Slow Horses ganhou destaque aos poucos, mesmo que para quem curte a série desde a 1ª temporada, soubesse o quanto é boa. A produção tem muitos livros para manter a série por anos, e espertamente, grava sempre de duas em duas temporadas. Isso quer dizer que SIM, já temos uma pronta e que em setembro estará na plataforma da Apple TV+.
Ao longo das quatro primeiras fases, já acompanhamos muitas mudanças de personagens, além de termos perdido alguns no caminho. A grande virada para River Cartwright (Jack Lowden) não foi de ter ido parar na Slough House, mas a descoberta de que seu pai, Frank Harkness (Hugo Weaving) era um monstro terrorista doentio. Algo que ainda virá assombrá-lo.


Outro tema a ser explorado é que, com a demência avançada de seu avô, David Cartwright (Jonathan Pryce), muitos segredos da guerra fria e de decisões complexas ainda estão por virem à tona, algo que até o momento apenas Jackson Lamb (Sir Gary Oldman) tem noção. Ao mesmo tempo, o mundo não pára e terroristas e políticos querem destruir o mundo.
Se você não se incomoda com Spoilers, vamos avaliar o que vem por aí, uma vez que a temporada vai adaptar London Rules, o quinto livro da série Slough House de Mick Herron. É um thriller que mistura atentados terroristas, intrigas políticas, e a já clássica mistura de humor negro e melancolia que caracteriza os “slow horses”.
London Rules — Todos os segredos de um jogo sujo
Os slow horses ainda são os párias do MI5 — agentes relegados a tarefas inúteis após falharem em campo. Jackson Lamb continua liderando essa equipe desajustada com cinismo, flatulências e um instinto assassino afiado. E embora eles sejam desprezados por todos, são os únicos que conseguem farejar a podridão onde ela realmente está.
O livro começa com um atentado em Derbyshire: um motorista de caminhão atropela e mata várias pessoas em um mercado rural. Logo depois, um imã muçulmano popular é assassinado a tiros. A escalada de violência sugere um padrão de ataques terroristas coordenados, o que desperta o MI5 e a opinião pública.
Mas como sempre no mundo de Mick Herron, nada é o que parece.

Roddy Ho e a mulher misteriosa
No meio desse caos, o agente de TI Roddy Ho aparece com uma “namorada perfeita”, Leila, uma mulher glamorosa e fora de sua liga. Os outros slow horses imediatamente desconfiam. E com razão: Leila está ligada ao grupo terrorista armado Sons of Albion, que planeja usar Roddy como isca para acessar os sistemas de segurança do MI5.
Mas não é só isso: Roddy foi escolhido a dedo não por acaso, mas porque é considerado um elo fraco e porque, ao longo da série, todos o subestimam. Isso se torna crucial para os planos do inimigo.
Ao mesmo tempo, o governo britânico (em especial o First Desk, Claude Whelan) está sendo pressionado por ataques que parecem ter motivações políticas, raciais e religiosas — uma bomba perfeita para instabilidade social. Mas o verdadeiro cérebro por trás das ações é Peter Judd, político de extrema-direita que já apareceu em livros anteriores. Judd está manobrando para usar o caos como plataforma de poder — e conta com agentes externos para alimentar esse clima de medo. O objetivo é desestabilizar, criar pânico e provocar uma reação autoritária.

O que os slow horses fazem?
Louisa Guy (Rosalind Eleazar) desconfia das ligações de Leila e começa a investigá-la por conta própria, colocando-se em rota de colisão com os planos do MI5 oficial — que está mais preocupado em proteger a si mesmo do que em impedir mortes.
Enquanto isso, Jackson Lamb percebe que os atentados são uma cortina de fumaça para um golpe maior: destruir a reputação do MI5 e instalar um novo regime político mais populista e autoritário.
Lamb joga um jogo duplo: permite que os terroristas acreditem que estão vencendo enquanto planta pistas falsas e prepara o contra-ataque — e como sempre, faz isso usando as peças mais improváveis do tabuleiro.
No clímax do livro, ocorre um ataque direto ao MI5: uma tentativa de assassinato do próprio Claude Whelan, que sobrevive por pouco. Os slow horses, agindo à margem do comando oficial, desmantelam parte da conspiração, expõem a traição de Leila e impedem que os Sons of Albion usem Roddy para causar mais estragos.
Jackson Lamb, como sempre, manipula o cenário a seu favor — inclusive usando chantagem para manter sua equipe viva e o status quo instável que o protege.

Roddy Ho, por incrível que pareça, é o centro da trama. Embora continue insuportável, sua vulnerabilidade mostra como até o mais inútil pode ser útil — ou perigoso. Já Louisa Guy, ainda em luto pela morte de Min Harper, mostra mais autonomia e foco.
Shirley Dander segue impulsiva, agressiva, mas essencial em momentos de ação; Jackson Lamb está cada vez mais complexo. Por baixo da grosseria, há um cérebro estratégico implacável — e talvez um senso de justiça distorcido, mas presente. E, Claude Whelan e Diana Taverner, seguem no MI5 “real” que vive às voltas com sabotagens, vazamentos e brigas internas. Diana, sempre manipuladora, se destaca por agir pelas sombras.
E River?
Bom, ainda sob os efeitos do trauma, das consequências das temporadas anteriores, e tecnicamente vinculado ao Slough House, River está mais isolado emocionalmente do que nunca, especialmente sob a sombra de seu pai biológico, Frank Harkness. Embora ainda fora de cena, Frank é mencionado em termos cada vez mais inquietantes porque não é apenas um ex-agente — ele é uma lenda negra dentro da espionagem britânica, envolvido em ações ilegais, assassinatos e traições. Sua ligação com River é uma ferida mal fechada, e todos sabem que, se ele retornar, será para destruir algo.
O envolvimento de River com os eventos de London Rules tem, portanto, uma camada pessoal porque ele tenta impedir que mais sangue inocente seja derramado, mas também tenta afastar-se do legado que seu pai deixou — e que, talvez, carregue nos próprios instintos.
Outro ponto-chave é a lenta deterioração de David Cartwright. Um ex-agente brilhante, conhecido como “King of the Castle”, David está cada vez mais confuso, paranoico e vulnerável. Ele começa a ter lapsos de memória e desconfia que o MI5 está tentando eliminá-lo — e, para ser justo, não está completamente errado.

David guarda segredos que podem incriminar gente grande — inclusive, talvez, o próprio Frank Harkness. A ameaça que representa, mesmo em seu estado senil, o transforma num alvo silencioso dentro do Regent’s Park. O perigo real, porém, é que David ainda sabe como manipular o sistema — e pode fazer isso por impulso, vingança ou puro instinto.
River tenta protegê-lo, mas percebe que não é mais possível distinguir se seu avô está mesmo senil ou apenas encenando. O elo de confiança entre eles, já frágil, começa a ruir. A tragédia da linhagem Cartwright é que todos os homens dessa família parecem se tornar irrelevantes ou perigosos com o tempo — e River teme seguir o mesmo caminho.
Assim, a temporada vai explorar temas importantes como fake news e paranoia, uma vez que os atentados são organizados para parecerem obra de terroristas islâmicos, mas são criados internamente — uma crítica direta ao uso do medo como arma política; manipulação da opinião pública quando Peter Judd tenta capitalizar o caos para se tornar Primeiro-Ministro, e o MI5 precisa decidir entre manter a ordem ou defender sua própria imagem; também aborda a moral ambígua do serviço secreto onde, mais uma vez, Herron mostra que o MI5 mente, manipula, abandona seus próprios agentes — e que talvez só os párias (os “slow horses”) tenham alguma bússola moral.

London Rules mantém o tom ácido, envolvente e surpreendentemente emotivo da série, com um estudo de personagens falhos e uma sátira feroz das instituições britânicas. Tudo com um humor sombrio e inteligente que desafia o leitor a rir mesmo quando a situação é desesperadora.
Mais do que uma investigação sobre atentados, é uma radiografia de um país à beira do colapso — e um lembrete de que, em Londres, as regras são feitas para serem quebradas… ou ignoradas completamente.
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