Explore a Gilded Age: Mansões de Nova York

Faltam apenas três domingos e voltaremos ao tempo por apenas 8 semanas. Isso mesmo, no dia 29 de junho The Gilded Age volta ao ar, com a incerteza se essa será a última temporada. Se você pode viajar e visitar Nova York, tem a oportunidade de visitar alguns dos locais citados na séria da HBO Max.

Muitas das cenas são em estúdio ou fora da cidade, mas há muito o que ver porque poucas cidades do mundo preservam tão vivamente os vestígios da riqueza extrema e da desigualdade abismal da chamada Era Dourada quanto Nova York. Foi entre as décadas de 1870 e 1900 que surgiram os impérios pessoais de figuras como Cornelius Vanderbilt, Andrew Carnegie e J.P. Morgan — homens que moldaram a paisagem econômica, cultural e arquitetônica dos Estados Unidos. Suas mansões, projetadas para rivalizar com os palácios europeus, ainda hoje fascinam por sua beleza, opulência e poder simbólico.

Este guia apresenta as principais residências da Gilded Age que você pode visitar em Nova York, contextualizando sua história e legado, com sugestões de passeios e curiosidades de bastidores.

The Frick Collection

Curiosamente nem Henry Clay Frick ou Andrew Carnegie foram retratados em The Gilded Age e sem dúvida teriam intereação com George Russell. Tudo bem, ainda são fontes para a personagem.

A casa de Frick é um dos segredos para aqueles que amam visitar Nova York. A coleção do museu é linda, mas o que sempre tirou o meu fôlego foi mesmo a casa. Henry Clay Frick foi um industrial do aço e banqueiro associado a Andrew Carnegie — e talvez um dos homens mais temidos de sua época. Envolvido em episódios controversos como o Massacre de Homestead, Frick era o retrato do “self-made man” impiedoso da Era Dourada. Mas também foi um patrono das artes com um olhar preciso. Quando encomendou sua mansão na 5ª Avenida (projetada por Thomas Hastings), ele já planejava que sua casa se tornasse um museu após sua morte.

Frick viveu ali apenas alguns anos, de 1914 até 1919, mas o espaço foi preservado exatamente como ele queria: salões silenciosos, paredes forradas de tapeçarias e quadros, tudo emoldurado pelo requinte europeu que tanto admirava. O museu passou por uma longa reforma e foi reaberto em 2024, com seu acervo original reexposto nos espaços históricos. É uma experiência íntima, quase reverente.

Site: frick.org

The Morgan Library & Museum

J.P. Morgan não era apenas um banqueiro lendário — era também um colecionador obsessivo. Sua biblioteca começou como um anexo à sua casa, mas cresceu a ponto de se tornar uma instituição por si só. Projetada por Charles McKim (do célebre trio McKim, Mead & White), a Morgan Library é uma joia do neorrenascimento italiano, com painéis de nogueira, tetos pintados à mão e uma aura de catedral secular.

Morgan reunia livros raros, manuscritos iluminados, cartas de reis e cientistas, partituras autografadas por Beethoven e Mozart. Após sua morte, seu filho transformou a biblioteca em uma instituição pública — uma transição que reflete, em parte, a pressão que esses magnatas sofreram para “legitimar” sua riqueza por meio de doações culturais. Hoje, o museu oferece exposições temporárias sofisticadas e visitas guiadas aos espaços históricos da casa.

Site: themorgan.org

The Vanderbilt Mansion


Localizado em Hyde Park, fora de Manhattan, o palácio de Frederick Vanderbilt é puro Beaux-Arts: simetria, colunas monumentais e salões revestidos de mármore e seda. São mais de 130 cômodos cercados por jardins em terraços e uma vista impressionante para o rio Hudson. Entre todas as casas dos Vanderbilt, esta talvez seja a mais acessível para entender a escala dos sonhos (e vaidades) da família.

Parte do National Park Service. Oferece visitas guiadas à casa e aos jardins. nps.gov/vama

Roosevelt House


Em plena Upper East Side, o casarão foi um presente da mãe de Franklin Delano Roosevelt quando ele se casou com Eleanor. Ali nasceram as primeiras ideias de política pública que o levariam à presidência e moldariam os EUA durante o New Deal. Hoje, o espaço pertence ao Hunter College e abriga um instituto de políticas públicas. Um lembrete de que nem toda herança da Era Dourada foi apenas estética — algumas ideias, ali, mudaram o século XX.

Tour sob agendamento. roosevelthouse.hunter.cuny.edu

Payne Whitney Mansion


Talvez a mais discreta das grandes casas da Fifth Avenue, hoje é sede dos serviços culturais da Embaixada da França. Os detalhes internos ainda impressionam: colunas em mármore, móveis entalhados, grades em bronze. A casa sobreviveu como símbolo de um tempo em que a riqueza era exibida com um tipo de teatralidade quase barroca.

Acesso parcial. Abriga o Albertine Books e eventos culturais da Embaixada da França. albertine.com

Neue Galerie


Construída em 1914 para William Starr Miller, um magnata industrial, a casa que hoje é uma das galerias mais interessantes de Manhattan foi projetada por Carrère & Hastings (os mesmos da Frick Collection e da New York Public Library). O edifício em estilo Beaux-Arts foi restaurado por Ronald Lauder para abrigar a Neue Galerie, dedicada à arte alemã e austríaca. Além da icônica pintura “Adele Bloch-Bauer I” de Gustav Klimt, o museu oferece uma imersão visual e histórica em uma estética paralela à Era Dourada: a Viena da virada do século.

Site: neuegalerie.org

Dakota Building

O Dakota Building é um dos marcos arquitetônicos mais emblemáticos da Gilded Age em Nova York. Inaugurado em 1884, ele foi construído por Edward Clark, sócio de Isaac Singer (da famosa máquina de costura Singer), que usou parte da fortuna acumulada na indústria para investir em imóveis de luxo.

Na época, a ideia de viver em apartamentos era considerada pouco refinada pela elite nova-iorquina — a aristocracia preferia mansões. Mas o Dakota rompeu essa lógica. Concebido como um edifício residencial de altíssimo padrão, ele apresentava o conforto de uma casa unifamiliar em versão vertical: pé-direito altíssimo, pisos em madeira nobre, salões com lareiras esculpidas, grandes janelas com vista para o Central Park.

O estilo é renascentista alemão com elementos góticos, uma escolha que evocava solidez, tradição e distinção — e, de certo modo, também ironizava a modernidade caótica que começava a tomar a cidade.

Na década de 1880, a região ao redor do Dakota ainda era relativamente remota e subdesenvolvida — por isso há uma teoria de que o nome “Dakota” foi escolhido em alusão ao então longínquo Território de Dakota (antes de se tornar os estados de Dakota do Norte e do Sul). Isso só reforça a ousadia do projeto: antecipar o crescimento da cidade e instalar luxo onde antes havia lama.

Décadas depois, o edifício se tornaria ainda mais célebre por ter sido o lar de celebridades como Lauren Bacall, Leonard Bernstein e, claro, John Lennon, assassinado em frente ao prédio em 1980. O Dakota também é famoso por sua aura de mistério — serviu como inspiração para o filme O Bebê de Rosemary (1968), cuja fachada foi usada nas filmagens.

Hoje, o Dakota continua sendo uma das residências mais exclusivas de Manhattan. Mais do que isso: é uma cápsula do tempo, preservando a atmosfera, o espírito e a estética de uma era em que a elite nova-iorquina começava a explorar outras formas de ostentar — e, ao mesmo tempo, proteger — sua riqueza. Não é aberto para visitas, mas vale a pena contemplá-lo do lado de fora.

Jardim Botânico

Entre os monumentos vivos da era dourada de Nova York está o Jardim Botânico de Nova York, no Bronx. Fundado em 1891, em pleno fim da Gilded Age, o jardim foi concebido como um espaço de ciência, lazer e prestígio cultural, inspirado no Royal Botanic Gardens de Kew, em Londres. A criação do NYBG foi possível graças a doações de famílias endinheiradas da época, como os Lorillard (magnatas do tabaco) e os Belmont, que viam no apoio à botânica uma forma refinada de filantropia e um símbolo de status. O Conservatório Haupt, uma estufa de ferro e vidro em estilo vitoriano, foi projetado pelo escritório Lord & Burnham — o mesmo que assinou estruturas em Palm House, no Brooklyn Botanic Garden e no próprio Kew Gardens, estabelecendo um elo transatlântico entre jardins da elite.

Na série, foi cenário do constrangedor pedido de casamento de Marian Brooks.

O jardim ocupa 250 acres e abriga florestas nativas, coleções de plantas medicinais, um jardim japonês, uma biblioteca botânica e exposições temporárias. A paisagem foi desenhada por Calvert Vaux, o mesmo arquiteto do Central Park. Visitar o NYBG é entrar numa cápsula do tempo verde, onde a ambição da Gilded Age se manifesta não em mármore e ouro, mas em orquídeas, carvalhos e trilhas sinuosas.

Site: https://www.nybg.org/visit/admission/

The Metropolitan Museum of Art

Fundado em 1870, com doações generosas das famílias Morgan, Frick, Astor e outros, o Met é uma verdadeira catedral da cultura. Sua sede atual em frente ao Central Park foi construída em 1880 e expandida desde então, mantendo a fachada Beaux-Arts como marca registrada. É um dos maiores museus do mundo e pode (e deve) ser visitado — inclusive em tours noturnos.

Site: metmuseum.org

New York Public Library

A NYPL foi oficialmente fundada em 1895, na transição entre o fim da Gilded Age e o início do século 20, a partir da fusão de três bibliotecas já existentes:

  • Astor Library (fundada em 1849 por John Jacob Astor)
  • Lenox Library (criada em 1870 por James Lenox)
  • Tilden Trust (instituído a partir da herança de Samuel J. Tilden)

Esses três homens eram produtos típicos da era dourada: magnatas, colecionadores e filantropos que viam a cultura como forma de afirmação moral e prestígio social.

A construção da sede principal, na 5ª Avenida, começou em 1897 e levou mais de uma década — foi inaugurada em 1911. Ela representa a última grande expressão do espírito da Gilded Age, já sob o impulso progressista do novo século.

O edifício é um marco do estilo Beaux-Arts, com colunas coríntias, escadarias monumentais e as famosas esculturas dos leões “Patience” e “Fortitude”. O interior é ainda mais impressionante: lustres de cristal, tetos pintados, madeiras nobres, e a emblemática Rose Main Reading Room, com mais de 90 metros de comprimento.

Carnegie Hall

O Carnegie Hall é um monumento incontornável da Gilded Age — tanto na história cultural de Nova York quanto na própria biografia de Andrew Carnegie, um dos magnatas mais emblemáticos daquele período.

Inaugurado em 1891, o Carnegie Hall foi idealizado e financiado por Andrew Carnegie, o magnata do aço que se tornaria o maior filantropo da sua época. A construção começou em 1890 e foi concluída em apenas um ano, com projeto do arquiteto William Burnet Tuthill e supervisão da esposa de Carnegie, Louise, que o incentivou a dedicar parte de sua fortuna à cultura e à educação.

O hall foi concebido como um templo da música clássica e logo se tornou um dos palcos mais prestigiados do mundo, recebendo desde o início grandes nomes como Tchaikovsky, que regeu a abertura do teatro, e posteriormente artistas como Mahler, Horowitz, Maria Callas e The Beatles.

O edifício original — de tijolos vermelhos e detalhes renascentistas italianos — representava o espírito da Gilded Age em sua face mais nobre: o desejo de eternizar a riqueza por meio da arte. O palco principal, o Stern Auditorium / Perelman Stage, é conhecido por sua acústica lendária. Nos andares superiores, surgiram posteriormente salas de ensaio e espaços de formação para jovens músicos, em consonância com a crença de Carnegie na mobilidade social pelo mérito.

Ao lado da Biblioteca Pública e do Metropolitan Museum, o Carnegie Hall é parte de um triângulo simbólico que representa o modo como os titãs da Gilded Age tentaram lavar a alma de sua fortuna com gestos grandiosos de mecenato. Mas, ao contrário de muitos monumentos efêmeros do luxo da época, o Hall permanece vivo, pulsante, em constante uso, fiel ao seu propósito original: tornar a arte acessível e monumental.

Ainda hoje é possível assistir a concertos, fazer visitas guiadas e explorar os bastidores desse ícone cultural.

Site: https://www.carnegiehall.org/Visit


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