Este é um post mega spoiler para quem não conhece o jogo The Last of Us e estava desavisado do destino cruel de Joel (Pedro Pascal). A jornada de vingança de Ellie (Bella Ramsey) está longe do fim e de vítimas decorrentes do ódio mútuo entre ela e Abby (Kaitlyn Dever). Muitos vão perecer nas mãos das duas, alguns que o público inclusive ama. Portanto, aqui está o aviso do que vem ainda para fechar a terceira temporada.
SPOILERS A SEGUIR.
Vimos que Ellie matou com requintes de tortura uma das amigas de Abby, Nora (Tati Gabrielle). Embora pressionada e à beira da morte, Nora não entregou a localização de Abby. Vimos que depois dessa “vitória”, Ellie volta para o teatro para encontrar Jesse (Young Mazino), Dina (Isabella Merced) e Tommy (Gabriel Luna).
Antes de seguir relatando o que acontece – no jogo – vale lembrar que a série mudou alguns fatos importantes. Na história original, diferentemente da série, Tommy também quer vingar Joel e está perseguindo Abby. Ao contrário do que vimos na TV, é Ellie que vai atrás dele, não o contrário. Por isso ainda não os vimos juntos em cena.

No jogo, a jornada de Ellie em Seattle a tensão chega a níveis insustentáveis, onde ela, Jesse e Tommy seguem atrás de Abby Anderson em um caminho sangrento, doloroso e repleto de perdas. Ellie, emocionalmente devastada, começa a se perder na própria sede de vingança, enquanto Jesse e Tommy tentam, de diferentes formas, manter algum senso de humanidade. Jesse, em especial, mostra-se preocupado com Ellie e com Dina, que está grávida, tentando agir como um mediador num mundo em colapso. No jogo, como Tommy já envolvido há mais tempo na caçada, também se arrisca cada vez mais, guiado por uma mistura de lealdade e desespero. Aqui não me parece que será o caso.
É nesse cenário que a tragédia atinge seu ápice. Depois de Ellie torturar e matar Nora, uma das amigas mais próximas de Abby, ela e Jesse retornam ao teatro onde o grupo está escondido. Eles acreditam estar seguros por um instante, discutem os próximos passos, mas não percebem que Abby já os localizou. Em uma das cenas mais abruptas e impactantes do jogo, Jesse abre a porta de um dos corredores para sair em busca de Tommy e, sem qualquer aviso, leva um tiro na cabeça. Ele morre instantaneamente, sem tempo de reação ou despedida, diante dos olhos de Ellie. A brutalidade do momento é seca, quase cruel em sua objetividade — e lembra ao jogador, mais uma vez, que ninguém está protegido nesse ciclo de vingança.
Logo em seguida, Abby atira em Tommy, ferindo-o gravemente no rosto. A princípio não parece, mas ele sobrevive, embora perca parcialmente a visão e a audição, além de carregar sequelas físicas e emocionais profundas. Para bons observadores veremos que Abby não está sozinha: ela está acompanhada de Lev, que terá grande importância na trama. Movida por uma fúria semelhante à de Ellie, Abby chega ali destruída pelas mortes de seus próprios amigos — muitos dos quais Ellie matou em sua trilha pelo submundo de Seattle. A cena é um espelho sombrio da jornada de Ellie: agora ela é a perseguida, encarando o olhar cheio de ódio da mulher que transformou em inimiga. Mas, na verdade, até o momento só Nora foi morta então veremos como isso será adaptado em The Last of Us.
Para Ellie, a morte de Jesse e o ferimento de Tommy são um golpe profundo, não apenas porque perde mais dois aliados, mas porque começa a perceber o custo real de tudo que fez até ali. Ela carrega a culpa — Jesse só estava ali por causa dela. Tommy também. E Joel morreu tentando protegê-la. A vingança que parecia dar propósito ao luto, agora se revela como um buraco sem fundo. Mesmo assim, a obsessão ainda a consome. Apesar do confronto final com Abby no teatro e da promessa de que aquilo acabaria ali, Ellie não consegue deixar para trás o trauma. A imagem de Joel morrendo continua a persegui-la.

Na sequência do jogo, Ellie tenta viver uma vida pacata ao lado de Dina e do bebê em uma fazenda afastada. Mas a paz é ilusória. O passado continua a sangrar dentro dela, e o desejo de acerto — ou talvez apenas de sentido — ainda pulsa. É assim que ela abandona tudo para buscar Abby uma última vez, mesmo sabendo o que já perdeu. A morte de Jesse, o sofrimento de Tommy, e a própria ruína emocional são o legado de uma história que começou com amor e terminou afogada em dor. Em The Last of Us Part II, cada escolha tem um preço — e, no mundo em que esses personagens vivem, o perdão raramente chega antes do sangue.
Lev aparece bem antes da cena do teatro (onde Jesse morre), durante a parte da campanha em que jogamos com Abby. Ele é um jovem que, junto com a irmã Yara, foge dos Serafitas (ou Scars), o culto religioso violento ao qual pertenciam. Abby os encontra por acaso, depois de ser quase morta pelos próprios Serafitas. Yara salva Abby, e a partir daí se forma uma conexão inesperada entre eles.
Inicialmente, Abby age por impulso e senso de dívida, mas, ao longo da jornada para salvar Yara e depois para proteger Lev, ela passa a se ver como uma espécie de protetora — e, acima de tudo, encontra nos dois uma forma de redenção e de conexão que ela havia perdido desde a morte do pai. Lev, em especial, força Abby a confrontar seus valores, questionar as ordens da WLF (os Lobos) e, finalmente, se afastar do ciclo de ódio que a vinha consumindo.
A importância de Lev antes do confronto com Ellie
Quando Abby invade o teatro para enfrentar Ellie, ela já não é mais a mesma mulher que matou Joel a sangue-frio. Lev está com ela, e sua presença é crucial. Ele representa a chance de Abby recomeçar, de sair daquele mundo de retaliação cega. O fato de Lev estar presente no momento do confronto final com Ellie não é casual: ele é uma espécie de espelho silencioso, que faz Abby perceber que o que está prestes a fazer pode destruir o pouco que ainda resta dela.
Ou seja, conhecemos Lev antes dessa cena impactante, e já entendemos o quanto ele foi responsável por “humanizar” Abby. Por isso, o confronto com Ellie e o desfecho do jogo ganham uma camada extra de complexidade moral e emocional. Abby já viu o que a violência lhe tirou — e Lev é a única coisa que resta para tentar preservar. Na série, não será assim. Isso deve estar guardado para a terceira temporada.

Quem Ellie mata e em que ordem no jogo
A série está seguindo um caminho distinto do jogo. Ali, ao longo de três dias em Seattle, Ellie elimina quase todo o grupo envolvido no assassinato de Joel. Só vimos ela eliminar um só. Veja a ordem das mortes causadas por Ellie no jogo:
- Jordan – um dos que seguraram Ellie enquanto Joel era morto. Ela o mata na delegacia, onde ele está torturando Dina.
- Leah – Ellie encontra o corpo dela morto em uma torre de vigia, já morta por Serafitas (não diretamente por Ellie, mas é a primeira do grupo que ela vê morta).
- Nora – responsável por trabalhar no hospital da WLF; Ellie a persegue até um porão contaminado e a tortura até a morte com um cano (evento já retratado na série).
- Mel – morta por Ellie em uma luta na qual ela não sabe que Mel está grávida (essa revelação a abala profundamente).
- Owen – parceiro de Mel e ex-namorado de Abby; é morto no mesmo confronto em que Mel morre. Ellie o mata a tiros.
É provável que a série introduza Abby e Lev muito antes do ponto de virada no teatro. Isso significa que poderemos conhecer Abby, seus conflitos, sua relação com o pai (o médico morto por Joel), sua vida com os Lobos, antes do confronto final com Ellie. Assim, o público desenvolverá empatia por ela desde cedo — algo que o jogo deixou para depois.
Na série, cada morte causada por Ellie poderá ser explorada com mais profundidade emocional e consequência direta — por exemplo, mostrando o impacto da morte de Nora sobre os colegas dela. Isso deve intensificar o drama e tornar a trajetória de Ellie ainda mais angustiante, humanizando todos os lados envolvidos.
No jogo, jogamos três dias com Ellie e depois voltamos no tempo para jogar os mesmos dias com Abby. Na série, é possível que vejamos esses eventos de forma intercalada — um episódio com Ellie, outro com Abby, ou até episódios que mostram os mesmos eventos de dois pontos de vista. Isso criaria paralelos mais nítidos entre as duas personagens e seus dilemas.
Se a série seguir o padrão da primeira temporada, que adaptou todo o primeiro jogo em 9 episódios, a segunda pode adaptar metade do segundo jogo — ou o jogo inteiro, mas com mudanças estruturais. A presença de Nora já nos indica que Ellie está em sua trilha de vingança, o que significa que Mel, Owen, e finalmente Abby estão logo adiante.

Com isso, o que nos aguarda na terceira temporada de The Last of Us é uma espiral cada vez mais claustrofóbica de dor, fúria e perdas irrecuperáveis — vivida em paralelo por duas mulheres que foram forjadas pelo mesmo trauma, apenas em lados opostos. A série, ao aprofundar as trajetórias de Ellie e Abby, tem a chance de não apenas replicar os eventos do jogo, mas de nos confrontar com a humanidade das escolhas de cada uma. Mais do que um ciclo de vingança, o que se desenha é uma meditação brutal sobre luto, culpa e a tênue possibilidade de redenção num mundo que já perdeu quase tudo.
Se a adaptação mantiver o rigor emocional e o apuro narrativo da primeira temporada, o espectador sairá dessa jornada emocionalmente exausto — e, talvez, dividido. Porque The Last of Us Part II nunca oferece respostas fáceis nem conforto. O que ela entrega, com precisão cirúrgica, é a dor crua das consequências. Ninguém sai ileso, e é justamente por isso que seguimos assistindo.
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