A Evolução da Franquia Missão: Impossível ao Longo dos Anos

Como publicado na Revista Bravo!

Quando Tom Cruise comprou os direitos da franquia Missão: Impossível, há quase 30 anos, o plano era claro: transformar uma série de TV querida por gerações anteriores em um espetáculo moderno de ação, capaz de conquistar um novo público. E ele conseguiu. O primeiro filme, lançado em 1996, foi um sucesso que combinava suspense, intrigas e um protagonista carismático. Cruise assumiu o papel equivalente ao de Rollin Hand (Martin Landau) na série original — o ator disfarçado entre os espiões — e tomou liberdades ousadas, como transformar Jim Phelps, antes o líder idolatrado da equipe, em um traidor ressentido com o fim da Guerra Fria.

A partir dos anos 2000, o que era um sucesso pontual virou uma franquia de bilhões. E desde então, Missão: Impossível só cresceu — em escala, orçamento e ambição. Já são oito filmes, incluindo Missão: Impossível – Acerto Final, o capítulo mais recente (e supostamente final), que chega oficialmente ao Brasil no dia 22 de maio. Com a estreia antecipada em Cannes e em outros países, as redes sociais e críticas já começaram a reagir. A recepção tem sido morna: elogios às sequências de ação, ressalvas ao roteiro. E, apesar do nome sugerir um encerramento, o filme termina em aberto. A missão, ao que tudo indica, continua.

Cruise está prestes a completar 63 anos — e, como se sabe, ele faz pessoalmente as cenas mais perigosas, desafiando a física e a idade. Há quem veja Acerto Final como sua despedida simbólica do personagem. Mas nada é definitivo. Ainda mais com uma bilheteria global em jogo.

O novo filme não é o melhor da franquia. É divertido, como os anteriores, mas algo se perdeu no caminho: está mais pesado, escuro e… previsível. A trama é simples: o inimigo agora é uma Inteligência Artificial chamada A Entidade, e Ethan Hunt precisa impedi-la de destruir o planeta — destruindo-a antes. Mas esse conceito, que até poderia render boas tensões, se dilui na repetição: a cada 25 minutos alguém explica, de novo, qual é a missão, em diálogos que mais parecem jograis. Um personagem começa a frase, o outro termina. Soa artificial, brega mesmo. E não ajuda que isso aconteça com frequência desconcertante.

Há outras decisões que flertam com o exagero. Os supercloses, os sorrisos sarcásticos de vilões, os objetos mostrados em detalhe para nos lembrar de pistas antigas — tudo ecoa o espírito da série dos anos 1960. Nesse caso, a cafonice é proposital, quase um carinho aos fãs mais nostálgicos. Não chega a atrapalhar, mas pesa. Assim como os inúmeros monólogos (em off ou em cena) nos quais personagens reforçam que Ethan Hunt é a única esperança da humanidade. Em tom messiânico. Em certo momento, não sabemos se falam de Ethan… ou do próprio Tom Cruise.

A narrativa retoma a ação poucos meses depois dos eventos anteriores, com Ethan isolado, tentando entender como impedir A Entidade. Ele possui a chave que pode dar acesso à fonte da IA, mas o mundo está em colapso, ninguém confia em ninguém, e tudo parece prestes a explodir. Ethan precisa ser convencido a agir, enfrentando o vilão da hora, Gabriel (Esai Morales), e antigos inimigos com laços secretos com seu passado. O roteiro faz questão de resgatar eventos desde o filme de 1996, como se tentasse amarrar todos os fios — mesmo que à força.

O problema é que nunca sentimos, de fato, que Ethan pode falhar. O impossível, para ele, virou rotina — e isso tira o peso da missão. Sabemos que ele vai correr, saltar, voar de moto de um penhasco e sair inteiro. As cenas de ação são incríveis, sim. Mas ao serem divulgadas anos antes, já chegam ao público sem o impacto da surpresa. O que resta é uma narrativa que serve mais como fio condutor entre set pieces do que como história com algo a dizer. No fim, o alerta sobre o “perigo da Internet” soa genérico e ultrapassado.

Missão: Impossível – Acerto Final entrega o que promete em termos de espetáculo, e Cruise continua a impressionar com sua entrega física e carisma. Mas falta substância. Talvez a franquia esteja, enfim, sentindo o peso do próprio legado. Ou talvez só precise de uma nova missão — que valha mesmo a pena aceitar.


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