Do Apocalipse ao Império: Comparando The Last of Us e Andor

A discussão de 2025, ou pelo menos do primeiro semestre é em torno do sucesso de duas grandes séries que mal começaram exibir a segunda temporada, já dividem os fãs. Embora The Last of Us e Andor pertençam a universos, plataformas e gêneros muito distintos, ambas se destacaram em 2023 (Andor estreou em setembro de 2022 e The Last of Us, em janeiro de 2023) e geraram grande conversa nas redes sociais, com reações intensas e surpresas que marcaram o público. Cada uma, à sua maneira, alcançou um impacto profundo, mas há elementos onde uma pode ser considerada superior à outra.

Há uma distinção que precisa ser feita: jornalistas que elogiam Andor tiveram a oportunidade de ver a temporada completa com antecedência (estou entre os sortudos) enquanto o grupo que pôde ver algo de The Last of Us, se algum, foi mais restrito. Ambos elogiam as duas séries, mas não há como escapar que Andor tem a liderança, o que não diminui em nada The Last of Us. Entendam por que.

O Impacto Emocional de The Last of Us

The Last of Us, como adaptação de um aclamado jogo de videogame, tem sido uma experiência emocionante e profundamente humana. Sua habilidade de equilibrar cenas de ação com momentos íntimos de desenvolvimento de personagens, especialmente com Joel e Ellie, cria uma narrativa que atinge um grande público, não apenas os fãs do jogo. Um dos maiores pontos fortes de The Last of Us foi a forma como lidou com o luto, a sobrevivência e a relação de poder entre os personagens, com reviravoltas que, embora já esperadas pelos fãs do jogo, não deixaram de ser poderosas para quem assistia pela primeira vez.

A série foi um enorme sucesso, com surpresas não apenas em relação à narrativa, mas também em como expandiu o universo já estabelecido do jogo. A forma como adaptaram e mantiveram o tom sombrio e emocionalmente pesado foi uma das grandes forças da série. No entanto, o fato de a história já ser conhecida por quem jogou o game pode ter tirado um pouco da surpresa para esse público específico.

A Subversão e o Drama Político em Andor

Por outro lado, Andor não tinha um jogo ou história pré-estabelecida, mas ainda assim conseguiu se destacar de maneira impressionante. Andor trouxe uma narrativa mais centrada no drama político e na construção do império em um universo familiar como o de Star Wars. Com um ritmo mais lento e complexo, a série mergulhou no lado mais sombrio da resistência e do combate contra um império opressor. A surpresa de Andor vem mais na forma como se distancia das expectativas de ação de Star Wars e, ao mesmo tempo, constrói uma história sólida de moralidade, lealdade e sacrifício.

A forma como a série lidou com as motivações internas de personagens como Cassian Andor e a radicalização do sistema foi uma surpresa para muitos fãs de longa data da franquia, mostrando que Star Wars pode explorar outros aspectos além da simples luta entre o bem e o mal. A reação do público foi de aprovação, especialmente para aqueles que desejavam algo mais profundo do que o padrão que as outras produções de Star Wars costumam entregar.

Vale ressaltar que, embora todos saibam o destino de Cassian em Rogue One, Andor consegue gerar emoções e surpresas, mesmo sabendo o que acontecerá com o herói. O desenvolvimento do personagem e a construção do mundo ainda conseguem prender o espectador, mostrando que a tensão e os dilemas internos de Cassian podem ser explorados de forma surpreendente, mesmo quando o futuro dele já é conhecido.

O Que The Last of Us Faz Melhor

The Last of Us se destaca no desenvolvimento de personagens e no impacto emocional. A jornada de Ellie e Joel é o coração da série, e o modo como ela explora temas como perda, amor e redenção, sem perder a intensidade de um apocalipse, é o que a torna tão especial. O equilíbrio entre ação e drama é notável, e sua habilidade de surpreender o público com momentos de grande emoção, muitas vezes acompanhados de perdas inesperadas, é um dos principais trunfos da série.

Outro ponto a destacar é que muitos espectadores, sem conhecerem o jogo, acreditavam que Pedro Pascal seria o protagonista durante toda a série. A morte de seu personagem no final da primeira temporada foi um grande choque para quem não sabia o que aconteceria, adicionando uma camada de surpresa à trama. Isso também trouxe à tona a responsabilidade de Bella Ramsey, que assume o papel central da série na segunda temporada. Embora a atriz tenha recebido elogios, ela ainda não é unanimidade, e agora tem a difícil tarefa de “carregar” a série sozinha.

O Que Andor Faz Melhor

Andor brilha em sua construção de mundo e exploração de temas políticos, um diferencial quando comparado a outras produções do universo Star Wars. A série consegue mostrar os custos reais de lutar contra um império, abordando temas de espionagem, resistência e subversão. O ritmo mais lento e a narrativa mais densa permitem uma imersão que, para muitos, torna a história mais gratificante e surpreendente, especialmente para os fãs de ficção científica e drama político.

O Sangue Latino no Apocalipse e na Rebelião Galáctica

Pedro Pascal, chileno-americano, e Diego Luna, mexicano, são dois exemplos brilhantes de como a indústria do entretenimento está se tornando mais inclusiva. Pascal, nascido em Santiago, Chile, e criado nos Estados Unidos, ganhou destaque mundial como Joel em The Last of Us e como The Mandalorian na série homônima. Sua ascensão a papéis centrais em franquias de grande porte demonstra uma mudança significativa na representação de atores latinos em Hollywood.

Por outro lado, Diego Luna, com sua carreira consolidada no México, trouxe profundidade e humanidade ao personagem Cassian Andor em Andor, série que explora os bastidores da Rebelião contra o Império. Sua interpretação foi aclamada pela crítica, destacando-se como uma das mais complexas do universo Star Wars.

Ambos os atores não apenas conquistaram papéis de destaque, mas também abriram portas para uma maior representatividade latina em produções de grande escala. Enquanto Pascal continua a expandir sua presença no universo Star Wars, Luna encerra sua jornada com Andor, deixando um legado de personagens profundos e significativos.

Duas Surpresas, Cada Uma à Sua Maneira

Embora ambas as séries compartilhem a habilidade de surpreender o público, o tipo de surpresa que elas oferecem é o que as diferencia. The Last of Us impressiona pelo seu impacto emocional e pela maneira visceral com que conecta o público à jornada dos personagens. Já Andor conquista pela sua profundidade política e dramática, trazendo uma nova perspectiva para o universo Star Wars. Ambas, no entanto, têm o poder de surpreender e emocionar, cada uma ao seu modo.

Apesar de Andor ter sido proclamada “a melhor do ano”, e eu concordar com essa afirmação mesmo sem ter assistido o restante de The Last of Us, ambas continuam sendo obras de grande destaque. Se The Last of Us desafia expectativas com a morte de personagens centrais, Andor conquista pela complexidade de seu enredo, mostrando que, mesmo quando já sabemos o destino de seus personagens, há sempre espaço para mais surpresas.


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