A confirmação de Top Gun 3 não deveria ser surpresa para ninguém que tenha prestado atenção ao fenômeno Top Gun: Maverick. A sequência, lançada em 2022 depois de anos de atrasos e incertezas, não só deu nova vida à franquia como reposicionou Tom Cruise no centro do panteão hollywoodiano — como se ele algum dia tivesse saído de lá. Agora, com Top Gun 3 oficialmente em desenvolvimento e até boatos de que Les Grossman, o produtor desbocado e dançante de Trovão Tropical, pode voltar em outro projeto paralelo, a pergunta muda de tom: estamos vendo uma fase mais “descontraída” da carreira de Cruise?


A pista mais forte vem do próprio silêncio em torno do futuro de Missão: Impossível. O oitavo filme da saga, Missão: Impossível – O Acerto Final estabeleceu novos recordes de bilheteria para a franquia. Apenas nos Estados Unidos, o filme arrecadou 63 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia, superando os 61 milhões de dólares de Efeito Fallout (2018), tornando-se a maior abertura doméstica da série. Não se compara aos 126 milhões do primeiro fim de semana de Maverick (ou 160 milhões nos quatro primeiros dias), mas Top Gun era um clássico adormecido há 30 anos enquanto no mesmo período Missão Impossível fez história atrás de história. Com oito filmes, seria a hora de trocar as máscaras de novo e fixar em Maverick em vez de Ethan Hunt?
E quem pode culpar Cruise de querer dar um tempo? Foram quase 30 anos de correria, escaladas, saltos sem dublê e filmes que custam centenas de milhões de dólares. Ethan Hunt é incansável, mas Tom Cruise, por mais imortal que pareça, pode estar em busca de outro tipo de adrenalina.
E aí entra Maverick. Porque se Ethan é o homem que salva o mundo, Pete “Maverick” Mitchell é o cara que tenta salvar a si mesmo — e, por extensão, salvar os outros. Maverick foi, talvez, o primeiro personagem que Cruise interpretou nos últimos tempos que admitiu o peso da idade, do legado, das falhas humanas. Ainda que voando a Mach 10, havia ali uma melancolia que faltava no mundo frenético de Missão: Impossível. O sucesso do filme — tanto de público quanto de crítica — mostra que existe apetite por esse Cruise mais vulnerável, mesmo que ainda absurdamente competente, bonito e heroico. Veremos o resultado em 2027 ou 2028.


E há outro projeto no horizonte que também é resgate: Les Grossman. A possível volta desse alter ego grotesco e genial — uma sátira do próprio sistema que sustenta o estrelato de Cruise — sugere que ele está, no mínimo, se divertindo. Ele não precisa mais provar nada. Pode correr quando quiser, pilotar caças quando quiser, e fazer dancinhas de gordo careca quando quiser. Se antes era preciso ser levado a sério, agora ele pode ser tudo: ícone de ação, símbolo de nostalgia, meme, e comediante. Sem esquecer, falando de “Trovão”, que o ator também está trabalhando na continuação do drama de 1990, Dias de Trovão (o filme onde conheceu Nicole Kidman). Na falta de novos, apenas lendas como ele tem um acervo tão significativo para poder voltar sem se repetir.
A pergunta que sobra: quem é mais icônico na carreira de Tom Cruise, Maverick ou Ethan Hunt? Depende da geração. Para quem cresceu nos anos 80, Maverick é o símbolo da rebeldia testosterônica estilizada pelo Ray-Ban espelhado. Para os millennials e geração Z, Cruise é Ethan Hunt — o homem que pula do prédio, pendura-se no avião e não erra nunca. Mas talvez o verdadeiro ícone seja o próprio Tom Cruise: a figura que atravessa décadas com uma intensidade quase sobre-humana, adaptando seus papéis com a mesma precisão com que executa uma cena de ação.
Se Top Gun 3 for mesmo sua nova prioridade, é sinal de que o ator está apostando não apenas em bilheteria, mas em legado. E, ao que tudo indica, o céu não é o limite — é só o começo.
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