Tive o privilégio de assistir, ao longo de muitos anos, a algumas das principais companhias internacionais dançarem O Lago dos Cisnes — ao vivo e em vídeo — com estrelas lendárias nos papéis principais. No Rio, vi Jean-Yves Lormeau, Ana Botafogo, Jorge Esquivel, Cecilia Kerche e o atual diretor do Balé do Rio, Hélio Bejani, entre outros que participaram das montagens das últimas décadas. E O Lago tem isso: nunca é o mesmo, ainda que já o tenhamos visto inúmeras vezes.

A versão de O Lago dos Cisnes em 2025 tem um toque especial. No ano passado, a temporada foi um enorme sucesso, e talentos da nova geração encantaram o público — tanto que a produção está de volta aos palcos e lotando o teatro todas as noites. Estas apresentações têm como estrelas um time brasileiro de peso: Mayara Magri, Victor Caixeta e Paulo Vitor Rodrigues — artistas que se destacam no exterior e que, até então, ainda não haviam se apresentado no palco do Theatro Municipal. Emoção é a palavra que define esta temporada.
Conversei com eles antes da estreia, durante a típica reta final tensa de ensaios e ajustes — a poucos dias da abertura (já que não são do Rio). A primeira dupla que entrevistei foi justamente Mayara e Victor, que já haviam dançado juntos antes e consolidaram uma parceria marcada por sintonia e química, com todo o potencial para fazer história.
Victor Caixeta, que saiu de Uberlândia praticamente direto para a Europa, foi solista do prestigiado Mariinsky Ballet — sendo o primeiro brasileiro a integrar a companhia. Deixou a Rússia quando o país entrou em conflito com a Ucrânia e agora se prepara para dançar com a lendária Alessandra Ferri no Ballet de Viena. Extremamente expressivo, além de tecnicamente deslumbrante, o bailarino trouxe uma interpretação única ao príncipe Siegfried, que me fez lembrar dos grandes nomes que vi nesse papel.

Aliás, aproveito para elogiar a versão assinada por Hélio Bejani e Jorge Texeira. As alterações feitas na versão do Municipal são perfeitas: elas destacam o excelente elenco masculino no 1º ato — o que é espetacular, considerando que a partir do 2º ato são as mulheres que ganham o protagonismo. Há uma sintonia no grupo que enriquece ainda mais a produção. As inserções mais teatrais — como a cena em que Von Rothbart seduz a Rainha ao som das Czardas do 3º ato — trazem uma nova perspectiva dramática, mais densa. Muito bom!
E, claro, as noites do primeiro fim de semana giraram em torno da estreia da carioca Mayara Magri no palco do Municipal — um sonho pessoal da bailarina, que hoje brilha como Primeira Bailarina do Royal Ballet, ao lado dos grandes nomes da dança mundial. Impecável, leve e completamente entregue aos papéis de Odette e Odile, Mayara encantou a plateia e, certamente, sempre vai se lembrar deste Lago tão especial.
A temporada segue com Paulo Vitor Rodrigues, Juliana Valadão, Cícero Gomes, Manuela Roçado, Marcella Borges e Rodrigo Hermesmeyer, até o dia 24 de maio. Imperdível.
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