Estamos a uma semana de dar adeus para sempre à Andor e os três episódios finais virão com surpresas e reviravoltas, fiquem atentos. Nada que supere o brilhantismo dos episódios 8 e 9, tão espetaculares como icônicos. Assim como antecipei um pouco a análise de Syril Karn (Kyle Soller), antes de sua morte no episódio 8, vamos falar de Dedra Meero? Só um spoiler: será delicioso vê-la pagando pelos seus mals, mas não contarei como será.
Dedra Meero não é apenas uma funcionária do Império Galáctico. Ela é sua personificação moderna, sua face racional e sua inteligência organizada a serviço da opressão. Introduzida como uma oficial ainda marginal no organograma do ISB (Bureau de Segurança Imperial), Dedra rapidamente se impõe como uma força silenciosa e determinada — movida não por vaidade, mas por convicção. Seu arco em Andor acompanha o crescimento de sua influência dentro do aparelho repressivo imperial e revela as engrenagens de um regime que se estrutura com base em competência técnica, vigilância e brutalidade legalizada.

Ambição como método
Ao contrário de muitos personagens imperiais em Star Wars, Dedra não é caricatural nem megalomaníaca. Sua ambição é metódica. Logo em sua primeira cena, percebemos que ela está deslocada — mulher num ambiente masculino, jovem entre veteranos, minoria ética e estratégica. Mas ela não busca apenas subir na hierarquia: ela deseja impor ordem. Dedra não vê o Império como uma estrutura de dominação, mas como um sistema necessário para evitar o caos. Seu perfeccionismo é alimentado por uma visão moral do mundo, na qual a desobediência é ameaça e a disciplina, virtude.
Fascínio pelo controle
O que torna Dedra tão perturbadora é sua convicção absoluta. Ela não quer apenas capturar rebeldes — ela quer compreendê-los, antecipá-los, desmantelá-los. Quando identifica os primeiros sinais de uma rede coordenada de resistência (que Cassian Andor (Diego Luna) ajuda, sem saber, a alimentar), Dedra vai além dos protocolos: ela conecta pontas soltas, invade jurisdições, desafia colegas. Seu raciocínio é rápido, seu comportamento obsessivo. E o mais inquietante? Ela está sempre certa. O Império recompensa resultados — e Dedra entrega exatamente isso.

Violência institucionalizada
Na segunda metade da primeira temporada, Dedra se transforma de analista fria em torturadora autorizada. Ao interrogar Bix Caleen (Adria Ajorda), vemos sua transição da lógica para a prática: ela não apenas permite a tortura, ela a racionaliza. Ao mesmo tempo, Dedra não se vê como uma vilã. Ela acredita estar salvando a ordem galáctica. Sua frieza é a couraça de uma ideologia totalitária que se sustenta na burocracia e na desumanização. Em seus olhos, há sempre cálculo, jamais prazer — o que a torna ainda mais perigosa.
Relações humanas distorcidas
O relacionamento com Syril Karn, outro personagem obcecado por ordem, revela os limites emocionais de Dedra. Ela rejeita a admiração dele não por desprezo, mas por desconforto. Dedra não sabe lidar com afeto, vulnerabilidade ou caos emocional. Para ela, vínculos devem ser funcionais. Essa incapacidade de construir laços humanos sugere que sua entrega ao Império também é uma fuga — um modo de evitar a instabilidade afetiva que ela não sabe nomear.

O autoritarismo como escolha e espelho
Dedra Meero é a face moderna do fascismo funcional: disciplinada, inteligente, eficiente e desprovida de empatia. Não é corrompida pelo poder — é moldada por ele. Andor a constrói como um alerta: o totalitarismo não se impõe apenas pela força, mas também pela burocracia, pela lógica e pela competência. Dedra acredita na máquina imperial porque ela própria é uma peça perfeitamente ajustada. E ao acompanharmos seu sucesso — quase sempre merecido —, sentimos o peso da pergunta que ecoa na série: e se os vilões forem os mais brilhantes?
Dedra Meero, interpretada por Denise Gough, vive em Andor uma das trajetórias mais sombrias e complexas do Império. Desde a segunda temporada, a personagem se vê enredada num projeto de manipulação e massacre em Ghorman — o mesmo planeta citado em Rogue One como estopim da rebelião. Inicialmente, Dedra alerta Orson Krennic (Ben Mendelsohn) sobre os riscos de sua estratégia propagandística para controlar a população local e propõe um plano ainda mais cínico: fomentar uma insurreição que justifique a repressão e permita a exploração imperial do kalkite, minério essencial para a construção da Estrela da Morte. A partir daí, o plano se desdobra como uma armadilha mortal, e o envolvimento pessoal de Dedra — especialmente o uso de Syril Karn como isca — transforma a campanha num desastre pessoal e emocional para a oficial da ISB.

Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Denise Gough revelou que Dedra não previu a catástrofe final do episódio oito, embora fosse elogiada por sua capacidade de antecipar movimentos. Na visão da atriz, a personagem acreditava que conseguiria controlar a situação, inclusive manipulando Syril sem consequências. Dedra sabia que ele seria o peão ideal para estimular a Frente Ghorman sem saber que estava colaborando com um genocídio, mas subestimou o impacto emocional dessa descoberta e, sobretudo, sua ligação com ele. O medo maior de Dedra, diz Gough, não é o massacre em si, mas a perda de controle — e isso se manifesta quando Syril descobre a verdade e ela, desesperada, tenta levá-lo de volta para Coruscant, tentando restaurar uma rotina em frangalhos.
Dedra cresceu num bloco de doutrinação imperial, sem experiências de afeto, limites ou acolhimento, o que a impede de entender emoções como amor ou compaixão. Sua relação com Syril, que vive com ela desde antes dos eventos da segunda temporada, representa uma tentativa de manter por perto a única pessoa que viu seu lado vulnerável. Gough compara essa dinâmica com o que acontece entre Cassian e Maarva na primeira temporada, quando ela lhe ensina que sentir preocupação é uma forma de amor — algo que Dedra jamais aprendeu. Por isso, quando diz a Syril que é bom vê-lo feliz, ela o faz de forma fria e automática, sem entender o peso dessa frase. Se não fosse por esse vínculo mal resolvido, Dedra teria usado outro agente para a missão em Ghorman de forma mecânica. O problema, segundo Gough, é que ela está emocionalmente comprometida, ainda que não saiba nomear esse sentimento.

Além do colapso afetivo e da falha operacional, Dedra vive uma das grandes cenas da temporada ao confrontar Eedy Karn, mãe de Syril. A cena, inicialmente escrita como um momento de intimidação direta, se transforma numa espécie de “negociação” quando Eedy, em vez de recuar, demonstra respeito e fascínio pela frieza de Dedra. Gough celebra a oportunidade de contracenar com Kathryn Hunter, atriz veterana do teatro britânico, e aponta esse embate como um dos pontos altos de sua carreira. O jogo de poder entre as duas mulheres redefine as hierarquias afetivas ao redor de Syril, enquanto ele, deitado como um “pássaro quebrado” no fundo da cena, assiste impotente ao duelo.
Dedra Meero, em sua busca obsessiva por controle e por capturar Axis (Luthen Rael (Stellan Skarsgård)), não apenas perde o controle da operação de Ghorman — ela perde a única conexão que poderia humanizá-la. E, como sugere Denise Gough, isso é o que realmente a destrói.

A relação de Dedra Meero com Syril Karn é complexa, perturbadora e profundamente ambígua — porque o que Dedra sente não é exatamente amor no sentido convencional, mas uma forma distorcida de apego emocional que nasce do controle, da vulnerabilidade e da carência afetiva.
Na prática, Dedra usou Syril como instrumento — inclusive como “bode expiatório” em Ghorman — mas sofre não porque ele morreu ou porque milhares de inocentes foram massacrados, e sim porque perdeu o controle da única pessoa que a fazia se sentir próxima de algum tipo de laço humano. Ela queria manter Syril por perto não para amá-lo livremente, mas para garantir que ele não a ferisse nem escapasse da sua esfera de domínio.
Em resumo: Dedra não amava Syril como nós entendemos o amor. Ela estava emocionalmente envolvida, sim, mas presa a uma lógica de manipulação, medo da perda e busca por segurança psicológica. O mais trágico? Nem ela sabia exatamente o que sentia.
Em um paralelo trágico da série, assim como Cassian era o espelho de Syril, a obsessão de Dedra por “Axis” (Luthen Rael) reflete a de Syril de encontrar e prender Cassian Andor. Mais do que um alvo estratégico, Axis simboliza para ela a última peça do quebra-cabeça que falhou em Ferrix e que manchou sua reputação. Capturá-lo é tanto uma questão profissional quanto pessoal. Ela chega a pedir, sem sucesso, para ser retirada da missão em Ghorman justamente porque pressente que perderá o controle se for deslocada do caso Axis. Mas é ignorada — e isso a arrasta para a derrocada.

Parte do que unia Syril e Dedra era exatamente essa busca conectada por seus adversários, uma nova razão de viver mútua em uma relação disfuncional, tensa e profundamente perturbadora. Posso dar esse SPOILER: veremos um embate dentre ela e Luthen, mas não é como podem antecipar. Será um momento que a série nos entrega uma virada devastadora, fiquem atentos, mas também uma que provocará uma virada no destino de muitos.
No hall dos vilões do universo de Star Wars, na história de Dedra Meero ecoa outras figuras trágicas de Star Wars, como Anakin Skywalker, mas com um sabor ainda mais amargo porque Dedra acredita estar do lado certo. Sua tragédia não é só a perda de poder ou amor — é o vazio de nunca ter conhecido outra forma de vida. Ela não foi corrompida; foi moldada assim. E, sua devoção será retribuída da única forma que o Império permite. E ela merece o que vem em seu caminho.
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