As regras da improvisação não são complexas: acreditar na história, nunca sair da personagem, sempre aceitar o que o parceiro diz e acrescentar a partir daí. Portanto a comédia Improvisação Perigosa (Deep Cover) é abraçar o absurdo até o fim e sem nenhuma pretensão que não seja nos divertir, alcança o objetivo.
É uma comédia policial absurda, mas com coração, e uma dose certa de caos bem-intencionado. O filme, cocriado por Colin Trevorrow, é um retorno às raízes indie do diretor, com direito a roteiro compartilhado com Derek Connolly e a dupla britânica Pin (Ben Ashenden e Alexander Owen), que aliás roubam a cena como dois policiais briguentos com energia de sketch da BBC.

A trama é deliciosamente improvável: três fracassados – uma atriz americana em crise (Bryce Dallas Howard), um ator metódico e absurdamente sério (Orlando Bloom em seu melhor papel em anos), e um cara de TI doce e esquisitinho (Nick Mohammed, de Ted Lasso) – são recrutados por um policial durão (Sean Bean) para se infiltrar numa quadrilha de drogas. Por que eles? Porque, segundo o detetive, policiais profissionais são fáceis demais de reconhecer. Eles aceitam.
É tudo uma grande brincadeira – e o filme sabe disso. Não tenta ser mais esperto do que é, nem fazer piada com a própria piada. E essa honestidade é um charme. Os personagens entram fundo no jogo da improvisação, o que dá um senso de coesão cômica até nos momentos mais nonsense – como quando precisam se livrar de um cadáver com uma serra elétrica ou ingerem substâncias variadas “pela missão”.
Bryce Dallas Howard está em sua performance mais simpática em muito tempo, e Nick Mohammed não estraga e Orlando Bloom, por sua vez, brinca com a própria persona com uma clareza e ironia que faz de tudo uma grande diversão. O trio principal tem química e ritmo – e isso vale ouro numa comédia.


Podemos lembrar que houve uma mini-reunião de Senhor dos Anéis com Sean Bean e Orlando Bloom? Ver “Legolas” e “Boromir” juntos por alguns segundos vale sempre para quem é geek at heart.
O filme começa como quem não quer nada, mas vai se construindo como uma colcha de retalhos de boas ideias, bons personagens e ótimos coadjuvantes. Paddy Considine e Ian McShane dão o tom sombrio necessário, mas sem apagar a luz do resto. Tudo é bobo? É. Mas o bobo é bem feito. E quando você ri junto, não precisa de mais explicação.
Deep Cover não revoluciona o gênero, mas também não precisa. É divertido, surpreende aqui e ali, e te deixa com a sensação de que o elenco inteiro se divertiu – e a gente também. Não é isso que a gente anda precisando?
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
