Em junho teremos um paralelo comparativo curioso sobre duas visões da Era Dourada: a volta de The Buccaneers na Apple TV+ e The Gilded Age, na HBO MAX. Mas, enquanto a série que adapta (mal) o livro de Edith Wharton está apostando na linha Bridgerton (ou seja, beirando histeria e fantasia com anacronismos), a série de Julian Fellowes mixa fatos reais com seus personagens fictícios. Um deles, como falamos há pouco tempo aqui no MiscelAna, o retratista John Singer Sargent, que vai pintar um quadro de Gladys Russell (Tassa Farmiga), como vemos no trailer.

Os quadros de Sargent são tão icônicos que ele chegou a ser comparado ao lendário pintor espanhol, Velazquez, que era um retratista primoroso. E “coincidentemente”, aproveitando o centenário da morte do pintor, quem estiver na Inglaterra pode ver muitos dos clássicos de perto na exposição de Kenwood: Herdeira: Retratos Americanos de Sargent.
Herdeira: Retratos Americanos de Sargent é sobre as “bucacneers” ou “dollar princesses”, as mulheres americanas que cruzaram o Atlântico para se casar com aristocratas britânicos em troca de dinheiro por títulos. A proposta é não apenas expor os quadros famosos, mas também revelar as histórias atrás deles. Como avisam no texto oficial, são retratos que representam algumas de suas obras mais glamorosas e impactantes, incluindo pinturas a óleo de corpo inteiro e retratos a carvão.
Será curiosa a participação do pintor na série da HBO MAX e com certeza, para divulgarem o nome do ator que o interpretaria, deve ser uma ponta que chamará a atenção. Sargent circulava pelos salões elegantes da Europa vestido de linho branco e disputado pelos ricos. Sua arte fazia sucesso fora do circuito de galerias porque os críticos os consideravam uma presença decadente e sua obra superficial. Eu que amo um retrato, obviamente discordo.

Essa narrativa tem mudado e hoje os especialistas apostam em uma “jornada de reputação”, tanto que a exposição da Kenwood House, em Hampstead, confirma. A curadoria elegeu cerca de duas dúzias de retratos das mulheres que antes eram desdenhadas como “princesas do dólar”. Estima-se que as ‘buccaneers’ (piratas) chegaram a um número maior de 100. Isso mesmo, mais de 100 herdeiras americanas fizeram parte dessa transação social e econômica entre 1870 e 1914 e Sargent pintou 30 delas.
Entre os quadros em Kenwood House estão os que pintou das controversas Nancy Astor, a primeira mulher a ocupar um assento no parlamento britânico e Grace Curzon, a marquesa de Kedleston, que foi casada duas vezes, sendo que o segundo foi Lord Curzon, vice-rei da Índia. Ela e suas três enteadas foram amantes do detestável Oswald Mosley (que vimos em Peaky Blinders). Apenas dois exemplos do que as retratadas por Sargent eram. Toda exposição reúne histórias surpreendentes.

Sargent imprimia sensualidade e elegância em suas personagens, eternizando a personalidade de figuras que a História esqueceria não fossem suas pinceladas de retratos à moda antiga. Uma especialidade que só ganha prestígio à medida que descobrimos seu talento.
A volta simultânea de The Buccaneers e The Gilded Age reacende o fascínio por uma época marcada por luxo, trocas de poder e aparências. Mas é na figura de John Singer Sargent — com seus retratos que flertam com a eternidade — que passado e presente se encontram com mais força. Entre a ficção televisiva e a arte consagrada, o pintor emerge não apenas como cronista visual da Era Dourada, mas como protagonista de uma reavaliação histórica que o tira da margem e o coloca no centro da conversa. Uma verdadeira redescoberta à altura de suas musas e pinceladas.
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