo e profundamente triste.
Dedra, por sua vez, segue o curso de todo autoritário que se crê imune às falhas do sistema. Ao trair Syril, ela cava o próprio declínio — emocional e institucional. Sua queda não é apenas espetacular, mas também simbólica: a mulher que pensava controlar tudo perde a única pessoa que jamais a desafiou — e talvez a única que a enxergou por trás da armadura. E quando chega a hora dela, é uma ironia que só não é trágica porque, mais do que Syril, ela sempre esteve no controle.
Juntos, Dedra e Syril formam um dos núcleos mais sombrios e fascinantes de Andor. Seu romance é uma distorção cruel do afeto — moldado por obsessão, ambição e um desejo insaciável de controle. E sua ruína, inevitável, ecoa a do próprio Império: uma estrutura edificada não sobre confiança ou vínculo humano, mas sobre medo, hierarquia e isolamento.
Se o amor tem o poder de redimir, Andor nos mostra que também pode corromper. No fim, Dedra e Syril não são apenas vítimas de um regime autoritário — são cúmplices de sua própria destruição. E é essa complexidade moral, íntima e inquietante que eleva a série a um novo patamar dentro da galáxia muito, muito distante.
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