Tem algo de bonito — e também de muito divertido — em como o Brasil adotou Santo Antônio como o “santo casamenteiro”. Porque, entre nós, ele virou quase um cupido de festa junina: tá ali na quadrilha, no correio do amor, nos pedidos sussurrados entre um pãozinho bento e uma promessa desajeitada. Mas Santo Antônio é bem mais que isso. E talvez por isso mesmo ele seja tão querido.
Nascido em Lisboa no ano de 1195 (o aniversário de 830 anos é em agosto), com o nome de Fernando de Bulhões, Santo Antônio foi um frade franciscano de alma inquieta e coração imenso. Estudou profundamente as Escrituras, pregava com paixão e viveu com os pobres. Ganhou fama de milagreiro ainda em vida, mas era também um intelectual refinado — e talvez seja por isso que conquistou corações de todos os tipos: do povo mais simples aos teólogos mais exigentes. Quando morreu, em 13 de junho de 1231, aos 36 anos, já era considerado um santo por todos que o conheceram. O dia 13 de junho ficou então marcado como o seu dia — data da sua morte e também do início da sua lenda.
Franciscano, defensor dos injustiçados, grande orador, advogado das causas perdidas e dos corações quebrados, Santo Antônio foi o tipo de pessoa que a gente teria vontade de chamar pra conversar na cozinha enquanto corta uma cebola. Daqueles que escutam com atenção, aconselham com doçura e ainda te fazem rir de si mesma. Santo Antônio, dizem, é santo de escutar.

A fama de casamenteiro de Santo Antônio tem várias origens — históricas, lendárias e até um pouco engraçadas. Uma delas diz que era porque ele era conhecido por ajudar moças humildes a conseguirem o dote necessário para se casar, numa época em que isso era decisivo para o casamento. Há relatos de que ele doou dinheiro (ou até milagrosamente apareceu com moedas) para jovens sem recursos.
Já foi “pomovido” a milagreiro quando uma jovem desesperada por não conseguir marido teria rezado fervorosamente para Santo Antônio, deixando uma oração aos pés de sua imagem. Pouco tempo depois, encontrou um noivo. A partir daí, muita gente passou a fazer o mesmo — e até colocar a imagem de cabeça para baixo, como uma “chantagem amorosa” para conseguir a graça, como mostrado em A Marvada Carne.
E num twist moderno, dizem que ele intercede para restaurar casamentos em crise, ou unir casais separados. Ele passou a ser visto não só como o santo que arranja casamento, mas que também protege e fortalece os relacionamentos. Ou seja, com o tempo, ele se tornou uma espécie de “padrinho dos corações esperançosos” — especialmente durante o mês de junho, mês tradicional dos casamentos e das festas juninas, que também celebram São João e São Pedro.
E se é verdade que virou símbolo de casamentos, talvez seja justamente porque sabia falar de amor sem receita pronta. Talvez por isso ele seja tão requisitado nessa época. Porque, no fundo, mesmo quem não quer casar às pressas, quer ser lembrado, querido, encontrado. A gente quer sorte no amor, sim, mas também quer paz no coração.
E Santo Antônio, com seu jeitinho silencioso e determinado, parece dizer: “Vai dar certo. Do seu jeito. No seu tempo.”
Que assim seja. E, se não for pra casar, que seja pra rir. Porque, como já dizia minha avó, “Santo Antônio ajuda, mas você também tem que levantar da cama e ir dançar quadrilha.”
Amém. Ou melhor: arrasta-pé.
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