Angelina Jolie completa 50 anos no dia 4 de junho de 2025 — e a data convida a revisar sua trajetória ímpar em Hollywood. Porque não se trata apenas de celebrar o marco de uma estrela de cinema: é o percurso intenso de uma mulher que ajudou a moldar o imaginário contemporâneo com talento, presença e propósito. Jolie foi muito além dos sets de filmagem: virou símbolo de uma era em que as celebridades deixaram de ser só ícones de estilo e passaram a ocupar espaços de liderança em debates globais. Sua história é feita de contrastes fortes: entre o glamour de Hollywood e a poeira dos campos de refugiados, entre papéis desafiadores nas telas e dores íntimas fora delas, entre o apetite da mídia por sua imagem e a tentativa constante de preservar um mínimo de inteireza pessoal no meio do turbilhão.

Nascida em Los Angeles, em 1975, filha do consagrado ator Jon Voight e da atriz Marcheline Bertrand, Angelina Jolie Voight cresceu entre os holofotes e os traumas silenciosos da separação de seus pais. A ausência paterna e a fragilidade emocional da mãe, somadas à pressão de um ambiente familiar imerso na indústria cinematográfica, marcaram profundamente sua juventude. Ainda na adolescência, enfrentou transtornos alimentares, automutilação, uso de drogas e uma busca quase obsessiva por identidade — temas que, mais tarde, abordaria com franqueza em entrevistas e discursos públicos.
A carreira de Jolie começou nos anos 90, com filmes que não necessariamente apontavam para o sucesso que viria. No entanto, em Garota, Interrompida (1999), ao interpretar a perturbadora Lisa Rowe, ela revelou uma potência dramática que não podia mais ser ignorada. O Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante foi apenas a consagração de um talento bruto que, finalmente, ganhava forma. Nos anos seguintes, seu nome se tornou sinônimo de presença de tela, sensualidade e intensidade, em uma sequência de papéis icônicos que iam desde a aventureira Lara Croft, símbolo pop do início dos anos 2000, até personagens mais densos como em A Troca (2008), dirigido por Clint Eastwood, que lhe rendeu outra indicação ao Oscar.


Mas talvez o que distingue Jolie de outras atrizes da sua geração é o modo como ela expandiu sua atuação para além das câmeras. Ainda no auge de sua fama, ao invés de se acomodar no sucesso de bilheterias como Sr. & Sra. Smith (2005) e O Procurado (2008), ela começou a viajar como embaixadora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Visitou zonas de guerra, campos de deslocados e regiões marcadas por crises humanitárias, do Sudão ao Afeganistão. Mais do que uma figura simbólica, Angelina se envolveu ativamente na formulação de políticas públicas, participou de encontros com chefes de Estado e fundou, com Brad Pitt, a Fundação Jolie-Pitt, que investe em causas como a educação de meninas, a prevenção de violência sexual em zonas de guerra e a proteção de populações vulneráveis.
Jolie também se reinventou como cineasta. Sua estreia na direção, com Na Terra de Amor e Ódio (2011), trouxe à tona o conflito na Bósnia nos anos 90, com uma abordagem crua e sensível. Em Invencível (2014), seu olhar se voltou para a vida de Louis Zamperini, atleta olímpico e sobrevivente de um campo de prisioneiros japonês. Embora nem todos os seus trabalhos como diretora tenham sido unanimidade crítica, eles demonstram uma preocupação constante em dar voz às histórias humanas silenciadas pela história oficial.


Sua vida pessoal, acompanhada com avidez pela mídia, não pode ser dissociada de sua imagem pública. Os relacionamentos com Jonny Lee Miller, Billy Bob Thornton e, principalmente, com Brad Pitt, com quem teve seis filhos — três biológicos e três adotados em diferentes países —, foram frequentemente expostos. No entanto, mesmo nesse ambiente de constante vigilância, Jolie buscou usar sua plataforma para discutir temas como maternidade, adoção, saúde feminina e empoderamento. A decisão de se submeter a uma mastectomia dupla preventiva, em 2013, por conta de uma predisposição genética ao câncer de mama, foi acompanhada de um artigo pessoal no The New York Times, que gerou um impacto global ao incentivar mulheres a considerarem medidas proativas em relação à própria saúde.
A separação de Brad Pitt em 2016 e a subsequente disputa pela guarda dos filhos expuseram novamente a dificuldade de conciliar vida pública e privada, fama e maternidade. Ainda assim, Jolie se manteve firme em sua dedicação à família. Nos últimos anos, tem sido vista com frequência ao lado dos filhos em eventos internacionais, reforçando o papel de matriarca e modelo para a nova geração.


Em 2024, Jolie voltou às manchetes pelo seu trabalho em Maria, onde interpreta a lendária soprano Maria Callas. Dirigido por Pablo Larraín, o filme foi aclamado no Festival de Veneza, sendo descrito como uma de suas atuações mais sensíveis e contidas. A escolha de interpretar Callas, uma mulher poderosa e ao mesmo tempo tragicamente frágil, ecoa aspectos da própria vida de Jolie — a artista cuja voz precisa ser ouvida mesmo quando a dor tenta silenciá-la.
Às vésperas de seus 50 anos, Jolie declarou em entrevista recente que enxerga o envelhecimento como um privilégio. “Eu perdi minha mãe muito cedo. Cada ano vivido é uma dádiva”, disse. A fala é especialmente comovente vinda de alguém que, durante décadas, foi vista como o arquétipo da beleza intocável. Hoje, ela se recusa a esconder as marcas do tempo, demonstrando uma nova forma de força: aquela que vem da aceitação, do equilíbrio, da serenidade.

Angelina Jolie chega aos 50 não apenas como uma atriz premiada, uma cineasta inquieta ou uma ativista engajada — mas como um símbolo complexo de uma feminilidade que não se dobra às convenções. Sua vida, marcada por altos e baixos, é um testemunho do poder de reinvenção e da coragem de se vulnerabilizar sem perder o foco em causas maiores do que si mesma.
Se há algo que define Jolie, é sua capacidade de existir em múltiplas camadas: musa, mãe, militante, artista. E ao completar meio século de vida, seu legado está longe de se encerrar — ele apenas se transforma, como ela própria, com profundidade, elegância e propósito.
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