The Last of Us foi saudada como uma das adaptações mais bem-sucedidas da história recente da televisão e teve uma excelente estréia em 2021. Com Pedro Pascal no papel de Joel e Bella Ramsey como Ellie, a série equilibrou com sensibilidade ação, drama e momentos de humanidade no meio do apocalipse.
A ansiedade pela segunda temporada tomou conta dos fãs, mas, os que sabiam como a fidelidade ao jogo significava que Pascal, o astro de maior nome no elenco, deixaria a série no início da segunda temporada, já estavam se questionando como seria para ancorar emocionalmente a narrativa sem ele. Agora que aconteceu, The Last of Us se depara com um desafio ainda maior do que os infectados: sobreviver sem seu pilar principal. Spoiler Alert: não acho possível.

A narrativa de vingança: um caminho já saturado
A sequência do game, base da nova temporada, é centrada em uma história de vingança — tema clássico em narrativas pós-apocalípticas. Porém, o que poderia ser um mergulho profundo nas complexidades da dor e da perda corre o risco de se tornar uma repetição cansativa. Séries como The Walking Dead já exploraram esse território por anos, ampliando seu universo com discussões sobre reconstrução social, ética comunitária e dilemas morais complexos. Mesmo que seja essa a alternativa da série se diferenciar dos jogos, The Last of Us, tende a focar de forma quase exclusiva na sede de vingança de Ellie, e assim deixa de lado a pluralidade emocional que deu fôlego à primeira temporada. Em três episódios, isso já ficou claro que é o caminho.
Exemplos não faltam: The Walking Dead transformou Rick Grimes de líder a quase tirano, explorando nuances da liderança em tempos extremos; spin-offs como World Beyond discutiram o futuro da civilização. Em comparação, a nova fase de The Last of Us parece se limitar à ferida aberta da perda, sem espaço para o renascimento.
Mais ainda, a morte de Joel em The Last of Us pretende provocar o mesmo impacto que a morte de Ned Stark em Game of Thrones: um choque que redefine o rumo da história. No entanto, enquanto a queda de Ned abriu a narrativa para uma luta de tronos complexa, cheia de novos protagonistas e múltiplas linhas de tensão política, a morte de Joel tem o efeito contrário: em vez de expandir o universo, estreita a história em torno da dor pessoal de Ellie e seu desejo de vingança. A saga deixa de ser uma reflexão ampla sobre a sobrevivência humana em um mundo devastado para se tornar um retrato íntimo — e repetitivo — de perda e ódio, limitando as possibilidades narrativas que poderiam manter a série vibrante por mais tempo.
Da humanidade ao ódio: um desequilíbrio perigoso
A primeira temporada foi além da história principal ao construir pequenos retratos de esperança e humanidade: o episódio de Bill e Frank, a história da mãe de Ellie, e até momentos de ternura entre Joel e Ellie marcaram o público. Sem esses respiros narrativos, a série corre o risco de mergulhar em uma espiral de violência sem contraponto emocional — tornando o caos mais vazio e menos impactante.

O que diferenciava The Last of Us de outras distopias era exatamente o espaço dado à empatia. Sem isso, resta apenas a brutalidade — e ela, sozinha, dificilmente sustentará o interesse do público por mais temporadas.
A trilha sonora perde força
Outro elemento que contribuiu para o sucesso inicial da série foi a música. Momentos inesquecíveis foram embalados por trilhas cuidadosamente escolhidas, como o cover de Take On Me ou quando Just Like Heaven iluminou a noite romântica de Ellie antes de ser infectada.

Na nova temporada, a trilha sonora inicial já demonstra menor impacto emocional, com escolhas menos marcantes e ausência de temas que imediatamente evocam a ligação entre público e personagens.
Essa perda, ainda que sutil, enfraquece a experiência e reduz o poder de fixação emocional da narrativa.
Sem Pedro Pascal, quem segura a série?
Pedro Pascal não era apenas o protagonista: era o rosto carismático que levava a série além dos fãs do game. Com sua saída definitiva, o elenco remanescente não parece ter o mesmo peso midiático.
Outros nomes conhecidos, como Jeffrey Wright, devem fazer participações, mas não estão presentes o suficiente para carregar a responsabilidade que agora recai completamente sobre Bella Ramsey.

Bella Ramsey: o peso de carregar a série — e as críticas crescentes
Embora elogiada em Game of Thrones como a destemida Lyanna Mormont, Bella Ramsey enfrenta resistência no papel de Ellie. Sua atuação tem sido criticada por falta de variação emocional e expressividade — algo que, somado à agressividade constante da personagem, cria uma protagonista difícil de se conectar. Sem a contrapartida emocional de Pedro Pascal para equilibrar sua performance, Ramsey precisa conquistar o público praticamente sozinha — uma tarefa árdua em um cenário já menos generoso.

Sobrevivência é para poucos
No universo pós-apocalíptico de The Last of Us, sobreviver nunca foi garantido. Agora, fora da ficção, a série enfrenta sua própria batalha e arrisca perder o que a fez transcender a simples adaptação de um game: o coração humano por trás do apocalipse.
Quando a série estreou, em 2021, o mundo ainda vivia os efeitos profundos da pandemia de Covid-19. O isolamento, o medo de contaminação e a sensação de vulnerabilidade coletiva tornavam o universo distópico de The Last of Us assustadoramente próximo da nossa realidade. Porém, em 2025, esse contexto já mudou. A ameaça do cordyceps — tão simbólica naquele momento — agora parece distante, quase abstrata. A série precisa lidar não apenas com desafios internos, mas também com um público que já não se reconhece mais tão intensamente naquele medo.

A falha, nesse sentido, nem é exclusivamente da série, mas do próprio material original. Como a adaptação para a TV tem sido extremamente fiel ao segundo jogo, há pouca esperança de que a estrutura narrativa se transforme significativamente para reaquecer o interesse. Sem Pedro Pascal, sem uma narrativa mais ampla e sem o mesmo impacto emocional que antes vinha tanto do contexto global quanto dos personagens, The Last of Us corre o risco de se tornar mais uma história de violência num mundo saturado de distopias.
Se The Last of Us quiser manter sua relevância, terá que encontrar novos caminhos — porque sobreviver, no fim das contas, nunca foi só questão de força bruta.
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