Hacks: Quando a piada perde o ritmo

Quando a surpresa da temporada é ver a protagonista — falha, egocêntrica e carismática — tomar uma atitude 180º contrária ao seu padrão, a gente percebe que a história bateu no muro. Hacks, que ainda tem um episódio pela frente para encerrar uma quarta temporada um tanto arrastada, vai precisar rebolar para nos manter interessados até a quinta (e última?) temporada, já confirmada. Nem mesmo a excelente atuação de Jean Smart é capaz de mudar minha impressão: a série perdeu o ritmo.

Depois de uma temporada inteira acompanhando Deborah Vance brigando para conquistar o sonho de ter seu próprio talk show, não hesitando em sacrificar sua redatora e alma gêmea criativa, Ava (Hannah Einbinder), vimos Ava lutar para reconquistar seu lugar. Ela usou chantagem, sobreviveu a sabotagens elaboradas — e deliciosas — para se manter como redatora-chefe, até que as duas voltam às boas. Mas, de novo, Deborah se vê pressionada a cortar Ava da sua vida. E, dessa vez, recusa.

Sim, é bonito ver essa evolução. Ela não se sacrifica por Ava, mas por si mesma. Percebe que o mundo corporativo a descartaria sem cerimônia — como fez com a diretora de programação Winnie Landell (Helen Hunt), que caiu assim que Deborah pediu ao CEO do estúdio, Bob Lipka (Tony Goldwyn), para aliviar a pressão sobre si. É uma virada coerente com a trajetória da personagem, que entende que, sem alianças reais, sua posição é frágil.

O problema é que o episódio — e, talvez, a série — se apressa a varrer o verdadeiro conflito para debaixo do tapete. Em vez de explorar a misoginia estrutural do mercado e as falhas de sororidade entre as personagens femininas, o roteiro prefere rapidamente reposicionar Deborah e Ava como heroínas redimidas. E isso empobrece o drama. Havia algo muito mais complexo e instigante a ser explorado ali: a tensão entre ambição e lealdade, entre sobrevivência e solidariedade.

Deborah Vance é uma personagem muito mais rica do que essa virada fácil sugere.

Pode ser que o episódio final me cale. Por ora, o destino de Deborah é cruel e irônico: esqueceu o que assinou em contrato — uma cláusula de exclusividade de 18 meses, estando no ar ou não. Ou seja, ela ficará forçosamente afastada do palco e das telas por quase dois anos. Ela tem dinheiro suficiente para aguentar o tranco. Mas… será que seu ego aguenta?

Queria mais. Ainda quero.


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